Paulo 03/06/2021
Mark Millar é um dos grandes nomes na indústria de super-heróis, tendo já criado algumas das obras mais cinematográficas nos quadrinhos, desde ‘Guerra Civil’ a ‘Os Supremos’, até obras independentes como Kick Ass e Kingsman. O Legado de Júpiter trata-se de uma destas obras independentes, e que está prestes a receber uma adaptação pela Netflix.
Sei que muita gente fala que as obras de Mark Millar são um amálgama de histórias que já vimos antes, e que evocam uma mistura de conceitos já trabalhados em outras histórias. Eu particularmente não vejo problema nisso, não quando isso é bem feito. E de fato, ainda que para alguns O Legado de Júpiter peque em originalidade, certamente ele compensa em diversão.
O Volume 1 nos apresenta a ascensão e queda de Utópico e dos heróis clássicos, com a ascensão de um mundo em que os heróis interferem diretamente na política, e termina com um ‘cliff-hanger’ que prepara o terreno para o surgimento de um movimento de resistência que lutará para acabar com a ditadura mascarada de progresso na América e trazer de volta os ideais heroicos e democráticos defendidos pelo Utópico.
Em ‘O Legado de Júpiter’ Mark Miller opera uma desconstrução interessante das histórias de super-heróis, trazendo uma série de conflitos filosóficos interessantíssimos, principalmente sobre o quanto os super-heróis deveriam ser ativos nas escolhas que ditam o futuro da nação, além de apresentar um conflito de gerações super-heróico (que faz frente à própria juventude de hoje).
O roteiro é extremamente agradável e de fácil leitura, com cenas de ação violentas e frenéticas, porém, a narrativa de Miller é muito ágil, escolhendo quais eventos desenvolver e acaba deixando várias lacunas propositais que fazem com que o leitor ligue os acontecimentos a fim de preenchê-las. Para alguns isso pode ser um problema, principalmente porque ele não desenvolve nem os personagens e nem a maioria dos conceitos que apresenta, que são interessantíssimos. Infelizmente, Milller foca nos conflitos pessoais e principalmente nos embates físicos entre os super-seres, em detrimento das histórias e do universo fascinante que nos apresenta.
No fim, ficamos com um gostinho agridoce ao final da leitura: O Legado de Júpiter é uma excelente história de ação, com um roteiro extremamente agradável e de fácil leitura, e um argumento interessantíssimo, mas que não desenvolve bem nem seus personagens, nem as histórias que apresenta e as questões filosóficas que levanta. Porém, graças à transição de mídias, a série da Netflix pode completar essas lacunas e ampliar ainda mais esse rico universo e a produção pode se tornar um novo marco dos super-heróis na vida real.