spoiler visualizarAmanda 27/12/2020
Ruim até para um clichê
Vamos lá. Para começar o livro parece ter sido escrito por alguém que nunca viveu o contexto em que a história se passa. Não sei se o meu sentimento é esse justamente por eu estar completamente inserida nesse cenário (fazendo faculdade em uma cidade universitária, cheia de repúblicas tradicionais com nomes e apelidos próprios, festas exclusivas, muita droga e bebida rolando enquanto várias meninas estão sendo dopadas e violentadas, todo mundo sabe e ninguém faz nada a não ser um grupo de meninas que fizeram um Instagram para postar os relatos de abuso, inclusive indico muito: @lavras.exp), mas achei que a história não passa credibilidade nenhuma. Tem sim muitos paralelos com a realidade que eu vivo, mas também tem muita coisa que é inimaginável de acontecer e que eu sei que a própria autora deve ter achado que não era convincente quando ela escreveu, mas tinha que ser daquele jeito para que a cena que ela imaginou se concretizasse. Um exemplo, Alina, uma menina toda certinha que não conhece nada da vida e nunca saiu debaixo das asas dos pais, se muda para uma república universitária sem sequer ver a moradia antes ou conhecer as pessoas que moram na casa, tudo para rolar aquele momento constrangedor quando ela chega na porta da república e não conhece ninguém ou quem sabe foi uma tentativa falha da autora de tentar passar a protagonista por uma menina independente, que está se jogando no mundo, etc... Porém, num mundo em que as pessoas não vivem sem rede sociais, como ela não ia ter pelo menos procurado o perfil dos moradores na internet? Não ia saber como era a cara da tal Manu? Isso não faz sentido e é só um dos vários furos da história. Outra coisa, todos os personagens, sem exceção, são extremamente rasos e caricatos. Várias vezes enquanto lia as várias frases clichês, os diálogos óbvios e as descrições previsíveis, eu ficava me perguntando em qual outro livro eu já tinha visto, porque sentia uma sensação de dejavú fortíssima, mas não tinha nada sobrenatural no que eu estava percebendo, é só que o livro é um clichê tremendo mesmo e dos piores, daqueles que não se garantem na narrativa, na história e não tem personagens cativantes. Nada. Só não abandonei, porque o livro tem 200 e poucas páginas e é bem rápido de ler, motivo esse pelo qual dei uma estrela. A outra meia estrela foi pela tentativa de tratar de temas sérios, principalmente os abusos sexuais que rolam todos os finais de semana pelas cidades universitárias do país e, até então, eu nunca tinha visto nenhum livro falar. Contudo, não deixa de ser uma tentativa, tanto a violência contra mulher, que ao que me parece é o pilar central da história, quanto o racismo (Meu Deus, Pam, por que enfiar um tema tão sério e atual na história, se você não vai dar a ele mais que um parágrafo?) são tratados de forma muito superficial, o que era para ser o debate do livro vira só um pano de fundo para a história de uma menina nerd tímida que quer viver a vida e não sabe como (sim, exatamente a mesma história de centenas de outros livros adolescentes, mas o diferencial desse é que ele é ruim). Considerando o contexto, o livro poderia ser sensacional, se o tema do abuso sexual e do machismo intrínseco nas comunidades universitárias tivesse sido bem trabalhado e se as personagens fossem desenvolvidas e não caricaturas tão óbvias. Além disso tudo, apesar do contexto universitário e do tema pesado que a autora falhou em trabalhar, o livro todo tem uma pegada muito adolescente e imatura, que fica clara nos diálogos e personagens infantilizados. Se a mesma trama fosse adaptada para se passar em uma escola com personagens mais jovens, acredito que o livro teria convencido mais. O problema não é ser um clichê, o problema é ser um clichê ruim e mal feito.