Leila de Carvalho e Gonçalves 02/11/2017
Poirot E Catchpool De Volta
Em 1975, pouco meses antes de Agatha Christie falecer, chegou às livrarias o ultimo caso de Hercule Poirot. "Cai o Pano" encerra a brilhante carreira do detetive, 55 anos de atividade, conforme o desejo da escritora.
No entanto, em 2014, uma novidade sacudiu o mercado editorial. "Os Crimes do Monograma" trouxe de volta o excêntrico belga, solucionando uma série de assassinatos ocorridos num elegante hotel londrino, durante o final da década de vinte. Escrito por Sophie Hannah e com a chancela da Acorn Media Group, dona dos direitos autorais da Rainha do Crime, o livro foi considerado um sacrilégio por boa parte de seus leitores.
No meu caso, relutei, mas acabei cedendo à curiosidade e confesso que fiquei decepcionada. Ao invés de um caso complexo, esbarrei numa narrativa excessivamente intrincada, exibindo um Poirot cujo temperamento e método investigativo divergiam do original.
Dois anos depois, a publicação de um nova aventura do detetive, "Caixão Fechado", só despertou meu interesse, após ouvir alguns elogios e, de fato, Sophie Hannah corrigiu problemas e cometeu alguns acertos, merecendo destaque:
- A opção por uma narrativa inspirada numa obra de Shakespeare, o drama histórico "O Rei João". Agatha Christie era leitora assídua do bardo inglês e já usara do mesmo expediente várias vezes. Dois bons exemplos são "Cipreste Triste" ("Macbeth") e "Seguindo a Correnteza" ("Júlio Cesar").
- A trama remete a assuntos recorrentes a obra da escritora: uma família marcada pelo ressentimento e um testamento alterado inesperadamente. Curiosamente, o único beneficiário passou a ser um doente terminal, com pouquíssimo tempo de vida e nenhum herdeiro.
- Poirot surge verossímil, com seus maneirismos habituais e, sobretudo, volta a usar as células cinzentas, deixando para trás suas "premonições" bastante criticadas em "Crimes do Monograma".
- O policial da Scotland Yard, Edward Catchpool, retorna como narrador e parceiro do detetive na investigação. Dessa vez, faz lembrar Hastings em sua melhor forma, deixando para trás o papel de "bobo da corte" que, infelizmente, desempenhou em sua estreia literária.
- O título foi muito bem escolhido e seu real entendimento só pode ser alcançado no final da narrativa.
Com relação aos problemas, Sophie Hannah novamente erra na medida. Complica demais a história, exibindo excessivos diálogos, coincidências e justificativas. Senti falta da forma fluida e elegante que Agatha Christie conduz a narrativa e, sinteticamente, exibe uma conclusão inesperada, porém, plausível. Em "Caixão Fechado", a execução do crime desponta pouco crível, levando a constatar que Poirot e sua criadora foram feitos um para o outro.
Finalmente, optei pelo ebook, pois estava em promoção por um preço convidativo. Com índice ativo completo, a Harper Collins Brasil apresenta uma boa edição, exceto pelas plantas da casa de Lady Playford que aparecem num tamanho muito reduzido.