Paula 11/10/2017
Magnífico DANGEROCK
“...Percebi que o Felizes para Sempre era o hoje. Viver o dia presente ao lado da pessoa amada, fazendo aquilo que mais amamos. Viver com intensidade, esperança de que o hoje tenha sido muito mais excitante que o ontem. E o amanhã, mais do que hoje.” (Evie)
Mais uma vez um livro para minha lista de favoritos... Amo livros com astros de rock; esse universo tem um caráter de sedução tão intrínseco, emana uma atmosfera meio primitiva, não sei explicar... Dangerock mistura a sensualidade desse mundo do rock, com um quê de inocência, o que traz um diferencial a essa história que poderia tornar-se um clichê (mas passa longe disso, até porque é impossível a escrita da M.S.Fayes ser clichê!). Este antagonismo pode ser em função da história da banda desde sua constituição até o início da fama, especialmente se considerarmos todo o enredo sob o ponto de vista de Eve. Além disso, pode-se considerar o fato da sublimação de um amor adolescente até a fase adulta favorecer a aura de inocência que fica tão evidenciada no início da história...
Mas enfim, falemos de toda a trama que me conquistou de forma tão arrebatadora. M. S. Fayes nos apresenta uma banda formada por amigos que dividem um sonho; e a força dessa amizade faz com que o caminho trilhado seja mais fácil nessa estrada rumo à fama, sempre tão cheia de obstáculos, tentações e provações. Contudo, se fosse somente isso, seria mais tranquilo... O fato é que Evie, personagem principal e também vocalista da banda, é apaixonada por Brandon (suspiros e mais suspiros para esse maravilhoso “delícia”), seu amigo de infância e guitarrista do grupo, mas ele nem imagina todo sentimento que ela nutre, por tanto tempo e guardado a sete chaves.
Evie não me parece um estereótipo do mundo do rock... Extremamente jovem, vê-se numa carreira meteórica, que a assusta, mas ao mesmo tempo a encanta. Sua força dentro do grupo é mascarada pelo excesso de zelo dos seus amigos e companheiros de banda, que a respeitam e a sufocam com um comportamento superprotetor, blindando-a de praticamente tudo. Mas isso a incomoda, especialmente quando se refere a Brandon, com quem queria manter uma relação para além da amizade... Só que isso parecia um sonho, bem distante...
“Eu não sou uma estrela do rock. Eu sou uma cantora, que porventura ama o rock e se autointitula roqueira, mas ainda assim sou apenas eu. Apenas uma pessoa a mais nesse mar de cantores espalhados pelo país” (Evie).
Claro que o estilo de vida dos seus amigos e parceiros não favorecia a autoconfiança de Evie. Obrigada a viver, digamos, numa redoma, ela somente não era protegida de presenciar as aventuras de Brandon com outras mulheres; era obrigada a engolir e sofrer calada a maioria delas. Acredito que em função de todo esse sentimento suprimido, Evie acabou por tonar-se uma pessoa não tão consciente de sua beleza e imponência, não se enxergava como os outros a viam. E sempre era surpreendida quando se deparava com outra realidade.
“Você não se enxerga como nós a vemos. Você é pura, doce, rebelde ao mesmo tempo. Faz uma pose de durona, mas é completamente derretida e amável por dentro. Fora o fato que é linda e absurdamente sexy. Você é inteligente, talentosa, excepcional”. (Brandon).
Brandon por sua vez, tinha uma história de vida muito sofrida, cheia de perdas e, apesar disso, ainda era capaz de ver o lado bom da vida, de ver alegria nas coisas. Contudo, é possível que o sofrimento enfrentado por todos os anos, tenha blindado seu coração, impedindo que enxergasse pessoas que realmente o amam; entregando-se apenas a aventuras, somente pelo prazer sexual. Via em Evie uma irmã, tendo se forçado a isso na verdade, decidiu nunca olha-la com outros olhos, embora nem sempre conseguisse (disfarçando muito bem). Mesmo que ela acreditasse que a “paixonite” era uma via de mão única, Brandon sempre deu indícios quase imperceptíveis de que a recíproca poderia tornar-se verdadeira. Ele não se permitia nutrir nenhum sentimento como desejo e amor carnal por uma pessoa que cresceu como irmã por todo esse tempo.
“Brandon... não me machuque.” (Evie)
“Eu não vou te machucar mais, anjinho.” (Brandon)
A falta de reciprocidade do sentimento, associado à falta de liberdade e solidão que muitas vezes sentia, amplificou a sensação de aprisionamento, sufocando Evie de maneira tal, que despertou a necessidade de dar um grito de liberdade. A mudança brusca de comportamento dela gerou na banda um sentimento coletivo de desconforto e descrença. Especialmente em Brandon, ecoando nos seus ouvidos e, principalmente no coração, emergindo e libertando os fortes sentimentos que nem havia se dado conta que reprimia, mesmo que ainda confusos e incipientes, há tanto tempo sublimados. E é aí que o livro pega fogo....
“Talvez eu me sinta cansada de sempre estar sozinha” (Evie).
De um lado uma Evie liberta, vivendo a vida, entregando-se a experiências novas, rebelando-se contra comportamentos de excessiva proteção... De outro lado, Brandon, um homem desesperado pelo medo de perda iminente da amiga e mulher que não sabia amar tão intensamente (em minha opinião, recusava-se a aceitar esse amor). Esse grito de liberdade de Eve desperta em Brandon um sentimento que ele vinha tentando sublimar, despertou o seu lado primitivo, mas que ainda precisava compreender tudo que estava sentindo. Enquanto Brandon passa por esse processo de autoconhecimento e autoaceitação, muita coisa acontece no enredo...
“Você continua sendo um enigma lindo pra mim, Evie.” (Brandon).
“Aquela Evie nunca foi sua, porque você nunca quis. Então agora se acostume com esta Evie, que está na sua frente”. (Evie)
Ao se dar conta de tudo que podia estar perdendo, Brandon resolve correr atrás de tudo que deixou de viver com Evie. Brandon se sentiu ameaçado, quando, uma Evie mais madura e confiante, passou a despertar o interesse de outros homens, bem sucedidos e cheios de autoconfiança, e mais além disso, de haver a possibilidade de reciprocidade desse sentimento por ela. Em um momento de busca pela recuperação desse amor que temia haver perdido, Brandon é acometido por um desespero, emitindo comportamentos que quase levaram a um sério conflito na banda, com marcas difíceis de recuperar, especialmente no que tange à sua amada.
“Eu por acaso não valho a pena para ter alguém interessado em mim?” (Evie)
Em meio a tudo isso, o lado obscuro do mundo do Rock ameaça a inocência dessa banda, aproveitando o momento de vulnerabilidade de seus líderes. Influências negativas tentam corroer, inclusive, a solidez de uma amizade construída em meio a tantas dificuldades. Seria a banda e esse casal capaz de resistir a tanta dificuldade e a tantas seduções que o meio apresenta?
É aí que se mostra a grande versatilidade e criatividade da M. S. Fayes! Ao desenrolar o enredo de forma magnânima, faz com que os personagens amadureçam de acordo com a necessidade e com as exigências do mundo do Rock, mas sem perder a essência, sem ceder aos malefícios da carreira meteórica, e acima de tudo, sem macular uma amizade forte (que é a identidade dessa banda) e ainda, permitir a expressão e construção de uma linda história de amor.
“Alguém percebeu que eu cresci e que posso ser interessante.” (Evie).
O momento em que Brandon resolve assumir seu amor e, além disso, convencer Evie do que realmente sempre sentiu, é lindo de ler; é algo que arrancou uma quantidade imensurável de suspiros da pessoa que vos escreve. Ahhhh Brandon, isso não se faz com o coração desta pobre leitora. O momento da entrega, uma entrega mútua, faz com que percebamos o quão forte é a Evie, e o quão inocente pode ser Brandon. As provações enfrentadas fizeram com que ambos passassem por um processo de autoconhecimento. Evie percebeu que ela dependia somente dela para ser feliz, tornando-se mais forte e se responsabilizando por suas escolhas, e assim, ESCOLHENDO amar Brandon. Já ele, em todo este processo, mostra uma inocência e até certa fragilidade, pois ainda era inexperiente no que se refere ao amor.
“Eu te amo. Acho que jamais vou me cansar de agradecer pela oportunidade de você ter me permitido amá-la, Eve. E vou tentar nunca mais decepcionar você.” (Brandon).
“Você é minha, Evie. Minha” (Brandon).
Quando encontram o equilíbrio entre seus processos de crescimento pessoal e profissional, bem como a aceitação de uma série de fatores, entregam-se ao sentimento guardado, de uma forma tão sublime que nos encanta. Vemos o amadurecimento de um amor verdadeiro e arrebatador, mesmo em meio a tantos conflitos e dificuldades. Um amor sólido, mesmo com tão pouca idade do casal, mesmo com a inexperiência que é comum a ambos, ultrapassa qualquer intempérie para se fortalecer. É uma história que poderia ser mais do mesmo, mas passa longe disso, mostra-nos mais uma história marcante dessa autora sensacional e eclética. Sou fã e mais que recomendo. Ansiosa pelos próximos livros dessa série para poder viajar com essa banda dos sonhos.
“Se antes eu apenas amava com meu coração, agora eu amava com meu corpo e minha alma” (Evie).
“A diferença era que agora ele era completamente meu. Meu amigo, meu parceiro, meu amor. E não há sensação melhor do que aquela de pertencer.” (Evie)