Rafaelle 30/11/2020O retorno do nativoEstava enrolando para ler esse livro por puro medo do sr. Hardy e sua fama de realista. Como uma completa romântica, minha tendência sempre é sempre evitar histórias realistas demais pois de desgraças já bastam as da vida real. Então pra mim pófoi uma completa surpresa o tanto que eu gostei desse livro.
Em meio às descrições da charneca, somos apresentados ao lugarejo Egdon Heath e aos cinco personagens que irão mover essa história. Thomasin Yeobright está para se casar com Damon Wildeve. Wildeve está dividido entre seu amor por Thomasin e pela voluntariosa Eustacia Vye. Digory Venn ama tanto Thomasin que está disposto à tudo para vê-la feliz, mesmo que para isso precise ajudá-la a se casar com Wildeve. Clym Yeobright, primo de Thomasin, acaba de retornar de Paris e é nele que Eustacia vê uma chance de melhorar de vida. Triângulo amoroso? Pra quê Hardy faria isso se podia criar um pentágono?
Todos os personagens tem sua importância na trama mas eu diria que Eustacia é quem rouba a cena. Não que ela seja uma personagem agradável, longe disso, na maior parte do tempo eu sequer conseguia gostar dela. Mas é sua personalidade forte e suas ambições que desencadeiam a maior parte dos acontecimentos da trama. Eustacia é uma mulher diferente de todos naquele lugar. Ela detesta a charneca e seu sonho é se mudar para uma grande capital. Por ser diferente, ela é vista pelas pessoas da região como uma mulher estranha ou até mesmo uma bruxa. E a chegada de Clym à Egdon faz ela sonhar com a possibilidade de ir embora para Paris com ele. O que Eustacia não conta é com o fato de que Clym cansou-se da vida na grande cidade e sua ambição é se tornar um professor naquele local.
A história de Eustacia me levou a refletir sobre o papel da mulher naquela sociedade. Seus desejos de mudar de vida não são possíveis de se concretizar a não ser que pelo casamento. O preconceito que as pessoas da região tem com ela ultrapassa o absurdo. O fato de ser mulher com ambições maiores do que casar e continuar levando uma vida pacata em meio à charneca faz ela ser vista como alguém má e errada. Inclusive uma das cenas mais emblemáticas do livro para mim é a que uma pessoa, acreditando piamente que Eustacia é uma bruxa e que precisa se livrar dela, numa espécie de ironia do destino, comete um ato que esse sim poderia ser chamado de bruxaria.
Paixão, ambição, amor, ódio, traição e ingenuidade são alguns dos ingredientes que compõe essa história. Personagens desprezíveis e personagens encantadores. Muitas atitudes duvidosas e muitos erros cometidos por vários personagens levam a trama a lugares onde eu mal conseguia imaginar como aquilo ia terminar. O livro tem um ritmo lento por ser bem descritivo mas não é uma história que desejamos abandonar. Pelo contrário, precisamos saber o que vai acontecer urgentemente.
Thomas Hardy terminou o trabalho de me conquistar com esse livro. Já tinha gostado do autor em Longe deste insensato mundo e virei definitivamente fã em O retorno do nativo. Mal posso esperar por adquirir os outros livros do autor e torço para que mais obras em breve sejam publicadas no Brasil.