Paula Manu 30/08/2016
Incipiens
Já haviam me dado a oportunidade de fazer as primeiras impressões dos cinco primeiros capítulos de Insipiens que conta a história de Alice, a órfã que em uma noite de fuga abri um livro misterioso e vai parar em um mundo mágico. Agora, eu tenho a chance de fazer a resenha do livro completo da autora Jessica do Nascimento. Então vamos começar.
Primeiramente vamos falar da capa do livro. É uma capa bonita, de bom gosto. É atrativa, e acredito que cumpre seu papel, como capa, de chamar a atenção do leitor. É um material de boa qualidade que conseguiu sobreviver, diga-se de passagem, dentro da minha mochila, o que já é um grande feito pra mim que sou estudante e mochila faz parte da minha vida.
Enfim...
Meus problemas se iniciam com a sinopse:
“Alice é abandonada e se torna órfã com poucos dias de vida. Seu único refúgio é a biblioteca da cidade e esse é o lugar que ela escolhe para ir na noite que foge do orfanato. Entre os livros ela acredita que está segura, entretanto ao abrir um é sugada para dentro da história. Entre dragões, fadas e elfos descobrirá toda a magia desse mundo. Porém, contos de fadas não são tão perfeitos como ela imaginava, Alice terá que encontrar forças para encarar um Rei tirano. Se transportar para essa história pode ser fascinante e perigoso.”
“Seu único refúgio era a biblioteca da cidade e é esse o lugar que ela escolhe pra ir na noite que foge”. Na história, a biblioteca parece um lugar escolhido a esmo depois de ela tentar encontrar seu amigo de infância do orfanato, e acabar se decepcionando no processo. A escolha da biblioteca não parece nada de especial, pra mim, ou pelo menos não é mostrado, no decorrer do primeiro capítulo, a importância desse lugar para Alice, a protagonista. Então, o local que ela escolhe pra ir não é a biblioteca, e sim o lugar onde Pedro, seu amigo de infância, está. A biblioteca estava no meio do caminho, simplesmente.
Eu já havia feito uma analise dos cinco primeiros capítulos, mas vale relembrar de que o fato de o primeiro capítulo ser corrido, pra mim, prejudica, quando eu não consigo criar empatia pela personagem principal, já que o background não foi bem explorado. Toda a história da órfã sofrida não me convenceu, e acredito que precisaria dos cinco capítulos para que essa parte fosse desenvolvida. Afinal isso é uma história de fantasia, e pressa pode se tornar uma grande inimiga.
Continuando pelo primeiro capítulo... Algo que me incomodou muito, na personagem, nas primeiras impressões, e descobri que no decorrer do livro que iria me deparar muito com isso, é a sensação de conformismo dela. Ela acorda trancada na biblioteca e paaaaa: não tenho mais o que fazer vou ler um livro, pois ela não tinha alternativa. Não a vi tentar nada. Pelo menos, na minha cidade, as bibliotecas tem vigias, e se fosse o caso de ter medo de ser pega e de algo pior vir daí, como voltar para o orfanato ou dar em polícia, eu acho que isso deveria ter sido mencionado e melhor trabalhado.
Ok. Alice está entre os livros, e se depara com um exemplar de nome misterioso. Abre e vai parar no mundo de Cank, e é aí que nossa aventura começa... Como eu já tinha dito antes, a autora tem uma escrita realmente promissora, sim. Ela sabe descrever detalhes, e em alguns momentos da história isso aparece, mas esse momento de amor pela escrita detalhista é totalmente prejudicado pelos problemas da revisão no livro. Erros ortográficos demais. Pra mim, um ou dois ou até três erros não me aborrecem tanto, só que no livro tinha muito mais que isso.
E não foram somente os erros ortográficos. Tivemos problemas na pontuação: Onde era pra ter ponto, tinha virgula, onde era pra ter vírgula, tinha ponto. Isso atrapalhou muito a leitura, porque por vezes me vi voltando no parágrafo ou na frase para saber se o que tinha lido estava certo mesmo, ou se era outra coisa. A fluidez ficou totalmente comprometida. E a leitura por vezes se tornou cansativa.
Voltando à escrita da autora, sim ela é detalhista, porém, todavia, entretanto, no decorrer da história a falta de sinônimos me incomodou, e muito. As palavras se repetem demais, numa mesma folha, num mesmo parágrafo e até numa frase:
“Encontrávamo-nos à porta do castelo, que era protegido por imensos muros de pedras, que aparentemente estavam firmadas naquele chão há anos. Um lago cercava o castelo e uma ponte levadiça permitia a entrada do castelo. Guardas em altas torres gritavam para que a ponte fosse abaixada. Entramos nas terras do castelo, que mais parecia outra pequena vila.”
“- Passou fome? Frio? – Ele me olhou no fundo dos olhos, com uma agonia gritante nos olhos.”
Todos eram sempre “irritados”. Para falar a verdade a palavra “irritado a\o” apareceu incontáveis vezes sem ser seguida por um sinônimo. Isso ficou tão perceptível que comecei a contá-las:
“- Pronto, menina? – perguntou ela irritada.
- Sim. – Respondi igualmente irritada.”
Se não eram as repetições eram as frases exageradamente adjetivadas. Com expressões como: as luzes tremulantes. Ou desejei febrilmente...
“(...) Que tentavam me tragar sedutoramente para fora de mim.”
Todo esse exagero me lembra um livro de romance de época... Não que fantasia não possa ter exagero, ou palavras rebuscadas, pode sim. Tudo dentro da moderação.
Falando em romance, vamos passar agora para os personagens.
Alice, a bruxa aprendiz. Victor o protegido do rei. Filipe o príncipe dos olhos azuis e Lucas o chato de galocha\ fiel escudeiro do príncipe.
Ao botar os pés em Cank, Alice se depara com a incógnita chamada Victor. O moreno perigoso de olhos verdes que parece enfeitiçá-la a cada olhada. Comandante da guarda do rei, o rapaz parece não ser flor que se cheire. Demoramos metade do livro, praticamente, apenas observando a interação desses dois. Sim, quase a metade, pra entender aonde isso ia chegar, porque o livro enrola nessa parte. A magia só é mencionada poucas vezes para nos lembrar que o livro é sobre fantasia. E Victor, que no começo parecia um ogro em forma de gente, assim que coloca os pés no castelo, depois de levar Alice como escrava dele, muda da água para o vinho.
Sim, é outra coisa incômoda, nos personagens. Eles são volúveis. Uma hora o que é mal, basta uma ação em um parágrafo, ele vira bom. A dona da taverna era má com a Alice, bastou defendê-la, deixou de ser tão má assim. Catarina a serviçal do castelo foi grosseira com Alice, demonstrou não gostar dela, mas depois já a defendia na cozinha. Todos parecem mudar de repente. São personagens inconstantes a meu ver.
Sem falar da principal. Uma hora está xingando o povo e quer bater, em outro momento odeia o jeito de todo mundo. Depois essa mesma galera que ela detestava o jeito, ela ta amando e agora são os melhores amigos do mundo, os únicos que ela tem na terra. E essas mudanças são direcionadas em sua maioria aos personagens, Victor, Filipe e Lucas.
“- Fique quietinha, você não está bem. – Meu protetor disse gentilmente.
- Não me toquem, nem um de vocês.”
...
“- Você é muito corajosa. – Olhei para Filipe. Tinha que dizer, ele era mimado e tudo o mais, e mandava em Lucas como se fosse o dono do mundo, mas era bom de um jeito que Victor não era.” – Como assim??? Tu foi envenenada, mana e o Victor cuidou de ti!!!
Uma coisa que me incomodou na Alice é: ela é bruxa sim, porém, nunca tocou em magia antes de ir para Cank. Mas toda vez que ela alegava não saber usar magia, sempre conseguia utilizá-la. Assim, no momento certo, na hora certa. Sem o mínimo de esforço descrito. Ela acha que não vai conseguir acender uma fogueira, diz que não vai conseguir, fecha os olhos pra se concentrar e paaah acende a fogueira. O poder dela tá sempre ali, a toda hora. Queria mais dificuldade com relação a isso. Um desafio maior. Acredito que o livro ficou muito focado na relação dela com o Victor, no começo, que quando magia era mencionada não ficou como um fator relevante ou verdadeiramente impressionante. A meu ver é uma personagem que não ficou muito desenvolvida, e por vezes se tornou irritante.
Victor. Ele é o típico mocinho bonito, grosseiro, cínico que toda mocinha rebelde ama odiar. Pra mim, dos quatro, ele é o mais interessante. O que passa mais credibilidade como personagem, embora em alguns momentos tenha atitudes que precisam ser trabalhadas, como quando ele descobre que Alice é uma bruxa. Ele se revolta, achando que foi traído, e já diz que vai entregá-la ao rei. Ele simplesmente volta e decide que vai protegê-la. Depois disso nenhuma palavra. Nem um comentário. Mesmo que ele a critique por usar seus poderes não houve nenhuma menção ao fato de: caramba, uma Bruxa! Todos pensavam que não existissem mais, e tem uma na minha frente. Pra mim faltou isso. Ele se torna muito condescendente depressa.
Filipe e Lucas pra mim são os menos interessantes. Filipe só é bonito e mimado, e parece só estar ali para fazer o papel do outro lado da moeda de Victor que é o mandão possessivo, e o príncipe é o galante, rapaz, charmoso. Se isso era para soar como um triângulo amoroso entre Filipe, Alice e Victor, não é crível, pois Filipe não tem personalidade para participar do triângulo. Só tá ali para nos dar a impressão que vai rolar um triângulo.
Lucas só é irritante, não acrescentando em nada na história, pra mim.
Embora eles sejam o quarteto principal do livro. Os heróis. Eles têm atitudes muito infantis, principalmente quando discutem:
“- Não pode – Disse Lucas me encarando finalmente.
- Sim, eu posso – retruquei furiosa.
- Não pode! – disse o ruivo sorrindo.
- EU-POSSO-SIM! – gritei a plenos pulmões.”
Pois bem, Alice quer voltar pra casa, e para isso os quatro seguem um mapa que vai levá-los à “bruxa dos desejos” Sim, outra bruxa, que todo mundo pensava ser uma lenda. Depois de vagar dias na floresta, pois o tempo passa realmente rápido na história, eles conseguem chegar onde a bruxa se esconde, com a ajuda de um amiguinho especial de Alice, um cavalo alado.
“- Assim como todos os outros que vieram até mim, acredito que tenham um desejo, cada um de vocês quer algo ardentemente. Mais do que a vida... – Ela me encarou. – Mais do que a morte. Porém todo desejo tem um preço e eu direi a cada um de vocês seu preço. Então me digam o que desejam.”
A bruxa chama Alice e diz que para realizar o desejo dela, ela teria que ir atrás das quatro pedras lendárias. A bruxa dá um mapa e lá vão os quatro atrás das pedras. Sim, sem contestar. Não existe nem mesmo uma discussão sobre isso, e eles vão.
O desafio do fogo passa num piscar de olhos. Quando você vê, já está indo atrás da segunda pedra. Acho que os desafios precisavam ser mais desenvolvidos. Algo bem maior do que foi mostrado e algo mais que um capítulo.
Outros detalhes também não passaram despercebidos ao meu olho enxerido que tudo vê, porém se fosse colocá-los aqui a resenha ficaria maior do que já está.
No mais, eu acredito que como um romance a história soube se virar bem, por vezes eu olhava Alice e Victor como um casal promissor e me lembrava da época em que eu lia aqueles clássicos históricos que todo mundo ama, porém, como fantasia deixou a desejar. Por vezes eu senti falta da magia. Da Alice como bruxa que não me convenceu. Queria que Filipe fosse mais que um rostinho bonito e por vezes quis que Lucas tivesse ficado com o Dragão na caverna. Por mais que os capítulos fossem rápidos, a história demora a chegar ao ponto principal, e não empolga durante a jornada, pois a transição entre cenas e o desleixo com a pontuação prejudicam bastante a leitura.
Eu espero muito que no livro dois tudo mude e as coisas melhorem, pois a escrita da autora tem potencial só precisa ser trabalhada. E a autora precisa realmente corrigir os erros de revisão que sei que estão além dela. Afinal o livro é como um filho, e você quer que dê tudo certo quando ele ganhe o mundo, por isso um trabalho de revisão é mais do que essencial para possibilitar isso.
Agradeço imensamente a oportunidade de resenhar a história. Não fiz como blogueira, quem dera eu tivesse tempo pra isso. Fiz como leitora e amante de bruxas que sou. Por tanto desejo mais do que boa sorte nessa empreitada da saga Insipiens.