Zika

Zika Debora Diniz




Resenhas - Zika


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@andressamreis 23/03/2020

Os bastidores de uma epidemia
Há 7 meses todas minhas leituras estão relacionadas com a maternidade. Por que será?

Esta foi minha primeira leitura deste período, justamente, por ser um dos meus maiores medos na gestação. O Lucas nasceu em 2015, no início da epidemia, e senti um alívio imenso quando os relatos de microcefalia começaram a aparecer.
Com a segunda gestação durante o período chuvoso e quente corri pra este livro.

Encontrei um trabalho de campo super sensível e atencioso. A autora Débora Diniz percorreu o sertão nordestino, entrevistou pacientes, médicos, cientistas e tentou elaborar uma cronologia da epidemia, demonstrando o quão foi difícil identificar que havia um novo vírus no Brasil e que este mesmo vírus era capaz de causar tantos danos em bebês.

Um dos fatores que retardaram uma identificação mais rápida da doença tem haver com preconceito, visto que as primeiras análises partiam dos médicos de "beira de leito" e não dos grandes centros científicos, e das mulheres nordestinas.

Há tanta luta, tanta lágrima, tanta insistência, tanta frustração nestas páginas.
Médicos tentando provar ao mundo suas observações e análises diante da disparada de casos de "alergia do sertão" ou de "dengue leve" e a relação com a explosão de casos de microcefalia.

Mães com seus filhos perfeitos, que de repente foram surpreendidas pelo diagnóstico de microcefalia. Aceitar que a alergia leve que tiveram foi capaz de atravessar sua bolsa e comprometer todo o desenvolvimento neurológico de seus bebês. Famílias pobres, muitas vezes distantes dos grandes centros médicos, tiveram que aceitar a nova realidade de cuidados, terapias, medicações para garantir uma melhora no bem estar de seus filhos. Quando não tiveram que enfrentar o luto!

É uma bela obra de jornalismo investigativo de uma doença tão triste!

Para mim, que fui atrás de informações, acabei desenvolvendo a minha empatia e solidariedade por todas as famílias afetadas e seus bebês.

Estejamos atentos às famílias gestantes, puérperas, da primeira infância e com filhos com deficiências. Estas famílias precisam de toda ajuda, seja o envio de boas vibrações, seja a ajuda material.
Marta Skoober 21/07/2020minha estante
Médico de beira de leito?


@andressamreis 23/07/2020minha estante
Sim, são como eles diferenciam os médicos que atendem diariamente, daqueles que dedicados a pesquisa.


Marta Skoober 24/07/2020minha estante
Dependendo do caminho que faço de volta do trabalho passo próximo ao IBR, Instituto Baiano de Reabilitação. É desesperador ver a quantidade de mães com filhos portadores de microcefalia. São umas guerreiras! Lobas defendendo suas crias...


@andressamreis 27/07/2020minha estante
A parte final desta obra evidencia essa luta! É uma homenagem às mães e famílias.




Christiane 03/06/2022

Debora Diniz nos conta neste livro o que foi a epidemia de zika em 2016 e todo o sofrimento que acarretou para as mulheres grávidas e suas famílias. Ficamos sabendo como funciona a ciência, as pesquisas e o Estado diante de epidemias, porém o que nunca se fala é sobre o outro lado, o lado dos médicos que estão na linha de frente, na beira do leito como Diniz chama, e do quanto são eles que geralmente chegam ao diagnóstico antes que a ciência o comprove, mas sempre são esquecidos e relegados a segundo plano, principalmente neste caso ainda pesou e muito o fato de terem sido médicos e cientistas nordestinos (as) que primeiro desvendaram o que estava ocorrendo. Como assim? o nordeste à frente dos grandes centros do Sul? Mas para piorar, foi uma mulher, uma médica do Cariri do sertão nordestino quem descobriu que era o vírus da zika que provocava a microencefalia nos fetos. Apesar dela ter enviado as amostras do líquido aminiótico para a Fiocruz, seu nome desapareceu, ficando todo o crédito para um pesquisador homem de uma Instituição do Estado. Lamentável no mínimo, pois isto mostra mais uma vez o quanto se apaga os feitos das mulheres.
Um outro ponto é que todo o trabalho de prevenção se voltou e volta para o vetor, ou seja, o mosquito transmissor, mas não há preocupação com as mulheres, mulheres que desejam ser mães e que tem medo. O que foi aconselhado é abstinência sexual, ao invés de investir em anticoncepção e também liberar o aborto para estes casos. A dor, o efeito mental em uma mulher que carrega até o fim uma gravidez de um filho destinado a morrer em muitos dos casos é cruel. A mulher e sua família precisam ter o direito de interromper isto. Os médicos sabem quando se trata de um quadro irreversível, que não há chances. Chama a atenção que todos defendem a maternidade, defendem que as mulheres tem que ser mães e as louvam, mas literalmente viram as costas diante de situações como esta, lhes restando o apoio de outras mulheres e da família. Mesmo aquelas que seus filhos sobreviveram no começo tiveram que lutar sozinhas e com suas famílias para fazer o que era necessário. Horas de estrada para ir duas vezes por semana a centros de reabilitação, deixar seu trabalho e se dedicar ao filho, nada disto amparado pelo Estado. E ainda houve piadas de mau gosto de ministros como "sexo é para amadoras, gravidez é para profissionais". Somente em 2020 foi aprovado uma lei que dá pensão vitalícia a estas crianças, desde que se comprove que foi pela zika. Durante 04 anos estas mães lutaram sozinhas e a grande maioria eram pobres. Por isto um pai, professor, e que tinha melhores condições fez a denúncia que eles estavam isolados, ou seja, abandonados a própria sorte. O fato é que há responsabilidade da saúde pública e do Estado, pois o mosquito se prolifera onde falta saneamento básico, onde há lixo, e também é necessário controles epidemológicos que são fracos quando não são ausentes. A pergunta que fica é se isto tivesse ocorrido no Sudeste e Sul do Brasil, com mulheres da classe média e da elite, o que teria sido feito? A primeira resposta seria que as condições financeiras seriam melhores, e a segunda, elas teriam ajuda profissional como babás para ajudar a cuidar destas crianças, e o interesse em buscar diagnosticar teria sido mais rápido. Graças a médicas mulheres, desconhecidas, e médicos que também se interessaram e foram atrás, e que hoje estão no esquecimento, se pode descobrir mais rápido, mas não o suficiente para muitas mães. Os outros ficaram com os méritos e os financiamentos para pesquisas.
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John 17/09/2016

neste livro, debora diniz constrói uma narrativa sobre a chegada e desenvolvimento do vírus zika no brasil. essa é uma história de muitos personagens. nos termos do livro, médicos de beira de leito, cientistas de bancada e uma multidão de mulheres nordestinas foram protagonistas de um dos mais graves surtos epidêmicos da história brasileira.

a qualidade da pesquisa realizada pela autora impressiona, principalmente considerando sua atualidade: menos de um ano separa o momento em que escrevo esses parágrafos e os eventos narrados no livro. nesse meio tempo, debora diniz imergiu no epicentro da epidemia, entrevistou mães de bebês com a síndrome congênita do vírus, revisou décadas de literatura científica e milhares de noticiários nacionais e internacionais. o resultado foi uma narrativa fluida, sem barreiras para quem não esteja familiarizado com o jargão médico ou antropológico, mas com um rigor pouco visto mesmo em algumas publicações mais especificamente acadêmicas.

além de ser uma fonte bastante precisa sobre um momento histórico, a narrativa explora ainda os modos de fazer da ciência e como os fluxos de circulação de recursos financeiros e reconhecimento seguem no brasil os caminhos das desigualdades regionais e de gênero. a corrida pela descoberta e compreensão do zika vírus foi desde o início liderada por pesquisadores e pesquisadoras da periferia da produção científica no país, com um destacado protagonismo de médicas e biólogas. os saberes acadêmicos não foram, porém, os únicos responsáveis pelos avanços no conhecimento sobre o vírus. diniz mostra como a comunicação entre as mães de crianças atingidas pelo zika foi importante para a compreensão dos efeitos da síndrome congênita do zika.

dessa forma, ao valor histórico do trabalho, soma-se a contribuição para a análise epistemológica da ciência. o conhecimento humano não se faz apenas nos laboratórios, mas também pelos questionamentos, hipóteses e observações de pessoas comuns no sertão nordestino ou de médicos atendendo em pequenas cidades do interior do país.
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Claudiomar.Filho 06/01/2017

Poderia ter focado mas na epidemia do vírus Zika
Pelo título do livro, imaginei que ele iria discorrer mais sobre o vírus, como ele interage nas pessoas, características da epidemia, ações que estão sendo realizadas para pará-la, coisa assim.
Porém, o livro não é sobre o vírus em si, mas mais sobre seu início e sobre o trabalho dos médicos e médicas do Nordeste desde quando as suspeitas foram levantadas até quando as pesquisas foram se desenvolvendo e foi descoberta a correlação e causalidade entre a infecção pelo Zika Vírus e a incidência da Microcefalia em crianças.
Assim, isso não é um grande defeito, mas o título poderia ser mais descritivo e deixar claro a que era o livro, não sobre o "Zika do Sertão Nordestino à Ameaça Global", mas sim "Zika na Região Nordeste e seu descobrimento" ou algo assim.
Se gostei do livro? Achei mediano, esperava bem mais, principalmente se você está procurando material mais técnico sobre o assunto.
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