Nath @biscoito.esperto 30/08/2017Li Garra por recomendação de um professor da faculdade. Estudo Letras e meu professor de Prática sempre nos trás textos interessantes para analisarmos, sendo estes sempre sobre docência, didática e filosofia da educação. Quando nos trouxe os primeiros capítulos de Garra para discutirmos em sala, percebi que a obra era bem diferente do que ele costumava trazer. Primeiro por que Garra não é estritamente ligado à educação, segundo por que o texto tem um caráter quase de auto-ajuda em alguns aspectos.
Garra é um termo que a autora deste livro usa para denominar a paixão e a perseverança necessários para se atingir objetivos de longuíssimo prazo. Ou seja, se você é capaz de se doar para uma atividade ou grupo de atividades e se esforçar muito para não só manter-se realizando-a, mas melhorando-a gradativamente ao longo do tempo, é por que você possui garra.
O termo em si é simples, as formas de atingir altos níveis de garra, nem tanto. Em seus 12 capítulos a autora apresenta a pesquisa que tem realizado há anos sobre como e por que as pessoas que obtiveram sucesso em suas carreiras e empreitadas chegaram onde estão e conta anedotas pessoais de dezenas de profissionais de diversas áreas (esporte, culinária, empreendedorismo, arte, docência, ciência, etc.). Os exemplos pessoais que ela dá em seu livro variam muito, com pessoas realizando toda uma sorte de atividades com motivações diferentes, de formas diferentes e para obter resultados diferentes. O que estas pessoas tem em comum é a garra que as leva a seguir adiante sempre buscando excelência em seus campos. Além de contar estas histórias, a autora divide conosco suas próprias ideias sobre como cultivar o espírito, a educação e a cultura para se atingir altos níveis de garra.
Após nos apresentar este texto o meu professor dividiu nossa sala em cinco grupos e deu um capítulo para cada grupo ler e apresentar na próxima aula, para debatermos juntos. Meu grupo ficou responsável pelo capítulo 2, mas achei sem noção ler um capítulo sem ler o anterior e acabei lendo os cinco capítulos. Confesso que, apesar de ter gostado da ideia inicial da autora, achei que seu ponto de vista tinha falhas e não hesitei em pontuar todas elas para meu professor quando chegou o momento do debate.
Antes de contar o que aconteceu, devo mencionar que esse professor é um professor com quem eu costumo discordar veementemente, mas talvez ele não saiba disso. Temos visões políticas quase opostas, às vezes ele expressa opiniões com as quais não concordo, mas isso não me impede de admirá-lo e estimá-lo como uma pessoa que sabe muito mais do que eu e tem muito mais experiência de mundo e de sala de aula em comparação a mim.
Acontece que meu professor ouviu o meu ponto de vista, analisou meus argumentos e... os aceitou. Simples assim. Foi capaz de deixar as diferenças de lado e se colocar no meu lugar. Sei que meu professor acredita na meritocracia, sei que ele é exigente com os filhos (como muita vezes divide histórias sobre como decidiu criá-los) e sei que é rigoroso em sala de aula com provas e trabalhos. A autora do livro louva tudo isso tanto como boa conduta para profissionais que queiram instigar garra nos seus pupilos tanto quanto "efeitos colaterais" de se ter garra. Eu critiquei o ponto de vista e disse por que ele não daria certo da mesma forma como ela explica no livro: dando um exemplo de uma pessoa real.
O que me surpreendeu na reação do meu professor foi que ele não tentou demonstrar que eu estava errada ou me corrigir em frente à turma. Pelo contrário: ele disse ter achado minha colocação muito pertinente, disse que a autora não abordava o meu ponto de vista em nenhum momento durante todo o livro (que na época eu ainda não o havia lido na íntegra) e que iríamos conversar mais sobre esse assunto posteriormente em aula. Depois disso, em outra ocasião, chegou e me dizer: "gosto de ouvir suas opiniões pois você sempre é crítica".
Naquele momento eu não sabia, mas agora que eu li o livro eu sei: meu professor estava instigando em mim a vontade de aprender mais sobre o assunto. Estava cultivando garra em mim. Inclusive usou um método e até vocabulário propostos pela autora no livro. Garra é o primeiro livro de não-ficção que leio em algum tempo, e confesso que achei a leitura revigorante. Não por que assino embaixo de tudo o que a autora propôs, mas por que o livro me desafiou intelectualmente. Meu professor sabia que estava nos instigando - a mim e a meus colegas de classe - quando nos apresentou o livro Garra. Quando me elogiou pelo meu espírito crítico e me encorajou a pensar ainda mais sobre o assunto, aplicou garra não só na vida dele, mas na minha. Por isso, obrigada, professor, por ter me apresentado esta obra.
Para mim, o primeiro passo para atingir o sucesso não é aprender tudo, mas questionar todas as coisas.
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