O caso Meursault

O caso Meursault Kamel Daoud




Resenhas - O caso Meursault


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Joao.Ricardo 23/04/2020

LIVRO INTENSO.
Mais um da semana retrasada.
“O Caso Meursault”, de Kamel Daoud, pode ser lido tanto como uma resposta ao “O Estrangeiro”, de Albert Camus, tanto como uma obra autônoma, que se sustenta individualmente. Eu prefiro esta àquela.
Nesta obra, somos colocados frente a frente com Haroun, que nos relata francamente como o assassinato de seu irmão - Moussa - por um “franco-argelino” devastou uma família e revela uma lógica perversa capaz de trucidar a cultura de uma civilização.
Dentro da intimidade de um bar barato na cidade de Orã, Haroun, a cada gole de seu drinque barato compartilhado conosco, coloca-nos em xeque e nos deixa cada vez mais desconfortáveis ao contrapor uma realidade injustamente apagada, a da vítima, que tem sua identidade ignorada.
O narrador nos revela um horizonte totalmente desconhecido sobre Moussa e sua vida, sobre a Argélia naquele tempo e suas minorias, quando os franceses de Argel eram maioria e a língua árabe era proibida de ser ensinada nas escolas. Além disso, discorre-se de forma contundente sobre a realidade pós-independência do país, a exemplo das pressões ideológicas fundamentalistas.
Para mim, é essa a grandeza do livro. A franqueza de Haroun sustenta a singularidade da narrativa para compreendermos o perigo de uma história única e os efeitos prejudiciais da lógica colonial que se perpetrou na Argélia, antes e após a independência.
É diante desses aspectos que prefiro conjugar as duas obras por questões adjacentes e não pelo paralelo narrativo. Por sua vez, também há ganhos na leitura de “O Caso Meursault” em paralelo ao livro de Camus, de modo que se evidencia seu caráter crítico à lógica contida em “O Estrangeiro” e aos estudiosos desta que ignoram o que há por trás da morte do árabe inominado.

#kameldaoud #ocasomeursault
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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O caso Meursault, Kamel Daoud – Nota 9/10
Antes de começar a resenha, uma pergunta: você já leu “O estrangeiro”, de Albert Camus? Se a resposta for negativa, pare de ler esse post e comece logo a leitura. Mas se a resposta for positiva, essa resenha é feita para você! Não há dúvidas de que "O estrangeiro" é um dos maiores clássicos do séc. XX. Nele, Meursault, um franco-argelino, mata um arábe desconhecido em uma praia, sem grandes motivos.

E é a partir dessa história que Kamel Daoud escreveu sua obra. Mas nela, o autor argelino traz os fatos sob a perspectiva da família desse “árabe” assassinado por Meursault. A história é narrada por Haroun, irmão do árabe sem nome, que passa a vida remoendo esse assassinato imotivado que atingiu a sua família e, principalmente, indignado com o descaso das autoridades e da sociedade sobre o crime. É, sem dúvidas, uma narrativa repleta de rancor, angústia e sofrimento. Mas é também por meio dessa narrativa que Haroun consegue dar um nome a seu irmão, agora Moussa, e de certa forma vingar a sua morte ao contar a sua versão da história.

Confesso que duvidei um pouco do resultado de uma proposta tão díficil, como a assumida pelo autor. Mas terminei a leitura com uma certeza: Daoud conseguiu construir um jogo literário incrível com o clássico de Camus. Sua obra faz o leitor refletir sobre as percepções e ideias que surgiram na leitura de “O estrangeiro”. É como se o leitor tivesse a sensação de que o assassinato de Moussa foi um fato - e um injustiça - verídica. E para completar, a obra tece uma crítica social excelente sobre a colonização dos países africanos. Ou seja, é um livro muito inteligente e que faz o leitor refletir! Recomendo muito!

“Imagine só, meu irmão poderia ter ficado famoso se o seu autor tivesse ao menos dignado a lhe atribuir um nome, H’med, Kaddour ou Hammou, apenas um nome, ora! Mamãe poderia ter conseguido uma pensão como viúva de mártir, e eu teria um irmão conhecido e reconhecido do qual poderia me vangloriar. Mas, não, ele não lhe deu nenhum, porque, senão, meu irmão criaria um problema de consciência para o assassino: não se mata um homem facilmente quando ele tem um nome.”

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Eloiza Cirne 15/02/2020

O outro lado de O Estrangeiro
Kamel Daoud propõe uma revisita a O Estrangeiro, de Camus para nos lembrar que toda história tem dois lados. Se em O Estrangeiro houve um assassinato porque não se falou daquele que morreu. Quem era ele? Quem era sua família? De onde ele veio? Uma leitura quase obrigatória.
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gabrielrjf 16/12/2019

Confesso que me surpreendi. Esperava um livro bem ruim, diante de tantas críticas que li a respeito e de vídeo que vi criticando-o

Confesso tb que não li a outra obra clássica da França em que Mersoutl mata Moussa (e creio que fiz errado).

Penso que se tivesse lido ?o estrangeiro? teria aproveitado melhor a leitura.. porém me surpreendi positivamente. Eu achava que seria MUITO ruim e não foi
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Peleteiro 09/12/2019

Genial e desconcertante
O livro poderia pecar pela constante repetição sobre os fatos que motivam o monólogo, e pela ausência de diálogos, entretanto, a narrativa magistral que Kamel desenvolve com genialidade insere o leitor em tantas reflexões, com uma linguagem tão fluida e encantadora, que essas questões ficam em segundo plano. De fato, este livro complementa ?O estrangeiro?, consolidando, na literatura, a questão filosófica essencial presente no embate entre oriente-ocidente.
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LidoLendo 06/03/2018

Estou me sentindo culpada...
Se vc leu "O Estrangeiro" do Camus... vc PRECISA ler "O Caso Meursault". Entendeu? Você PRECISA!

Contextualize com a Argélia Colonial dominada pelos franceses durante 100 anos... contextualize com a Guerra de Independência da Argélia... e no meio disso tudo, entenda a revolta dos "personagens" do livro de Kamel Daoud.

Que livro incômodo! Nunca li um livro que em fez sentir culpada por ter gostado de outro livro rsrs...

E pra quem não leu ainda "O Estrangeiro", leia! Mas leia com uma visão bem crítica... pra depois levar um tapa na cara SEM luva de pelica do Kamel Daoud! To confusa hahaha

Excelente livro! Recomendo.
Joana 06/03/2018minha estante
Já quero! :)


su fern@ndes 06/03/2018minha estante
reli O Estrangeiro mês passado. e agora entendi que PRECISO de Meursault. quero! :)


Khadija.Slemen 08/03/2018minha estante
então tá rs, vou ler pois amo Camus e já li vários dele rs, vou procurar


anaclaudia.santosneto 20/08/2018minha estante
Quem não leu O Estrangeiro pode ler O Caso?


Fernando 15/07/2023minha estante
Mersault é fundamental!




jota 07/10/2017

Meursault/Camus, Haroun/Daoud
Ganhador de diversos prêmios literários franceses desde que foi lançado em 2013, traduzido para vários países, O Caso Meursault, de Kamel Daoud, é uma metaficção elaborada a partir do conhecido livro de Albert Camus (1913-1960), O Estrangeiro (1942), um dos mais célebres romances do século XX e que todo bom leitor já deve ter lido uma vez.

Para apreciar o livro de Daoud não é necessário conhecer profundamente o clássico de Camus. Nem mesmo tê-lo lido (embora isso faça alguma diferença, claro), pois a toda hora Daoud nos lembra o que aconteceu em O Estrangeiro, em que o personagem Meursault, "por causa do sol" mata numa praia de Argel, com vários tiros, um árabe anônimo.

Esse árabe, durante muitos anos desconhecido, agora sabemos que se trata de um argelino e que tem nome, Moussa: sua história nos é contada pelo irmão mais novo, Haroun, que usa as palavras para produzir um confronto não apenas com o francês assassino Meursault, também com Camus, o autor franco-argelino.

Ao mesmo tempo Haroun, numa longa confidência, que é isso que o livro é, conta sua própria história e de sua mãe, que sonhava vingar o filho morto por Meursault através da morte de um estrangeiro, quer dizer, de um francês - como é dito a certa altura do livro, a religião proíbe apenas que um muçulmano mate outro muçulmano.

Haroun também fala um pouco sobre a história da própria Argélia, então colônia francesa na época de Meursault, da libertação em 1962 e depois da independência, parecendo dizer que a vida era melhor nos tempos da colônia, ou que as ruas não eram tão sujas, malcheirosas ou perigosas; quando não havia tanta religião, as mulheres andavam mais descobertas e se podia beber vinho à vontade...

O Caso Meursault não é uma leitura empolgante, mas interessante, reflexiva, e nisso por vezes ele dialoga com a obra de Camus. Cujos livros se preocupavam não apenas em contar histórias mas igualmente em fazer com que os leitores tomassem contato com suas ideias a respeito do mundo, da vida. Mais ou menos como faz Haroun, daí que Le Monde escreveu que o livro de Daoud "No futuro será lido como um par de O Estrangeiro", conforme consta da presente edição brasileira.

Minha avaliação: 3,8

Lido entre 30/09 e 06/10/2017.
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Ana Beatriz.Alcantara 18/08/2017

A identidade do morto
O autor Kamel Daoud traz um personagem que propõe apresentar a visão pelo outro lado da história contada em O Estrangeiro de Albert Camus. Narrado em primeira pessoa, o leitor nos capítulos iniciais é questionado a respeito do romance de Camus, quanto a veracidade dos fatos, o estilo de narração e sobre todo o personagem que é Meursault. O livro gira em torno de uma crítica dos fatos narrados no livro que o baseou, que se entrelaça a sua vida e a relação conturbada com sua mãe.
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Zi 15/03/2017

Todo fim é um novo recomeçar
“O Estrangeiro” de Albert Camus é um dos melhores livros que já li. É um clássico da literatura universal. Nele, como (quase) todos sabem, o personagem principal (anti-herói?) , Meursault, um francês de Argel, para tentar defender um amigo, mata um árabe na praia por ocasião do enterro de sua mãe, e é preso por isso. O julgamento de Meursault termina de maneira improvável, devido a detalhes magistralmente descritos por Camus. O livro não cita o nome do árabe morto, não tinha importância na Argélia ocupada pelos franceses. Não vou contar o final da história para não prejudicar quem ainda não leu “O Estrangeiro”. Esse “fato” deu-se em 1942, data de lançamento do livro. Pois bem, Kamel Daoud, um argelino, agora em 2016, ou seja, 74 anos após, resolveu contar essa história do ponto de vista do irmão do árabe morto e de sua mãe, dando assim continuidade à história de Camus. Que belo gancho ele pegou! Em primeiro lugar, ele dá nome ao “árabe”: Moussa. A história do que aconteceu com Moussa e sua mãe após o crime é contada em primeira pessoa pelo seu irmão Haroum a um desconhecido num bar durante vários dias. O livro é bom, lendo-o, você é levado a acreditar que o fato em que se baseou o livro foi real. Eu recomendo.
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Camille Moraes 21/09/2016

"É importante atribuir um nome a um morto, tanto quanto a um recém-nascido. É importante, sim. Meu irmão se chamava Moussa."
E é para dar um nome e uma vida ao seu irmão, que Haroun aceita se encontrar com um universitário parisiense e contar sua versão de um dos momentos chave do livro "O Estrangeiro", de Albert Camus (minha opinião sobre o livro está alguns posts atrás). No livro de Camus, o protagonista Meursault, em determinado momento mata um homem. Esse homem é referido no livro como "o árabe" e nada mais sabemos dele.

E agora, mais de 50 anos depois, é na mesa de um bar em Orã que Haroun vai nos contar quem era Moussa e como a morte do irmão mais velho afetou a vida dele, que tinha apenas 7 anos na época, e da mãe, que desde então não vive em paz já que foi privada até mesmo de enterrar o filho mais velho.

A injustiça da morte do irmão mudou completamente a vida de Haroun, que sente como se estivesse morto também. E talvez por isso, a narrativa aqui no livro é rancorosa, angustiante e cheia de raiva. Ao longo das conversas, Haroun se despe de todas as máscaras e conta tudo sobre sua vida, incluindo um grande segredo que o faz mais parecido com Meursault do que ele gostaria.

De maneira geral, gostei do livro e recomendo a leitura. A escrita do autor é elegante sem ser complicada e traz reflexões pertinentes. Também gostei da ideia de mostrar mais sobre a vida da família do árabe e da sociedade argelina da época, colonizada pelos franceses. Minha única ressalva é que o narrador se repete muito e isso diminuía o meu interesse ao longo da leitura, mas talvez isso tenha sido proposital já que o Haroun contava apenas com suas memórias que eram narradas sempre com alguns copos de vinho na conta.

Outra observação: se você se interessou pelo livro, recomendo fortemente que leia "O Estrangeiro" antes. As coisas farão muito mais sentido.

site: https://www.instagram.com/liecurti/
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