Meia-noite e vinte

Meia-noite e vinte Daniel Galera




Resenhas - Meia noite e vinte


55 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3 | 4


Zeka.Sixx 05/09/2017

Um brilhante retrato de uma fugaz época
Entendo quem não tenha achado o livro grande coisa, parece-me realmente que não é uma leitura que desperta o interesse de todos. Para mim, foi algo viciante, até mesmo pela minha familiaridade com o universo do livro: a cidade de Porto Alegre - e sua assustadora decadência, aqui brilhantemente retratada -, a "midlife crisis" antecipada da minha geração - a única a abraçar o mundo pré e pós-internet com a mesma intensidade -, as lembranças dos sonhos dos jovens e da vibrante vida noturna da cidade no final dos anos 90 e início dos anos 2000, as referências ao mítico e-zine Cardosonline...
Galera talvez tenha mirado em um grupo seleto, mas ao acertá-lo, acertou em cheio, criando uma narrativa fantástica.
Sim, os personagens são um tanto clichês. Mas não somos todos nós, no fim das contas, clichês ambulantes, de certa forma?
Meu único porém ao livro é que ele poderia ser melhor desenvolvido: parece que acaba quando a história vai engrenar de vez, deixando um gosto de "quero mais" após tantas páginas desenvolvendo tão bem os personagens e o cenário. Senti que havia história para mais umas 50 ou 100 páginas, tranquilamente.
Um dos melhores livros nacionais que li nos últimos tempos.
comentários(0)comente



Tsutsui Takaji 21/07/2017

O cotidiano de alguns minutos
A premissa do livro inicia-se com a morte de Andrei, o único de uma turma de "Comunicação" da década de 90 que seguiu a carreira de escritor. Junto com Aurora, Emiliano e Antero fundou uma fanzine no alvorecer da Era da Internet. Anos depois do projeto fadado ao fim, é morto em assalto e essa notícia é recebida com surpresa pelos três colegas. Uma narrativa em poucos capítulos, com pontos de vista alternando entre alguns que já foram próximos do escritor morto, povoada por técnicas sofisticadas, detalhes e um fluxo de consciência contínuo, explorando temas como sexismo, pornografia, alienação e amadurecimento (ou não), o quinto livro de Daniel Galera explora a própria geração, percorrendo as entranhas e fetiches de seus personagens.

Nos dois livros anteriores, Cordilheira e Barba Ensopada de Sangue - um romance que veio para agitar o cenário literário brasileiro, com marcas de regionalidade e pós-modernismo -, as principais características são uma firmeza literária ajuntada de temas não tão comuns, adicionados à um personagem "inadequado" e carismático. Embora os personagens desempenhassem grande parte do teatro desses dois, havia a presença de um roteiro que percorria toda a história. Em Meia-noite e vinte, esse roteiro é substituído por uma prolixidade experimental do escritor, que relatou que o projeto foi realizado em "explosões de criatividade" durante intervalos de outros projetos.

Talvez este simbolize uma mudança na trajetória do escritor, ou talvez seja só um relapso de liberdade entre romances mais densos. Invés de um arco de personagem mais bem construído, temos um relato quase do cotidiano, um ode ao próprio talvez. Dado certo momento, uma personagem diz que todos as reflexões filosóficas do mundo retornam para Mito de Sísifo, de Camus, o maior representante do absurdismo - onde temos Sísifo, o mito, erguendo sua pedra todo dia e sorrindo para o absurdo (resumindo quase ofensivamente). O principal instrumento literário, o fluxo de consciência, provém de outro romance que preza o herói do cotidiano; Ulisses.

As questões abordadas pelo livro são tipicamente pós-modernas; há solidão, há tédio, há metalinguagem. No entanto, o principal tema é uma juventude perdida, uma crueldade clássica, e também a relação dos personagens com essa perdição, com uma ansiedade quase infantil por um fim do mundo. Anos depois de terem atingido o ápice de suas vidas, os protagonistas ruminam memórias dos anos de e-zine e tentam vivenciar novamente o fim do milênio, seja com sexo, biografias ou exercícios físicos.

Os personagens de Emiliano e Aurora (que ecoa um pouco de Molly Bloom) são muito bem explorados, enquanto Antero é um poço de superficialidade (talvez proposital?), mas são todos ecos de uma geração que agora degrada-se no próprio anseio e fetiches, em conflito com a nova era. Antero, por exemplo, não corta seu cabelo curto desde a juventude, também é capaz de participar de uma manifestação ou fazer uma palestra sobre 120 dias em Sodoma - e o leitor é levado a questionar, se esse personagem que entramos em contato é ele mesmo ou um reflexo do que ele quer ser.

Temos também o deleite de aproveitar um Porto Alegre do passado e um Porto Alegre intermediário, junto com as manifestações de 2013, o que não deixa de ser uma satisfação, pois ainda há uma fantasia de que os grandes romances se passam fora do Brasil.

Embora empalideça um pouco ao lado de Barba ou Cordilheira e a prolixidade às vezes o prejudique, o novo romance de Daniel Galera é uma possível mudança para a escrita deste, mais experimental, mais estilosa, e é essencial para os seus fãs, nem que seja por pouco mais que vinte minutos.

site: http://uselesslyhysterical.blogspot.com.br/2017/07/meia-noite-e-vinte-resenha.html
comentários(0)comente



Aline T.K.M. | @aline_tkm 30/06/2017

Geração ICQ
Meia-Noite e Vinte é o sétimo livro do autor do incrível Barba Ensopada de Sangue. Aqui, ele traz a juventude desiludida dos anos 1990 enfrentando as questões da vida adulta, em meio às memórias de um tempo que não volta mais.

Três amigos se reencontram, após anos sem se verem, para o enterro do quarto integrante do grupo que eles um dia foram quando jovens. Entre o luto e os dilemas da vida atual, eles rememoram a juventude, vivida numa época marcada pelo boom da internet e por uma espécie de desesperança – de certa maneira, um presságio de tudo aquilo em que o mundo se tornaria nos anos que se seguiram.

Duque, ou Andrei Dukelsky é morto em um assalto nas ruas de Porto Alegre em janeiro de 2014. Escritor famoso, mas um tanto discreto, ele foi ao longo dos anos saindo do mundo online, deixando de atualizar algumas redes sociais, deletando seu perfil em outras, enfim, borrando seus rastros na web.

Sua morte prematura deixa inconformada uma legião de fãs e também uma esposa que não sabe muito bem lidar com o papel que agora esperam dela. Ela apenas trata de cumprir as orientações que o marido lhe havia deixado caso um dia acontecesse algo com ele: destruir seus manuscritos e apagar completamente todos os seus perfis online.

A tragédia também é responsável pelo reencontro de Aurora, Emiliano e Antero. Junto com Duque, quando jovens eles mantinham o e-zine Orangotango, que bombou lá no começo da popularização da internet, no final da década de 90. Deles, apenas Duque continuou no ramo da escrita. Emiliano foi para o jornalismo e, logo após a morte do amigo, acaba recebendo a difícil proposta de escrever a biografia de Duque.

Aurora seguiu a área de biológicas e vive uma estressante batalha acadêmica na universidade. Ela é apaixonada pelo que faz, mas sente certo vazio dentro de si e sofre para encontrar a medida entre a maturidade e a inocência dos tempos de garota.

Já Antero é um publicitário de sucesso que, na juventude, fez um vídeo que viralizou na web, garantindo a ele certo sucesso e moral com as garotas. Atualmente bem-sucedido, casado e com um filho pequeno, Antero tenta digerir o fato de que as coisas – e ele mesmo – já não são como nos tempos passados.

A narrativa sempre deliciosa do Galera aparece aqui repleta de referências aos anos 90 – quem foi jovem nessa época vai se identificar horrores!

A gente mergulha no mundo particular de cada um dos amigos e em suas lembranças com Duque. E também seguimos o início do processo de pesquisa de Emiliano para a biografia do amigo escritor, pesquisa que o levará a descortinar alguns fatos sobre Duque que o deixarão um tanto perturbado.

Um mundo em pedaços com um fim já profetizado, um bug que afetaria todos os computadores na virada do milênio, um presente sem muita margem para grandes perspectivas sobre o futuro. Quinze anos depois, a constatação de uma vida tão diferente e, ao mesmo tempo, tão ligada àqueles dias do passado. Dias de desilusão, mas dias de ouro.

Meia-Noite e Vinte traz, sim, um pessimismo em suas entranhas. Mas, no fim das contas, mostra que o que restou daquele mundo não são apenas cinzas e coisas mortas. Talvez haja, ainda, uma luzinha de esperança escondida nos lugares menos prováveis, especialmente dentro de cada um.

LEIA PORQUE
Escrita cativante + trama envolvente sobre pessoas, sobre uma época, sobre uma geração + referências que levam o leitor de volta à infância e juventude = livro arrasador, na certa! Taí a fórmula perfeita para uma leitura que vai te deixar tudo, menos indiferente.

DA EXPERIÊNCIA
Eu quis muito um Pense Bem, passei noites no ICQ, baixei músicas no SoulSeek... Isso é só para vocês terem uma ideia de como esse livro dialogou comigo. Leitura excelente!

FEZ PENSAR
O também sensacional A Maçã Envenenada, de Michel Laub, traz os anos 90 com uma pitada singular de pessimismo, mas com um quê de luz no fim do túnel. Um livro sobre memórias dolorosas, escolhas e extremos.

site: http://www.livrolab.com.br
comentários(0)comente



Renata (@renatac.arruda) 30/11/2016

Daniel Galera busca inspiração nos tempos em que sua carreira estava no início, quando escrevia para o Cardosonline ao lado de Clara Averbuck, Daniel Pelizzari e outros, para mostrar o contraste entre uma geração que prometia muito e sonhava alto e o que de fato ela se tornou.

O livro mostra o ponto de vista dos personagens Emiliano, Aurora e Antero, basicamente refletindo sobre o passado e encarando o presente, que voltam a se encontrar quando o mentor do antigo grupo de juventude e escritor de sucesso, Andrei, é assassinado nas ruas de Porto Alegre.

Repleto de referências à segunda metade dos anos 90, alguns dos temas abordados refletem o nosso tempo e são quase 'Radioheadianos': alienação, tecnologia, solidão, relações líquidas, dinâmicas de poder e uma humanidade que segue rumo ao apocalipse. Apesar disso, há otimismo. 'Meia-noite e vinte' é mais dinâmico e direto do que 'Barba Ensopada de Sangue', mas mantém a sensibilidade e o olhar perceptivo do autor.

A Companhia das Letras fez uma playlist no Spotify para acompanhar a leitura, mas eu acho que é pra ler ouvindo o álbum Kid A, de Radiohead.

Siga @ProsaEspontanea no Instagram: https://www.instagram.com/p/BNNeHsbDA0F/
comentários(0)comente



vinigiorge 12/10/2016

Daniel Galera em novo livro raso e sem clímax
Em Meia Noite e Vinte, podemos ver, sem dúvidas, um Daniel Galera ainda mais maduro como escritor e, firmando-se como um verdadeiro literato brasileiro contemporâneo. Apesar disso, acompanhando desde o início sua trajetória, esperava muito mais de Meia Noite e Vinte.
Há alguns aspectos muito positivos, como a construção da identidade das personagens, e há outros bons destaques sobre a própria narrativa. No entanto, depois de ler Barba Ensopada de Sangue, esperava um livro muito mais completo e fascinante -- o que fez deste novo um pouco decepcionante.
Talvez eu tenha criado muita expectativa e por isso ter me frustrado, mas o que senti ao ler é que há um gancho excelente para o livro, mas que foi explorado de forma muito superficial. É um livro que não sai do morno, não tem nenhum grande clímax. Se não fosse escrito por Galera, teria abandonado antes de concluir.
David Atenas 09/01/2017minha estante
Creio que não se deva criar quaisquer expectativas em torno da literatura do Galera.




Tiago 09/02/2017

Trying too hard
Se os detalhes as vezes nos fazem compreender o todo, alguns deles em "Meia-Noite e Vinte" chamam muito a atenção. Um romance contemporâneo brasileiro que tem protagonistas e personagens na casa dos 30 e poucos com nomes como Aurora, Maximiliano, Antero, Andrei e Manfredo (?!?!) demonstram uma vontade muito grande de ser diferente, único. Praticamente hipster, apesar de em algum trecho do livro um dos protagonistas criticar um garoto e o classificar desta forma.

Em meras 200 páginas Daniel Galera também quer abraçar o mundo. Morte, depressão, drogas, sexo, amizade, ética, feminismo, homossexualidade e por ai vai... Todos os temas possíveis que afligem os adultos saudosos de sua juventude que agora se vêem oprimidos pelo cotidiano estão presentes neste livro.

Mas se por um lado o autor não dá conta de tratar de tudo, por outro há que se elogiar sua coragem de tentar e em alguns aspectos atingir êxito, A questão do sexo na vida dos seus personagens, por exemplo, consegue alcançar notas bastante profundas e íntimas. A maneira como o romance é estruturado também é interessante, intercalando narradores e colocando como eixo de ligação um personagem bastante complexo.

Irregular, "Meia-Noite e Vinte" é um livro que transpira sentimentos depressivos, desânimo, fadiga e falta de crença na humanidade. Porém, ao tentar criar personagens que justifiquem e embasem tais sentimentos, Galera fica no meio do caminho e não consegue tornar nenhuma das figuras de nomes "exóticos" de sua trama memoráveis.
comentários(0)comente



mardem michael 02/05/2017

As angústias e incertezas de uma geração
Que grata surpresa conhecer o trabalho de Daniel Galera! Em meia-noite e vinte, acompanhamos as memórias, frustrações e angústias de personagens de meia idade. Uma bióloga em busca de seu título de doutorado. Um publicitário de sucesso. Um jornalista sexualmente confuso e um escritor supostamente assassinado no auge de sua carreira. Daniel Galera nos expões a contradições de vidas que se entrelaçam. A vida de quem viu nascer a era da internet. A vida de uma geração. Muito bem ambientada, exemplificada e escrita, essa história mexeu muito comigo!
comentários(0)comente



01/01/2021

Especial para quem tinha entre 18 e 25 na virada do milênio
Três antigos amigos se reencontram após muito tempo na ocasião da morte de um dos amigos da juventude. Relembram o ano de 1999, quando tinham 18 anos e uma vida de possibilidades. Os rumos e as experiências foram diversas, e esse encontro em 2014 acaba por balançar as convicções de cada um deles. Especial para quem mora em Porto Alegre e tinha ao redor de 18 anos em 1999; acontece bastante identificação (super te entendo, Aurora!)
comentários(0)comente



Djeison.Hoerlle 10/01/2024

Começou maravilhosamente bem, talvez o melhor Galera depois de Barba Ensopada de Sangue e o desenvolvimento tava sendo igualmente satisfatório, mas senti, ao final, que o autor simplesmente cansou de escrever, interrompendo abruptamente uma narrativa que parecia pedir, ainda, mais umas 150 páginas.

Dá uma certa amargura imaginar a grande obra que Meia Noite e Vinte podia ter sido.
comentários(0)comente



Poli 19/07/2020

?[resenha 04/2018] Meia-Noite e Vinte? por Poli Lopes https://link.medium.com/b6o9Kxjkg8
comentários(0)comente



Achados e Lidos 22/01/2017

Dramas contemporâneos
Daniel Galera se tornou uma espécie de “fenômeno literário” brasileiro com Barba Ensopada de Sangue, lançado em 2012. Seu novo romance era aguardado, portanto, com uma expectativa enorme. Meia-Noite e Vinte confirma o autor como o expoente maior de uma safra de ótimos escritores como há muito não se via na cena literária brasileira.

O ponto de partida de Meia-Noite e Vinte é justamente a morte de uma espécie de alter ego de Galera, Andrei Dukelsky, descrito como “um dos maiores novos talentos da literatura brasileira contemporânea”. Mais conhecido pelo apelido, Duque foi morto de forma brutal, ao ter seu celular levado durante uma corrida pelas ruas de Porto Alegre.

A tragédia, que chega a Aurora por meio do Twitter, força a aproximação dela com os outros dois narradores do livro, Antero e Emiliano. Juntos, os quatro haviam escrito, na virada do milênio, um cultuado fanzine digital, chamado Orangotango.


O enredo é simples. Trata-se, essencialmente, do reencontro dos três amigos após a morte de Duque, o que os força a voltar a habitar o passado e, sobretudo, entender como chegaram ao presente e qual o futuro possível nas circunstâncias em que se encontram. O domínio de Galera sobre a narrativa, porém, faz com que esse seja um romance de portas abertas.

Cada personagem parece estar afundado em situações-limite. Aurora, uma pesquisadora da área de botânica razoavelmente bem sucedida, é ameaçada de não ser aprovada em sua qualificação de doutorado na Universidade de São Paulo por um professor abusivo. Seu choque com a morte de Duque a encontra em uma Porta Alegre caótica, com ares dignos de Saramago, o que exacerba seu pessimismo com a humanidade.

A fragilidade do homem era tocante. Milhões de anos de evolução desembocando em seres incrivelmente não adaptados ao ambiente do planeta, como demonstrava nosso sofrimento diante de mínimas alterações de temperatura ou falta de substâncias, uma vulnerabilidade humilhante a todo tipo de condição atmosférica, exposição a materiais e outros organismos, para não falar na ainda mais humilhante vulnerabilidade da nossa mente a qualquer baboseira, à ansiedade, à esperança. Éramos inadequados àquela natureza. Não espantava que desejássemos destruí-la.
Em um estado semi-depressivo, vivenciando apenas relações online, Aurora começa a questionar também os limites da ciência – e, automaticamente, de seu papel no mundo. Sua pesquisa sobre a percepção da passagem de tempo pelas plantas, que ao fim poderia até acelerar a produção de alimentos, começa a lhe parecer um problema em si. A terra, na sua avaliação, chegou a um ponto em que mais capacidade de vida significa fim mais próximo:

O ser humano não seria o primeiro organismo a ensejar o próprio genocídio por excesso de vantagem evolutiva, nem nisso éramos especiais.
Antero, um autocentrado diretor de uma agência de publicidade famosa, parece ainda preso em seus experimentos na adolescência, quando escrevia de forma transgressora para o Orangotango. Seu discurso vazio em um TEDx sobre a mídia e a produção de conteúdo capaz de conquistar massas de consumidores é, de certa forma, um reflexo irônico da tentativa de intelectualizar esse meio, disfarçando seu objetivo principal: vender.

Encarregado de escrever a biografia de Duque, Emiliano é um jornalista solicitado, mas que vive uma vida de certa forma decadente, desregrada, sem quaisquer amarras sentimentais.

Por todo o romance, está latente uma sensação de mal estar com a modernidade, uma percepção muito forte de que algo saiu fora do eixo no mundo. Ao dialogar com as manifestações de junho de 2013, um movimento ainda em digestão pela sociedade brasileira, Meia-Noite e Vinte escancara o mau humor que parece ter dominado as relações sociais desde então, uma espécie de azedume que advém de sonhos dilacerados.

Antero relembra a passagem de 1999 para 2000, quando havia a expectativa de um bug nos computadores que causaria panes globais, e que não deu em nada.

Quinze anos depois, o que começava a espalhar seus tentáculos pela sensibilidade de gente adulta e esclarecida como Aurora era outra coisa, uma angústia diferente da tensão pré-milênio. A nova angústia era essa expectativa difusa de um sufocamento vagaroso e irreversível, após o qual não restaria nada.
O estado de espírito dos personagens é algo como uma ressaca moral da década anterior, que se iniciou com as possibilidades abertas pela internet e por um pais que também parecia ter saído do limbo social e econômico. De repente, essa geração parece ter caído na real de que ainda estamos presos a um país capaz de retroceder décadas em um par de anos. Em um mundo que pouco faz para amenizar esse sentimento de fim iminente.

Há também uma forte tensão sexual entre os personagens, uma espécie de desejo latente que pode rapidamente caminhar para o mundo das possibilidades materiais. Uma espécie de espelho para o passado, que pode lhes permitir ser mais honestos com eles mesmos do que hoje, quando já se tornaram maduros o suficiente para construir defesas contra os instintos.

É esse sentimento que faz com que Emiliano não consiga recusar a proposta de escrever a biografia do amigo morto. Duque era avesso a redes sociais, mas depois de sua morte, descobre-se que tinha uma vasta presença online. Sua vida online lhe sobreviveria, e deixaria inclusive algumas respostas sobre o ar misterioso que envolve sua morte.

O leitor, porém, encontrará poucos respostas para seus questionamentos. Meia-Noite e Vinte é um livro conciso, mas que ao mesmo tempo pincela uma gama vasta de assuntos. Com esse livro, Galera também se aproxima de um autor que é sua referência assumida, David Foster Wallace, e seu realismo misturado com fluxo de consciência. Como não poderia deixar de ser, já estamos esperando o próximo livro de Daniel Galera. .

site: http://www.achadoselidos.com.br/2016/11/03/resenha-meia-noite-e-vinte/
comentários(0)comente



David Atenas 09/01/2017

Daniel Galera é um dos mais superestimados escritores "indies" do Brasil. Escreveu cinco obras nas quais são semelhantes tanto nos universos quanto em qualidade. Não obstante escrever bem na maioria das vezes, seus assuntos não são instigantes, muito menos suas reviravoltas, como é o caso deste "Meia-Noite e vinte", considerado por mim o pior livro dele. Aqui, a palavra é Desperdício de Oportunidades, desde o pessimamente aproveitado plot dos amigos se reencontrando nos que seria o primórdio das Grandes Manifestações Nacionais (em 2013) à negligência no papel de um dos protagonistas da trama. Trabalha muito bem dois personagens, em personalidades bem distintas, mas ignora outro. E o andamento da história também pecou pela falta de interesse; por mais que os protagonistas sejam "normais", não quer dizer que a história tem de ser um picolé de chuchu que vez ou outra saía dos trilhos, é claro, com as fantasias repulsivamente homossexuais do jornalista Emiliano.

Depois do superestimadíssimo "Cordilheira" (onde Galera tentou fazer uma protagonista que remetia à sua amiga Clara Averbuck), achei que não fizesse novamente um outro livro tão ruim. Daniel Galera é bem qualquer nota, em toda a extensão de sua carreira como romancista.
comentários(0)comente



Ivandro Menezes 07/10/2017

UM LIVRO SOBRE OS PRIMEIROS QUINZE ANOS DA INTERNET
Tenho este livro desde dezembro de 2016, porém só agora fiz sua leitura. Aguardado com alguma expectativa pelos fãs do autor, o sucessor de Barba Ensopada de Sangue passa-se em Porto Alegre e narra a história de um grupo de amigos que se reencontram para o enterro de um deles, o Duque, em 2014, em meio ao clima das manifestações do ano anterior, uma greve de ônibus e uma onda de calor que invade a capital gaúcha.

Cada capítulo é narrado por um dos amigos (Aurora, Emiliano, Andrei), trazendo seus dramas e a memória de sua relação (encontros e desencontros). Para mim, a verdadeira história não é a desses amigos, mas da primeira geração da internet. Os amigos que formavam um e-zine no fim dos anos 1990, passaram por todas as redes sociais (desde o antigo chat do UOL, passando por redes de encontros, até chagar ao Skype e WhatsApp). Nesse aspecto, soa ambicioso e torna-o lento em muitas de seus trechos.

Confesso que não conseguia largar o livro em uma boa parte dele. Há momentos em que o autor estica demais os capítulos, mas cria contextos em que as lembranças vão sendo inseridas com bastante sagacidade, ou seja, as lembranças não são lançadas ao nada, como um amontoado de fatos passados.

Os personagens são densos (um jornalista freelancer com problemas para assumir seus afetos e relacionamentos, uma bióloga que perdeu a esperança é busca desesperadamente uma conexão verdadeira com outro ser humano e um publicitário bem sucedido que insiste em não crescer) e mergulham numa gama de situações e memórias de um tempo que foi, mas não continua bom.

A escrita do Galera é impressionante, o domínio da linguagem e técnicas narrativas são impressionantes. O uso do vernáculo é rebuscado, mas sem cair no pedantismo ou artificialidade. O enredo é lento. Fica a sensação de que algo está para acontecer o tempo todo e não acontece. Não existe viradas sensacionais ou coisas do tipo. Para alguns leitores, isso pode incomodar.

Um bom retrato da geração nascida na década de 1980, que não nasceu na internet, mas desbravou-a em seu primórdios.

Um bom livro!
comentários(0)comente



Leandrotron 14/11/2016

Fanfic
Infelizmente dessa vez não deu nem pra terminar de ler. O livro e lembra uma grande fanfic.
Diego Lops 04/01/2018minha estante
Que argumentação impecável. :/




Jo Netto 09/03/2018

Amargo, ácido e suave
O livro trata basicamente do modo como os personagens lidam com as frustrações e amarguras da vida adulta, desde escolhas feitas na juventude até às consequências de seus atos recentes ou antigos.
O amargor dos personagens e a forma que o autor trata da dicotomia entre as relações de amizade vs a privacidade de cada um torna a leitura um eterno jogo de gato e rato, onde o leitor é surpreendido por saber para onde a história caminha, sem necessariamente saber como ou a motivação real.

Uma obra que retrata muito bem a amargura da geração dos Milleniuns que chegam agora a vida adulta.
comentários(0)comente



55 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR