Milena @albumdeleitura 21/06/2018
A Última Carta
O ano de 1912 marca o início da temporada londrina do século XIX e, consequentemente, o início da vida adulta de muitas jovens da aristocracia inglesa, acompanhado pela inauguração do navio mais espetacular e seguro construído pelo homem: o Titanic. Enquanto os homens estão eufóricos e deslumbrados com tamanho poderio naval, as mulheres estão ansiosas e preocupadas em encontrar um bom partido que garanta sua ascensão social.
Quem não se mostra nada animada com essa "caça desenfreada" por um marido, é Violet Bernadth, uma jovem de 18 anos que, assim como suas amigas, Joana e Cecília, está prestes a ser apresentada à sociedade londrina. Porém, casar não está entre os tópicos mais importantes da vida desta dama cheia de si que anseia por outros princípios e objetivos. Além disso, com a aproximação do casamento, o seu maior segredo poderia ser revelado.
Desde muito pequena, ela descobriu que era diferente: suas mãos eram capazes de, apenas com um toque, enxergar o passado ou ter acesso às memórias impregnadas em um objeto, e se esse estranho dom fosse revelado, seria muito difícil para ela se explicar diante da sociedade.
"Não sei o que tenho, nem por que acontece, apenas sinto. Sou assim desde que me lembro. No início, achei que à medida que eu crescesse, essa estranha habilidade desapareceria, mas, ao contrário do que pensei, as coisas só pioraram. Ou melhoraram? Não sei dizer."
Prestes a se comprometer com o belíssimo, porém, sarcástico e misterioso, Thomas Wycomb, filho de um engenheiro renomado, por quem nutriu certa antipatia logo à primeira vista, Violet se vê envolvida em um caso perigoso e intrigante: crianças estão aparecendo mortas, misteriosamente. E quanto mais ela investiga, mais teme que, de algum modo, o nome de sua família esteja envolvido no caso. Para completar, Thomas também esconde um segredo que deixou cicatrizes profundas em sua história, com as quais ele foi obrigado a conviver, apesar da dor. Agora, mesmo contragosto, os dois serão obrigados a unir forças e tentar desvendar os mistérios que os rodeiam e, entre tantas descobertas desagradáveis, eles encontram o amor.
Com um romance de época intrigante, incomum, bem estruturado, cheio de suspense e uma pitada de sobrenatural que tem como pano de fundo o trágico naufrágio do Titanic, Carla Laurentino desenvolve, com maestria, um enredo permeado por questões extremamente polêmicas e delicadas e critica todo o glamour da sociedade da época, marcada pelo puritanismo, porém, capaz de mascarar mentiras, assassinatos e um crime hediondo que todos compactuam e ninguém faz nada para impedir. No decorrer dos capítulos é possível que o leitor vá juntando pistas para tentar desvendar o mistério que envolve o passado da família de Violet e descobrir qual é a possível ligação com as crianças desaparecidas.
Todos os personagens são bem desenvolvidos, assim como o cenário e toda questão histórica envolvida. Sou apaixonada por narrativas que, de alguma maneira, me fazem pensar e refletir sobre as atitudes e suas consequências, além é claro, daquelas que me surpreendem de maneira tão positiva quanto A última carta foi capaz de fazer. A leitura é extremamente rápida, os capítulos são curtos e a diagramação, assim como a revisão e a capa, estão extremamente caprichadas e delicadas. Recomendadíssimo!
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