spoiler visualizarAmanda 19/05/2018
Uma história construída em cima das escolhas dos personagens X Uma história construída em cima das escolhas da autora.
Uma vez ouvi o comentário "nunca avalie um filme logo depois que você sai do cinema", acho que o mesmo vale como paralelo para o livro, "nunca resenhe um livro quando você ainda está brava com o final". Sim, eu estou muito brava com o final, e quando eu tento me expressar para contar sobre coisas que eu gosto muito ou que odeio muito, eu não consigo organizar direito meus pensamentos, então quem for ler até o fim, prepare-se para a bagunça.
Até lá pelos 80% do livro, não era uma história que eu estava caindo de amores, mas também não era uma história ruim que eu estava sofrendo para chegar ao final. O primeiro capítulo mostra o que vai acontecer no final, a queda de uma menina do milésimo andar do prédio, e tudo a seguir é para contar os caminhos que levaram até esse fatídico acontecimento. Então somos apresentados a cinco narradores, achei exagero tanto P.O.V. até porque as histórias deles se mesclam várias vezes e com várias combinações de personagens. Vou tentar não perder o foco e xingar um personagem por vez em vez de xingar tudo e todos ao mesmo tempo.
Em um ponto da história, eu tinha certeza que quem iria cair do prédio era a Avery, porque ela era a personagem mais inútil, e a única razão para ele ser uma narradora seria para o leitor se apegar antes dela morrer e ficar chocado no final. Sério, a história dela poderia ser contada pelos outros personagem, afinal, a melhor amiga dela é narradora, a outra melhor amiga dela é narradora e um interesse amoroso é narrador, com o plus que se a gente não visse os fatos pelos olhos dela, até a revelação do romance proibido que ela alimentava seria, pelo menos, impactante quando descoberto. Então para que ela ter um capítulo próprio se ela não adicionava nada de novo para história? E você não me venha falar "mas Amanda, ela era importante para desenvolver a trama com o irmão!," porque vai ser assim que eu vou começar a xingar... Que merda de trama foi essa? Já estava ruim no começo quando eu pensava que ela era uma doida iludida que achava que estava apaixonada pelo irmão, mas ficou pior quando o amor, que eu achava que não sairia do campo platônico, é correspondido pelo doido do irmão.
Que diabos!
Tirando a Avery, que, para mim, era uma total perda de tempo, os outros personagens pelo menos tinham tramas próprias, e se bem executadas seriam bem mais interessantes. A Leda, por exemplo, é introduzida como uma menina que acabou de sair da reabilitação por causa de drogas, no meio do livro tem gancho para um super drama familiar, mas no que a autora resolveu focar a história dela? Macho! Tudo gira ao redor de macho, macho esse, aliás, que é o Atlas, irmão da Avery, irmão esse, aliás, que a Avery é apaixonada... Leda e Avery, que são melhores amigas, ficam num clima ruim por causa desse "triângulo amoroso bizarro" (nunca pensei que chegaria o momento que eu chamaria de triângulo amoroso a situação de duas melhores amigas e o irmão de uma delas).
Não felizes em mancharem a trama com picuinha amorosa, a Leda consegue levar essa bagunça para o Watt. Eu não dava muito por ele no começo, mas ele tinha muito potencial, afinal, ele era um hacker com um super inteligência artificial implantada dentro do cérebro. Você entendeu bem o que eu falei? Ele podia hackear o governo, descobrir tramas conspiratórias, expor segredos, mas como as suas super megas habilidades dele foram aproveitadas? Stalkendo o crush! E o crush nem era o dele, ele foi contratado pela Leda para vigiar o Atlas, tudo isso chega a ser bizarro. E por causa desse trabalho, ele descobre a Avery e se interessa por ela, então o que antes era um triângulo amoroso bizarro, vira um quadrado amoroso mais bizarro ainda, porque em um momento da história, o Watt e a Leda também se pegam... eu estava só a Nazaré confusa com toda essa bagunça.
A trama da Rylin era a melhor, mostrava o outro lado do glamour e riqueza dos highfloors, narrava uma vida mais real, com dificuldade para conseguir dinheiro, ter que cuidar da irmã, em certo ponto a autora teve a ideia genial de inserir roubo e tráfico de drogas, mas aí... pasme você, tudo isso que era uma trama legal, vira um romance bobo. Até o Cord, que era um dos melhores, com aquele ar misterioso e aquela dubiedade no olhar, que a gente não conseguia descobrir o motivo, tantas coisas poderiam estar passando pela cabeça dele, e a gente não saberia, mas daí tudo virou romance... Mas ainda tenho esperança que ele possa se mostrar mais nos próximos livros e seja um protagonista que ele merece ser.
Por fim, a Eris, que começou me dando vontade de pular os capítulos dela. Ela era extremamente fútil, o mundo inteiro dela girava ao redor de festas, roupas e aparências. Ser obrigada a se mudar para os andares "pobres" foi a melhor coisa que aconteceu com ela [mentira], a melhor coisa que aconteceu com ela foi interagir com a Mariel. A Eris foi a única personagem que evoluiu, amadureceu e teve desenvolvimento próprio, um pouco por causa do romance, mas depois da mudança, ela começou a questionar o mundo, as diferenças sociais, entrou em contato com a religião (que casou muito bem com ela e com o seu momento dentro da trama), ganhou outra trama legal, que foi conhecer o pai e as possíveis consequências disso. Ela passou, da pior personagem, para a melhor, o que começou com eu querendo pular os capítulos dela se transformou em tristeza quando acabava um capítulo dela.
Então foi assim que eu cheguei na reta final do livro, e é agora que o meu título da resenha faz sentido, o que aconteceu nos últimos 15/20% da leitura não foi exatamente o que os personagens fariam, ou conseguiriam fazer, foi o que a autora precisasse que acontecesse para culminar na queda da personagem do prédio. De repente a Leda despirocou com os comprimidos e virou o Sherlock Holmes de Gossip Girl, descobriu que o Watt era o hacker que ela tinha contratado (não comprei a explicação que ela deu), descobriu sobre a Inteligência Artificial dele, descobriu o casal Avery/Atlas, mas na hora de analisar a situação da pai e da Eris, ela fez a sonsa, e chegou na conclusão errada. Os efeitos da droga, que a deixavam mais sagaz, foi seletivo e ela só descobriu o que convinha à história.
E o que convinha à autora era matar a Eris - a melhor personagem (estou chorando). E a autora ainda teve a cara de pau de jogar uma chantagem barata na nossa cara para todo mundo mentir sobre a queda. Olha, eu até consigo aceitar o Watt e a Rylin se sujeitando à mentira, mas a Avery? A Avery que cresceu com a Eris, amigas desde criança e bla bla bla, preferiu mentir ao invés de honrar a memória da amiga. E eu fiquei louca no ódio mesmo, porque mataram a minha fav, ela tinha muito a fazer ainda dentro da história, meu ódio pelo final não é gratuito, afinal, a gente só odeia o que estávamos tão perto de amar.
ps: eu fiquei tão virada no ódio que ao final da história eu estava xingando até a capa do livro. Como que um prédio como aquele do desenho a menina iria cair do topo e parar na calçada do térreo? no máximo iria cair em um daqueles volumes do topo... aff...
Eris deserves better.