Alec Silva 19/05/2017
Se os dinos existissem vivos, entrariam em extinção após este livro
Dinossauros são as criaturas mais fascinantes já extintas. Ao menos para mim. E sempre que fico sabendo de uma obra que aborda esses incríveis animais pré-históricos, podem ter certeza, há um misto de euforia e receio, pois acidentes terríveis acontecem.
Dinossauros, assim como sua semelhante norte-americana, é um desses terríveis acidentes.
Quando vi a chamada para esta coletânea, fiquei bem animado em tentar, mas não tive, na época, um plot que valesse a pena. E eu não queria fazer "mais do mesmo", contar qualquer história, e sim uma que fosse, se não original, pelo menos divertida e fizesse uso de dinossauros e outros animais pré-históricos. Que pena que muitos dos que foram selecionados não tiveram a mesma consciência e responsabilidade.
Um dos maiores problemas de Dinossauros é a ausência de dinossauros em diversos contos: ou temos alienígenas descritos de forma a parecer dinossauros ou temos mutantes humanoides com características de dinossauros ou qualquer coisa semelhante. A partir disso, os problemas são individuais, com histórias pouco empolgantes (mesmo quando com dinossauros legítimos), cenários criados de maneira forçada, dentro de um mundo cuja realidade difere da nossa, para que suportem seres sáurios, cenas de estupros grotescas... tudo salpicado por uma revisão que deixou passar muitos erros em alguns momentos.
Há realmente bons a ótimos contos, acho que até mais do que a Dinossauros!, que contava com autores bastante conceituados, mas o saldo não é muito positivo, pois, em nome de um livro volumoso, muitos textos ruins passaram, histórias problemáticas foram selecionadas e o organizador fragmentou uma ideia que poderia muito bem ser contada numa única e mais interessante tacada.
NOTA: 2,625
Abaixo, para ser justo com cada conto, as notas individuais de todos os contos (usando como base notas de 0 a 5):
Garota-Dinossaura e os Especistas [Gerson Lordi-Ribeiro]
Após um prefácio mais perdido do que paleontólogos debatendo teorias, temos o primeiro conto da antologia, escrito pelo organizado. Lembro de quando saiu a lista de participantes e títulos das histórias, e esta foi a que logo saltou na cara como um dos contos possivelmente mais fracos. Acertei em cheio! Trata-se de um conto que começa sobre uma adoção humana por selenossauros, uma espécie racional de dinossauros que reapareceu por meio de uma nave (a história não detalha isso muito bem, mas dá pistas). Só que muda de tom ao falar sobre uma viagem temporal ao Cretáceo, anos depois, e tendo a garota criada por selenossauros como única participante. O problema é que não empolga, não convence e o teor sócio-político que o autor tenta passar é risível, igual a insistência em homenagens mal elaboradas (destaque para um personagem chamado Som do Trovão e, posteriormente, citado como Reboar do Trovão). Como abertura, ficou devendo. E muito.
Nota: 0,5
Bandeirantes & Dinossauros [Sid Castro]
É um conto bastante simples e divertido: um encontro inusitado entre bandeirantes e dinossauros, como o título já deixa bem claro. Escrito de maneira eficiente, o autor faz uso de termos nacionais, com contexto histórico bem abordado e dinossauros brasileiros (as notas ao final do conto são um primor, e as li sorrindo de satisfação). É uma prova de que não precisa inventar mil artimanhas para se contar um bom conto com dinossauros... ou dragões.
Nota: 4
Atavismo: um estudo [Bruno Anselmi Matangrano]
Tem o plot típico de um filme B ou C: experiências com galinhas para criar dinossauros, porém é muito bem escrito, divertido e empolgante. Não possui toda a emoção do conto anterior, mas não faz feio.
Nota: 3,5
Civilizado [J. M. Beraldo]
Duas impressões ficaram: o conto é um pedaço de um mundo maior e é desprovido de qualquer vontade. O autor usou um mundo próprio, com uma história diferente da nossa, forçou a inclusão de dinossauros (aqui chamados de dragões e comparados a todo momento com lagartos). Nada contra, mas o conto é moribundo do começo ao fim, sem emoção e sem graça.
Nota: 1,5
Garra e dente [Nuno Almeida]
Foi um dos contos mais difíceis de serem lidos pela forma pouco empolgante que os eventos são apresentados. devendo bastante até chegar ao final, que consegue dar uma melhorada no conto. O fato de as informações serem fragmentadas e oportunas demais atrapalha bastante.
Nota: 1,5
O domo, o roubo e o guia [Roberta Spindler]
Um dos melhores contos da antologia. O mais legal de tudo é que nem chega a ser scifi, e sim fantasia; a autora apresenta a cidade em meio a uma floresta pré-histórica de maneira orgânica, sem se esquecer da história que conta. A única ressalva é a revisão, que deixou passar uma dúzia ou mais de pequenos erros.
Nota: 5
Os filhos que te dei, Oxalaia [Cirilo S. Lemos]
Não é um conto ruim. Durante a leitura, pensei bastante em Distrito 9, mas com lagartos extraterrestres; ou seja, é um conto que não possui dinossauros, por assim dizer, mas pega sua figura e põe numa raça. O maior problema está no começo extremamente cansativo, bem diferente do tom assumido na metade, mais ou menos. Não é um conto ruim, mas exige bastante atenção até mostrar a que veio; e é um dos textos que mais pecou em revisão, infelizmente.
Nota: 3
Homossauros [J. R. R. Santos]
Tem uma premissa interessante, é de leitura fácil; contudo carece de uma edição mais atenta (e a revisão ficou devendo de novo, aliás), para dar mais emoção aos eventos. O autor focou muito na ação, tornando o texto ágil e facilmente esquecível. E, Deus, mutantes híbridos não são dinossauros nem aqui nem na China!
Nota: 2,5
Pampa [Priscilla Barone]
É um conto emocionante e com um dinossauro carismático. Sim, um dinossauro tal qual deveria estar presente em vários contos anteriores. Tornou-se uma das histórias favoritas desta coletânea.
Nota: 5
Pérola Intocável [Felix Alba]
Não é só outro conto que faz uso de criaturas reptilianas para disfarçar ter dinossauros. É o conto mais escroto da coletânea também! Nas vinte e tantas páginas que se seguem, a protagonista sofre todo tipo de tortura e abuso, servindo como empregada, animal de pele, sendo estuprada por inúmeros machos da raça invasora, além de engravidar e ser estuprada todos os dias durante a gestão. Um dos trechos mais chocantes e de mau gosto surgiram nas páginas finais: [...] Ele me invadia. Mais uma vez. E eu não podia fazer nada. [...] Eu estava ficando louca. [...] Meu estado quase vegetativo. Como um cadáver vivente. Deitada. De pernas abertas. Despida. Com frio. [...] Envolvo-o em meus finos braços trêmulos. Algo em seus olhos se surpreende. E se excita. Sinto sua verga rija fincar-se mais fundo. O gosto de sangue me brota por dentro. [...] O ser em meu ventre me diz que agora possuo força. É uma piada de mau gosto. Porque não tenho. Cruzo minhas pernas por trás de sua cintura esguia. Desço ao seu ventre, rasgando-me por completo. Ouço o som de algo sair do lugar, de ossos se quebrando. [...] Em resumo, a protagonista está grávida de uns oito a nove meses e é estuprada por um alienígena reptiliano (ela é estuprada diariamente, e pela manhã dão uma pílula pra se regenerar). Seja qual for a intenção do autor, ele perdeu um leitor. E a editora que permitiu esta abominação também.
Nota: 0
Pobre Al [Rodrigo van Kampen]
O autor nos apresenta um bom conto com/sobre dinossauro. Ainda que seja um dinossauro artificial, meio robótico no cérebro, o que lhe permite agir muito próximo ao ser humano, conserva a aparência de dinossauro. É uma história simples, mas bem contada, tocando no emocional às vezes. E inclui com naturalidade um casal gay juvenil.
Nota: 3,5
O relatório veio do espaço [A. Z. Cordenonsi]
Tem uma premissa que me lembrou bastante a série inglesa Primeval. Bem narrado, a presença dos dinossauros é apenas um detalhe para forçar a participação na antologia, pois o desfecho remete muito mais ao livro Planeta dos Macacos. Mas é um bom conto, de todo modo.
Nota: 3,5
A Senhora Müller vai de ônibus [Simone Saueressig]
É um conto breve, o menor da coletânea, e divertido, com uma premissa tão simples e improvável que até perdoo o erro grotesco na descrição do dilofossauro, aqui apresentado tal qual vimos no filme Jurassic Park.
Nota: 3,5
Uma família feliz [Flávio Medeiros Jr.]
É um conto de fantasia muito bom, embora com alguns pequenos deslizes. Possui um toque sobrenatural muito bem apresentado, sendo, por parte dos autores masculinos, um dos poucos contos que não me fez passar raiva.
Nota: 4
Ainda além de Taprobana [Antonio Luiz M. C. Costa]
Quando iniciei a leitura, a impressão que tive foi a de estar lendo uma fanfiction pseudo-erudita inspirada em King Kong e O Mundo Perdido, com referências forçadas a obras da literatura brasileira. A coisa se tornou ainda pior depois de aparecer um "Gojira", tornando o texto um recorte de referências que, embora escrita de maneira simplória, não possui qualquer alma e interesse.
Nota: 0,5
Emissários de Nêmesis [Gerson Lodi-Ribeiro]
Segundo conto do organizador, nem seria lido, pra começar, afinal o primeiro foi horrível, servindo como um prólogo entediante para esta segunda história, que não achei tão ruim quanto a anterior. O maior texto do livro, ocupa mais de 40 páginas, tudo em primeira pessoa no presente, e encerrei sua leitura após um erro grosseiro na descrição dos velocirraptores.
Nota: 1