Saleitura 27/09/2016
Olhos de Lobo, livro brasileiro escrito por Rosana Rios e publicado pela Farol Literário, é uma sequencia para o já resenhado aqui no Saleta por mim "Sangue de Lobo".
Por ser uma sequência, esta presente resenha obviamente terá spoilers, portanto, se se interessar por esta história, trate de ler o livro 1 primeiro.
Este livro tem início alguns anos depois do final do primeiro. Agora, Ana Cristina e Hector, já casados, vivem juntos em uma relação em constante crise, em especial devido à decisão da mulher de engravidar, contra a vontade do marido.
Hector teme que o fator L - ainda presente em seu sangue, mesmo depois da cura das transformações anos antes - possa ser passado para a criança. E isso causou certo conflito entre os dois.
Se nos afastarmos um pouco deste drama familiar, a história em si envolve mais uma misteriosa sequência de assassinatos, como no primeiro livro. E assim como na primeira obra, esta revesa entre relatar o presente (Onde acompanhamos o drama do casal, e as investigações dos assassinatos em série), e alguns momentos do passado (Onde acompanhamos diversas histórias envolvendo lobisomens, que se interligarão no futuro). Eu senti, no entanto, que o foco, em muitos momentos, voltou-se apenas para as histórias que se passavam no passado, o que, neste livro, foi um considerável ponto positivo.
Ao falar sobre este livro, sinto que estou praticamente repetindo o que disse na primeira resenha: Uma premissa ótima, com uma narrativa envolvente e detalhada, e uma notável pesquisa por parte da autora, o que adiciona grandemente à credibilidade do que está sendo dito no decorrer da trama. Tudo isso junto, teoricamente deveria criar o livro perfeito, no entanto, não foi isso o que aconteceu com Olhos de Lobo.
A história, mesmo bem narrada, não foi bem desenvolvida, e os "grandes mistérios" não foram assim tão difíceis de serem solucionados. A narrativa, repleta de clichês e com personagens mal desenvolvidos e que simplesmente não atraíram minha simpatia.
Resumidamente: Rosana Rios tem uma ótima história em mãos, e uma habilidade de escrita e de pesquisa muito grande, e no entanto não sabe aplicá-las em um livro de forma correta.
A utilização do elemento do conhecido conto da menina da capa vermelha, sua vó, e o Lobo Mal, foi extremamente inteligente, e aplicado no livro de maneira obscura e criativa. O conto dos irmãos Grimm, e os próprios irmãos, foram envolvidos na história de maneira habilidosa, e que adicionou algo a mais na já interessante premissa.
A falta de personagens femininas fortes, porém, foi novamente um ponto que me fez me sentir incomodada durante a leitura. Mesmo que um foco um pouco maior tenha sido dado às mulheres da história, elas continuam recebendo um posto inferior ao dos personagens masculinos, que possuem as personalidades mais fortes, as falas mais importantes, e - na maior parte do tempo - um ponto privilegiado sob os holofotes.
Foi visível na história o esforço da autora em criar personagens femininas com certa voz, e no entanto falhando. Mesmo que pudéssemos contar com Natália, a investigadora dos casos no presente, para ter uma certa voz e uma real importância na história; a personagem, que teoricamente seria a "mulher independente" do livro, quando colocada ao lado de personagens masculinos importantes na obra, momentaneamente adquiria uma personalidade apagada e sem sal. E aí vemos, além de um exemplo da falta de representatividade, um grande exemplo do mal desenvolvimento dos personagens, que mudam de personalidade repentinamente, de acordo com as necessidades daquela cena que estão vivendo no momento.
E, no entanto, mesmo com todas essas críticas que tenho a fazer quanto ao livro, eu não consigo me sentir mal sobre tê-lo lido. Sinto-me, na verdade, triste que uma criatividade tão grande, e uma narrativa tão habilidosa, tenham sido tão prejudicadas por uma simples fraqueza na hora de desenvolver personagens envolventes. Por isso, não consigo reduzir demais a minha classificação, que fica entre 3,5 e 4 estrelas.
A edição, feita pela Farol Literário, foi algo digno de ser comentado aqui. A identidade da edição do primeiro livro foi mantida, e no entanto, a capa de Olhos de Lobo, parece ter sido mais bem pensada. Com sua simplicidade, ela consegue passar o mistério e a identidade obscura da história com maestria.
Resenhado por Ana Carolina
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