O caso Meursault

O caso Meursault Kamel Daoud




Resenhas - O caso Meursault


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Rafa 30/04/2021

Para além de uma variante
O livro ultrapassa a ideia de traçar um paralelo entre o clássico de Camus e a versão argelina de Daoud. Isso porque, a obra abrange também a relação França x Argélia. Com isso, o autor consegue ampliar e aprofundar, de forma original, todas as reflexões exploradas em O Estrangeiro. Me arrisco a dizer que seria uma experiência incrível começar toda essa história pelo lado da vítima.
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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O caso Meursault, Kamel Daoud – Nota 9/10
Antes de começar a resenha, uma pergunta: você já leu “O estrangeiro”, de Albert Camus? Se a resposta for negativa, pare de ler esse post e comece logo a leitura. Mas se a resposta for positiva, essa resenha é feita para você! Não há dúvidas de que "O estrangeiro" é um dos maiores clássicos do séc. XX. Nele, Meursault, um franco-argelino, mata um arábe desconhecido em uma praia, sem grandes motivos.

E é a partir dessa história que Kamel Daoud escreveu sua obra. Mas nela, o autor argelino traz os fatos sob a perspectiva da família desse “árabe” assassinado por Meursault. A história é narrada por Haroun, irmão do árabe sem nome, que passa a vida remoendo esse assassinato imotivado que atingiu a sua família e, principalmente, indignado com o descaso das autoridades e da sociedade sobre o crime. É, sem dúvidas, uma narrativa repleta de rancor, angústia e sofrimento. Mas é também por meio dessa narrativa que Haroun consegue dar um nome a seu irmão, agora Moussa, e de certa forma vingar a sua morte ao contar a sua versão da história.

Confesso que duvidei um pouco do resultado de uma proposta tão díficil, como a assumida pelo autor. Mas terminei a leitura com uma certeza: Daoud conseguiu construir um jogo literário incrível com o clássico de Camus. Sua obra faz o leitor refletir sobre as percepções e ideias que surgiram na leitura de “O estrangeiro”. É como se o leitor tivesse a sensação de que o assassinato de Moussa foi um fato - e um injustiça - verídica. E para completar, a obra tece uma crítica social excelente sobre a colonização dos países africanos. Ou seja, é um livro muito inteligente e que faz o leitor refletir! Recomendo muito!

“Imagine só, meu irmão poderia ter ficado famoso se o seu autor tivesse ao menos dignado a lhe atribuir um nome, H’med, Kaddour ou Hammou, apenas um nome, ora! Mamãe poderia ter conseguido uma pensão como viúva de mártir, e eu teria um irmão conhecido e reconhecido do qual poderia me vangloriar. Mas, não, ele não lhe deu nenhum, porque, senão, meu irmão criaria um problema de consciência para o assassino: não se mata um homem facilmente quando ele tem um nome.”

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Eloiza Cirne 15/02/2020

O outro lado de O Estrangeiro
Kamel Daoud propõe uma revisita a O Estrangeiro, de Camus para nos lembrar que toda história tem dois lados. Se em O Estrangeiro houve um assassinato porque não se falou daquele que morreu. Quem era ele? Quem era sua família? De onde ele veio? Uma leitura quase obrigatória.
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LidoLendo 06/03/2018

Estou me sentindo culpada...
Se vc leu "O Estrangeiro" do Camus... vc PRECISA ler "O Caso Meursault". Entendeu? Você PRECISA!

Contextualize com a Argélia Colonial dominada pelos franceses durante 100 anos... contextualize com a Guerra de Independência da Argélia... e no meio disso tudo, entenda a revolta dos "personagens" do livro de Kamel Daoud.

Que livro incômodo! Nunca li um livro que em fez sentir culpada por ter gostado de outro livro rsrs...

E pra quem não leu ainda "O Estrangeiro", leia! Mas leia com uma visão bem crítica... pra depois levar um tapa na cara SEM luva de pelica do Kamel Daoud! To confusa hahaha

Excelente livro! Recomendo.
Joana 06/03/2018minha estante
Já quero! :)


su fern@ndes 06/03/2018minha estante
reli O Estrangeiro mês passado. e agora entendi que PRECISO de Meursault. quero! :)


Khadija.Slemen 08/03/2018minha estante
então tá rs, vou ler pois amo Camus e já li vários dele rs, vou procurar


anaclaudia.santosneto 20/08/2018minha estante
Quem não leu O Estrangeiro pode ler O Caso?


Fernando 15/07/2023minha estante
Mersault é fundamental!




Val Alves 19/07/2020

Um mundo cheio de estrangeiros
O escritor argelino Kamel Daoud se propôs a um projeto ambicioso: recontar O estrangeiro de Camus pela perspectiva de outro personagem: o árabe assassinado. Afinal, quem era ele? Onde vivia? Quem era sua família?
O texto de Daoud é maravilhoso, profundo, envolvente. Ao contrário do personagem de Camus que é apático, misterioso e inexpressivo, o 'estrangeiro de Daoud é intenso, indignado, claustrofóbico, expressivo e questionador. Ele dá voz aos nossos questionamentos ao ler O estrangeiro.

"O assassinato que cometeu parece o de um amante decepcionado com uma terra que ele não conseguiu possuir. Como deve ter sofrido, o pobre! Ser filho de um lugar que não o deu a luz."

Atenção: Podem ser consideradas spoilers as observações a seguir!

O narrador dessa versão é o irmão da vítima, uma pessoa que teve sua vida totalmente mudada após essal tragédia. Além de ter se tornado quase um órfão, pois era o irmão quem assumira o lugar do pai ausente, ele passa a viver à sombra de um irmão que não existe mais e ele próprio se sente como se não existisse mais, como se morto em vida.

Ele e a mãe procuraram por toda a cidade na esperança de encontrarem Moussa, e ela, obsessiva pedia ao jovem que lesse todos os dias qualquer fragmento de notícias de jornais que poderiam dar pistas sobre o desaparecimento do primogênito. Até mesmo um enterro simbólico fizeram. Sentimentos ambivalentes obscureceram sua vida: por um lado sentia indignação de que o autor do crime tivesse escrito um livro contando de forma fria e despreocupada como tirou a vida do irmão - esse que sequer foi nomeado por ele nem pelos jornais!
Era apenas "o árabe" abatido numa praia por uma pessoa que sequer o conhecia e nem tinha uma argumentação aceitável para seu ato, alegando ter cometido o crime num momento de confusão mental "porque o sol estava muito quente"; além de o julgamento ter sido permeado por uma questão que sequer dava destaque ao assassinato e sim ao comportamento do criminoso perante outro acontecimento de sua vida. Por outro lado, o rapaz era consumido pelo ódio que sentia da posição que assumira no mundo devido a essa tragédia. Ele então começa a se sentir um estrangeiro na própria pele e odiar a lembrança do irmão. É preciso que alguém o escute para que tenha uma possibilidade de libertação.

As entrelinhas revelam a existência de algum conflito étnico, político e cultural entre argelinos e franceses, já que o acontecido foi em meados da revolução argelina contra a dominação francesa em 1962. Talvez seja interessnte ao leitor -além de conhecer O estrangeiro- pesquisar sobre a revolução argelina antes de ler o livro para se inteirar mais à estória.

Excelente leitura! Já está entre os favoritos.
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André Vedder 29/07/2020

Esperava um pouco mais do livro, pois o autor nos dá uma premissa interessante ao abordar a obra de Camus.
Mas achei em alguns momentos a narrativa um pouco maçante, apesar de no geral ela ser boa, com alguns ótimos raciocínios.
Por fim, como o livro é curto, então digo que vale a pena a leitura.

"Na verdade, o amor é como um animal celeste que me dá medo. Vejo-o a devorar as pessoas, duas a duas, fascinando-as com a ilusão da eternidade, cercá-las dentro de uma espécie de casulo para depois aspirá-las para o céu e descartar suas carcaças no chão, como cascas."
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Camille Moraes 21/09/2016

"É importante atribuir um nome a um morto, tanto quanto a um recém-nascido. É importante, sim. Meu irmão se chamava Moussa."
E é para dar um nome e uma vida ao seu irmão, que Haroun aceita se encontrar com um universitário parisiense e contar sua versão de um dos momentos chave do livro "O Estrangeiro", de Albert Camus (minha opinião sobre o livro está alguns posts atrás). No livro de Camus, o protagonista Meursault, em determinado momento mata um homem. Esse homem é referido no livro como "o árabe" e nada mais sabemos dele.

E agora, mais de 50 anos depois, é na mesa de um bar em Orã que Haroun vai nos contar quem era Moussa e como a morte do irmão mais velho afetou a vida dele, que tinha apenas 7 anos na época, e da mãe, que desde então não vive em paz já que foi privada até mesmo de enterrar o filho mais velho.

A injustiça da morte do irmão mudou completamente a vida de Haroun, que sente como se estivesse morto também. E talvez por isso, a narrativa aqui no livro é rancorosa, angustiante e cheia de raiva. Ao longo das conversas, Haroun se despe de todas as máscaras e conta tudo sobre sua vida, incluindo um grande segredo que o faz mais parecido com Meursault do que ele gostaria.

De maneira geral, gostei do livro e recomendo a leitura. A escrita do autor é elegante sem ser complicada e traz reflexões pertinentes. Também gostei da ideia de mostrar mais sobre a vida da família do árabe e da sociedade argelina da época, colonizada pelos franceses. Minha única ressalva é que o narrador se repete muito e isso diminuía o meu interesse ao longo da leitura, mas talvez isso tenha sido proposital já que o Haroun contava apenas com suas memórias que eram narradas sempre com alguns copos de vinho na conta.

Outra observação: se você se interessou pelo livro, recomendo fortemente que leia "O Estrangeiro" antes. As coisas farão muito mais sentido.

site: https://www.instagram.com/liecurti/
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DaniM 25/05/2020

Em “O Estrangeiro”, Camus faz seu narrador Meursault contar sobre um crime que ele cometeu na Argélia colonial. Em “O Caso Meursault”, Daoud se propôs a colocar o irmão da vítima deste crime como narrador em seu livro. A proposta é ousada e o resultado é incrível. Um livro maravilhoso, onde sabemos quem foi ‘o árabe’ sem nome de Camus e passeamos pela Argélia pré e pós guerra da Libertação. O que poderia ser apenas um eco do livro genial de Camus se revela uma história riquíssima e envolvente, ambientada num universo diverso, mas tão difícil de compreender quanto o descrito em O Estrangeiro.
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Lendo no mato 13/04/2021

Sempre bom ouvir o outro lado.
Alguém anotou a placa????
?
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Matheus 04/03/2024

O que acontece quando um árabe é morto
No momento em que Moussa morre, sua família deixa de viver. Condenados a viver enlutados por essa tragédia, sem nem ter um corpo pra materializar o que se passou, Haroun e sua mãe passam a viver com esse fantasma, de alguém que se foi e não vai mais voltar, mas eles não podem se ajudar, então esperam. Não há outra coisa a fazer.

O livro mostra os efeitos de uma morte que, pra todo o resto do mundo, não teve importância alguma, mas que alterou o curso de uma família pra sempre. Haroun foi condenado a viver a vida do irmão, mas sem poder viver, para não correr o risco de ser morto. Sua mãe, condenada a sofrer pelo filho amado, que não voltou, e pela presença do filho errado, que não morreu. Não consigo evitar de pensar que se Haroun tivesse sido morto, Moussa sofreria do mesmo mal. É a tragédia que dói mais. É ter o filho arrancado, sem a menor cerimonia. É ter a vida revirada enquanto o mundo segue seu fluxo. É ver a dor exceder o amor.

Haroun se assemelha muito a Meursault em várias coisas, com uma diferença específica que instaura um abismo entre os dois: Haroun sente muito e não saberia viver de outra forma. Deseja uma condenação não por aceitar o que estava feito, mas por entender a gravidade de seu ato, por sentir o peso de uma vida sobre seus ombros, mais uma.

Camus perdeu de escrever sobre as consequências do crime de Meursault. Ainda bem que Daoud existe.
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jota 07/10/2017

Meursault/Camus, Haroun/Daoud
Ganhador de diversos prêmios literários franceses desde que foi lançado em 2013, traduzido para vários países, O Caso Meursault, de Kamel Daoud, é uma metaficção elaborada a partir do conhecido livro de Albert Camus (1913-1960), O Estrangeiro (1942), um dos mais célebres romances do século XX e que todo bom leitor já deve ter lido uma vez.

Para apreciar o livro de Daoud não é necessário conhecer profundamente o clássico de Camus. Nem mesmo tê-lo lido (embora isso faça alguma diferença, claro), pois a toda hora Daoud nos lembra o que aconteceu em O Estrangeiro, em que o personagem Meursault, "por causa do sol" mata numa praia de Argel, com vários tiros, um árabe anônimo.

Esse árabe, durante muitos anos desconhecido, agora sabemos que se trata de um argelino e que tem nome, Moussa: sua história nos é contada pelo irmão mais novo, Haroun, que usa as palavras para produzir um confronto não apenas com o francês assassino Meursault, também com Camus, o autor franco-argelino.

Ao mesmo tempo Haroun, numa longa confidência, que é isso que o livro é, conta sua própria história e de sua mãe, que sonhava vingar o filho morto por Meursault através da morte de um estrangeiro, quer dizer, de um francês - como é dito a certa altura do livro, a religião proíbe apenas que um muçulmano mate outro muçulmano.

Haroun também fala um pouco sobre a história da própria Argélia, então colônia francesa na época de Meursault, da libertação em 1962 e depois da independência, parecendo dizer que a vida era melhor nos tempos da colônia, ou que as ruas não eram tão sujas, malcheirosas ou perigosas; quando não havia tanta religião, as mulheres andavam mais descobertas e se podia beber vinho à vontade...

O Caso Meursault não é uma leitura empolgante, mas interessante, reflexiva, e nisso por vezes ele dialoga com a obra de Camus. Cujos livros se preocupavam não apenas em contar histórias mas igualmente em fazer com que os leitores tomassem contato com suas ideias a respeito do mundo, da vida. Mais ou menos como faz Haroun, daí que Le Monde escreveu que o livro de Daoud "No futuro será lido como um par de O Estrangeiro", conforme consta da presente edição brasileira.

Minha avaliação: 3,8

Lido entre 30/09 e 06/10/2017.
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Peleteiro 09/12/2019

Genial e desconcertante
O livro poderia pecar pela constante repetição sobre os fatos que motivam o monólogo, e pela ausência de diálogos, entretanto, a narrativa magistral que Kamel desenvolve com genialidade insere o leitor em tantas reflexões, com uma linguagem tão fluida e encantadora, que essas questões ficam em segundo plano. De fato, este livro complementa ?O estrangeiro?, consolidando, na literatura, a questão filosófica essencial presente no embate entre oriente-ocidente.
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Lívia 05/06/2022

O caso Meursault
"Essa desproporção entre a minha insignificância e a vastidão do mundo me choca."

Livro interessante.
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bruna 28/06/2023

"É por isso que farei o que se fez neste país depois da sua independência: pegar uma a uma as pedras das velhas casas dos colonos e erguer com elas uma casa minha, uma língua minha"
vou elencar os pontos postivos que se destacaram pra mim:
- a descrição da situação política, a relação colonos x nativos, a guerra se libertação
- o impacto da morte do irmão na sociabilidade/socialização em Haroun e na relação com sua mãe
- a forma como o narrador faz você "esquecer" que o estrangeiro é ficção, de tão realista que tudo fica
- a ênfase que se dá ao leitor do livro
- os paralelos diretos com o estrangeiro

enfim, gostei muito do livro, ele propõe um diálogo muito pertinente com a obra do Camus e traz a tona questões que permeiam os debates atuais acerca da existência, achei um excelentíssimo complemento.
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Pedro Felipe 18/08/2020

"HOJE MAMÃE AINDA está viva.
Ela não fala mais, mas poderia contar muitas coisas.
Ao contrário de mim, que de tanto remoer essa história já quase nem
me lembro dela"
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