spoiler visualizarDiogo Hilário 03/02/2021
O principal problema do livro é ser arrastado, o enredo demora a se desenvolver enquanto, em muitas vezes, são narradas coisas que não parecem ter tanta relevância. É claro que existe um processo complexo e longo ao qual a vítima é submetido até racionalizar as nuances de um relacionamento abusivo, mas, mesmo assim, acho que a história poderia ter sido condensada. Até porque se pretende ser (ou, ao menos, ter alguns elementos de) thriller, o que exigiria contínuos momentos de suspense para cativar a atenção do leitor. Pensei em largar pela metade, mas a quallidade de escrita e metalinguagem me envolveram suficientemente.
Já esperava que não teria nada demais no desfecho. Por um momento, cogitei que Delphine morreria e L. era quem estava narrando o tempo todo, incorporando definitivamente a identidade da primeira. O título reforçaria sua teoria de que uma história que se pretende basear em fatos chama mais a atenção do leitor e, também, tem a marca típica de L. no final do livro, um "FIM*", com asterisco: "Naquela noite, L. me revelou que nunca se privava de uma pequena vaidade quando trabalhava. Ao final de cada livro que escrevia para alguém, ela incluía a palavra FIM, seguida por uma estrela (um tipo de asterisco que não indicava nada). Exigia por contrato que aquela assinatura aparecesse no fim do livro. Era sua pegada, sua marca de fábrica, uma espécie de digital conhecida apenas por ela" (p. 152).
No entanto, a principal dúvida que fica pendente, e que envolve o título, me pareceu ser a existência ou não de L., o que penso não ser tão relevante, já que Delphine não se prende a um vínculo absoluto com a realidade. O triunfo do livro é tratar de uma história que diz sobre sua própria construção, uma alegoria de metaficção. Vários elementos são discutidos ao longo da obra, como o que é (e deveria ser) Literatura, sobre personagens, sobre a relevância não só das experiências e da imaginação, mas também da intertextualidade, uma forte presença na composição literária. L. representa o processo de criação de uma personagem, que está ali constantemente presente na autora, estimulando-a e/ou atormentando-a, até ser investigada e desenvolvida: "Com base em L, eu criaria uma personagem cuja complexidade e autenticidade seriam palpáveis" (p. 211).
Acho que a autora quis extender o livro para desenvolver aos poucos seu aspecto de thriller psicológico, mas falhou nesse aspecto. O mais interessante é lê-lo como uma reflexão sobre a criação literária, e não com apreensão sobre o que acontecerá aos personagens. Pra mim, poderia ter reduzido pela metade ou criado mecanismos melhores de suspense, de forma que todo capítulo cativasse nossa atenção.