Brunna.Cassales 04/12/2009"Mirando o Preconceito"A adolescente Mira é uma estudante dedicada. Um exemplo para o irmão e os colegas de escola – pública e na periferia -, se esforça tanto que merece ter aulas extras com o seu engajado professor, Ricardo. Um dia, ela passa a precisar ser mais estudiosa ainda, porque Ricardo consegue uma bolsa de estudos na renomada escola particular onde trabalha, para a sua excelente aluna. Assim começa A Cor do Preconceito, um livro de ficção, mas que apresenta o racismo, o preconceito e a intolerância tais como realmente são.
O orgulho pela filha só aumenta para os pais da menina – vivendo uma situação econômica pobre, eles esperam que os filhos possam conquistar tudo aquilo que não têm; tendo sofrido preconceito racial por serem negros, temem que enfrentem o mesmo.
Desde o início das aulas, Mira já sente que é vista como uma estranha entre a maioria branca e rica, que logo a cansa com perguntas sobre o seu estilo de cabelo, todo trançado, o que a faz desistir do penteado. Porém, na nova escola, ela também conhece amigos de verdade, Dida e Mariana. Não é a primeira vez que Mira passa por isso, anos antes já haviam duvidado de sua inteligência pelas aparências. É agora que Mira vê sua identidade em xeque.
Em um trabalho em grupo, ela percebe as opiniões preconceituosas de colegas que não lidam com a sua realidade. Se dizem não discriminadores, mas acham que o desemprego é culpa de quem não quer trabalhar, e não enxergam, ou não querem enxergar, os índices que apontam as diferenças salariais absurdas entre homens e mulheres, brancos e negros. E quando vai à casa de Mariana e cativa o afeto de sua irmãzinha, é julgada precipitadamente como a babá por uma amiga da mãe das meninas. Os amigos tentam a defender; Mira fica indignada com a discriminação e muda de comportamento, se afastando deles, faltando aulas depois do horário, não prestando a devida atenção às normais, sem o habitual sorriso radiante de antes.
Notando a diferença da menina, o professor Ricardo conta a história de sua família, que vivenciou a época da 2ª Guerra Mundial na Alemanha nazista, e a aconselha conversar com a coordenadora Sandra, que Mira interpretara como uma mulher severa e seca no primeiro contato. Então, emocionada, ela segue o conselho do professor e constata que estava enganada, pois Sandra só demonstra ser desse jeito, porque sua história é semelhante a da garota. Sandra também sentiu na pele o preconceito racial e só com muita força de vontade e empenho, conseguiu vencer na vida e se tornar uma pessoa realizada. Ela apóia Mira a nomeando como uma “aprendiz de guerreira”.
A brilhante aprendiz amadurece, aprendendo e descobrindo a cultura do povo africano, do qual é descendente. Se reconcilia com os amigos, assume a sua própria identidade; as tranças voltam a ser o penteado favorito, dando lugar ao sonhado cabelo liso que pretendia e sonhava usar. O admirável professor que deu a ela a oportunidade de ter um ensino qualificado, apresenta uma ideia para que os alunos do Strauss - colégio de Mira -, interajam com os de escolas públicas – dentre elas, Cruzinha, a antiga escola dela. Mira fica muito entusiasmada diante da expectativa. Junto a Dida, que se declara e faz um poema, Miriam - que é mais conhecida como Mira desde que o irmão lhe colocou este apelido – vai à velha escola reencontrar os antigos amigos e lhes contar sobre o projeto.
A Cor do Preconceito é uma história de superação. Um ótimo livro, que conscientiza o leitor que ainda não encarou o preconceito como presente no cotidiano, ou não quer encarar. Em um mundo onde a diversidade predomina, a discriminação já deveria ter se esvaído, e um exemplo como esse é um escudo contra o seu fortalecimento. Vale a pena resistir à opinião alheia e formar a própria a partir de conclusões justas, e é isso que esta obra de Carmen Lucia Campos, Vera Vilhena e Sueli Carneiro nos leva a refletir e compreender.