Carina 11/12/2011Mitos em contextoInfelizmente, há muito poucos títulos publicados em português que abordem a mitologia celta. Quando um novo livro chega às livrarias com um título que sugere que o volume trata das mitologias do mundo, em geral ele aborda apenas as mitologias grega, romana e egípcia, não indo muito além dessas culturas chamadas clássicas.
Em sua maioria, os poucos livros lançados no Brasil especificamente sobre a mitologia celta têm uma abordagem de estudo, apresentando os mitos de acordo com as primeiras fontes e manuscritos, abordando as diferenças entre as versões e as relações dos mitos que chegaram até nossos dias com o que sabemos sobre a cultura celta por outras fontes.
Fato é que há uma lacuna no mercado editorial brasileiro no que diz respeito a livros que de fato mergulhem no universo da mitologia celta e nos falem desses mitos a partir desse Outro Mundo ao qual eles nos abrem as portas. O livro de Christian Léourier preenche essa lacuna: suas recriações de alguns mitos da cultura celta fazem mais do que nos apresentar à mitologia desse povo – elas nos fazem mergulhar em seu dia-a-dia, nos fazem viver de fato entre os reis e guerreiros, deuses e paisagens, nos levando a respirar e vivenciar os seus costumes e seus valores.
O livro entretém o leitor qual este estivesse em torno de uma fogueira a ouvir as palavras de um bom bardo celta. Mas não é só isso, pois a função bárdica não se esgota no entretenimento. Através das estórias de heróis e nobres, deuses e criaturas do Outro Mundo, podemos aprender sobre a força das mulheres, guerreiras e druidesas; sobre igualdade e equilíbrio, e sobretudo a respeito da honra, um conceito central na vida dos celtas.
Obviamente, para fazer tal trabalho é necessário fazer algumas escolhas, uma vez que, como sabemos, os mitos celtas chegaram aos tempos modernos em variadas versões. Às vezes as escolhas feitas pelo autor (e outras feitas pela tradutora) podem surpreender, por não corresponderem ao que se costuma ter como “certo”, e podem desagradar os mais puristas. Mas raramente essas escolhas chegam a atrapalhar a verdadeira “imersão” nos valores da cultura celta que o livro oferece. E esse me parece ser justamente o maior trunfo da obra.