Su 28/01/2016
Benjamin Moser é o historiador estadunidense que escreveu essa biografia sobre a enigmática escritora Clarice Lispector.
Moser inicia o livro nos contando sobre a viagem de Clarice do Rio de Janeiro para a Itália onde ela era esperada por seu marido, um diplomata brasileiro. Só que em razão da guerra (o ano era 1946) ela teve que passar pelo Cairo, entre outros lugares, onde teve a oportunidade de ver a Esfinge. Essa viagem serviu como base para a seguinte frase: “Não a decifrei. Mas ela também não me decifrou”.
Ela nasceu em Tchechelnik, Ucrânia. Mas, se irritava profundamente quando diziam que ela era estrangeira, se considerava totalmente brasileira. Mania e Pinkhas chegaram ao Brasil em 1925 com suas três filhas, fugindo da guerra que assolou a Rússia após a Revolução de 1905.
Clarice foi criada no Recife, Pernambuco. Perdeu sua mãe na infância. Durante a sua adolescência veio para o Rio com sua família. Depois, perdeu também o seu pai. Entrou na prestigiosa faculdade de Direito. Ao mesmo tempo, se tornou jornalista, começou a namorar Maury Gurgel (que viria a ser seu marido) e a escrever seu primeiro livro. A escrita a acompanharia pelo resto de sua vida.
Esse livro é maravilhosamente bem escrito. Revelador. Nos mostra que Clarice era suas personagens, o que nos mostra que ao ler seus livros estamos tendo acesso a seus pensamentos mais íntimos. Ela teve sua cota de problemas. Conseguiu manter uma aparência de normalidade até sua separação. Depois dela, essa aparência foi ruindo aos poucos.
“De um modo geral eu tenho feito ‘sucesso social’”, ela escreveu a Lúcio. “Só que depois deles eu e Maury ficamos pálidos, exaustos, olhando um para o outro, detestando as populações e com programas de ódio e pureza […]. Todo o mundo é inteligente, é bonito, é educado, dá esmolas e lê livros; mas por que não vão para um inferno qualquer? Eu mesma irei de bom grado se souber que o lugar da ‘humanidade sofredora’ é no céu. Meu Deus, eu afinal não sou missionária.”
“Uma das coisas que me deixam infeliz é essa história de monstro sagrado: os outros me temem à toa, e a gente termina se temendo a si própria. A verdade é que algumas pessoas criaram um mito em torno de mim, o que me atrapalha muito: afasta as pessoas e eu fico sozinha. Mas você sabe que sou de trato muito simples, mesmo que a alma seja complexa. O sucesso quase me faz mal: encarei o sucesso como uma invasão. Mesmo o sucesso quando pequeno, como o que tenho às vezes, me perturba o ouvido interno.”
“Em outubro, apenas alguns dias depois da publicação de A hora da estrela, Clarice Lispector foi subitamente hospitalizada. No táxi a caminho do hospital, ela disse: “Faz de conta que a gente não está indo para o hospital, que eu não estou doente e que nós estamos indo para Paris”, lembrava-se Olga Borelli. Então, começamos a fazer planos e a falar dos passeios que faríamos em Paris.”
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