Resenhas - Le paradigme perdu: la nature humaine

Filino 02/08/2016

Para uma "ciência nova"
Neste livro bastante didático e agradável, o prolífico e inteligentíssimo Edgar Morin provoca no leitor várias reflexões bastante inquietantes. De início, ele propõe que seja superada a visão tacanha que separa em campos absolutamente distintos a antropologia e a biologia. Uma vez ultrapassada essa divisão é que o pensamento do autor se desenvolve.

Em verdade, Morin não propõe algo de TÃO novidadeiro assim. Atualmente é o que chamaríamos de um saber "interdisciplinar", mas as reflexões que ele desenvolve não deixam de ser altamente pertinentes. A partir delas, o autor ressalta que uma investigação acerca do homem não pode se limitar àquilo que concebemos como "homo sapiens": devemos considerar, igualmente, o "homo demens" e o que a isso se relaciona (neurose, loucura, desordem, "ubris" [desmedida]). Afinal, o processo que culmina no advento da sociedade e que compõe a própria história é tecido, justamente, entre esses dois pólos.

Igualmente interessante é verificar, na primeira metade da obra, como Morin se serve de estudos com símios para verificar que, já nessas espécies, se encontram diversas características (como hierarquia grupal, linguagem) que, há não muito tempo, poderiam ser consideradas próprias do homem. Na esteira daquela primeira oposição (antropologia x biologia), propõe o autor, também, a superação da dualidade natureza x cultura.

Digno também de nota é a diferença que ele estabelece entre máquinas e vida. De acordo com o autor, aquilo que pudesse ser nocivo à primeira (como uma certa desordem, erro) pode, para a segunda, ser algo positivo - afinal, através de mutações, a mudança é assimilada e uma nova fora de vida, mais complexa, surgiria a partir daí. Muito interessante.

É uma obra que não oferece dificuldades de leitura e vale muito a pena.