Taverneiro 18/05/2017Fantasia brasileira da melhor qualidade. ^^ Esse livro de fantasia e aventura se passa em um Brasil que está começando a ser colonizado. Pessoas de vários lugares estão chegando em um Brasil coberto de densas florestas, povoadas por índios e cercado de lendas e mistérios. Com essa entrada no desconhecido surgiu uma grande demanda de exploradores e aventureiros. Só que nesse mundo os seres místicos existiam de verdade, e o trabalho de exploração de áreas selvagens era muito mais perigoso para quem não conhecesse todas as lendas do povo indígena.
É nesse contexto que conhecemos um de nossos protagonistas: O Gerard Van Oost, um jovem explorador com dificuldades para arrumar trabalho servindo alguma companhia de aventureiros maior ou algum nobre. Embora seja bom com o seu arcabuz e conheça a Europa, ele logo enxerga o fato de que não conhece tão bem assim o lugar onde está tentando se meter, e vai precisar de ajuda para confrontar os perigos da floresta. E é aí que entra nosso segundo protagonista: Oludara, um guerreiro africano que havia sido pego como escravo. Na primeira parte da aventura, O Encontro Fortuito, vemos a história de como essa parceria se forma.
Esse livro se destaca em tantos pontos que é até difícil lista-los XD. Começando pela parte “histórica” do livro. O autor toca em temas como a escravidão, a ganancia dos colonizadores e a exploração da natureza e o abuso ao povo indígena, e faz isso muito bem. Sem excessos e com sobriedade, ele entra nesses temas e toca nessas “feridas históricas” com habilidade. Eu temia que o explorador europeu fosse ser um estereótipo aqui, mas é muito pelo contrário: Acompanhamos um homem “descobrindo” o Brasil nos seus detalhes e aprendendo com isso.
E, é claro, temos a parte fantástica desse mundo! Mitos e lendas da mata são reais. O boitatá, o caipora, o saci… todas essas coisas fantásticas habitam as matas e o autor usa esses elementos com maestria, criando um mundo fantástico com nossa terra do mesmo nível de monstros icônicos com os quais estamos acostumados, como o lobisomem e o dragão, e isso sem alterar em nada (ou pelo menos quase nada) os mitos com os quais trabalha. Ele literalmente mostra que existe mais aventura e coisas iradas aqui do que nós brasileiros costumamos enxergar.
E além dessa construção de mundo show nós também temos dois protagonistas muito carismáticos: Gerard e Oludara!
Gerard Van Oost é um explorador que veio tentar a sorte aqui no Brasil. Ele está procurando alguma companhia de exploração (servir sobre a bandeira de alguém) para não ser deportado para a Europa por causa de uma lei que proíbe que alguém fique na colônia sem fazer nada. O problema é que, mesmo sendo boa gente e muito religioso e bom de mira com seu mosquete, ele logo reconhece ser um ignorante nos perigos da floresta e precisa da ajuda de pessoas mais competentes.
E é aí que entra Oludara, um escravo que foi trazido da África. Gerard acaba descobrindo que Oludara tem muita sabedoria sobre monstros e sobre a selva. Assim, entra em um acordo para liberta-lo em troca da ajuda.
A ideia de aventura e exploração foi muito bem usada aqui. Os dois protagonistas são novos e estão descobrindo um novo mundo. Como derrotar uma criatura, os aspectos curiosos da floresta brasileira, como lidar com seu povo… eles estão em uma busca por mais conhecimento, e isso serve como gancho para nós leitores entrarmos juntos nessa busca.
Acompanhando esses dois somos apresentados aos nossos mitos e lendas de maneira divertida, o que eu imagino deve ser muito legal para quem é de fora e, principalmente, para nós que vivemos com a cabeça muito longe das lendas da nossa própria terra. A jornada desses dois apresenta o Brasil fantástico para os estrangeiros e também nos religa as nossas raízes.
Embora tenham saído como um único volume aqui, o formato dessas histórias é seriado. São novelas curtas que têm uma certa continuidade de uma para a outra, mas também desenvolvem uma trama fechada em cada capítulo. Isso tira o peso de ler algo gigantesco e te dá uma certa satisfação em acompanhar esses personagens. É exatamente essa a linguagem que a maioria das séries de TV usam hoje em dia, e o autor soube utilizar isso perfeitamente no seu livro. Na amazon vocês podem encontrar os capítulos em inglês separados.
A escrita do Christopher é simples e a narrativa é MUITO divertida. A dupla de protagonistas é bem-humorada e tem uma química incrível, sem falar que a ação e a aventura são muito bem utilizadas também. Me lembra muito as histórias de dupla de policiais como Maquina Mortífera 😄 . É uma leitura muito gostosa onde no mesmo capítulo você pode dar risada, se fascinar com as descobertas na mata e sentir a tenção de encarar um monstro que ninguém faz ideia de como matar, e chegar ao final sentindo que passou por essa aventura junto com Gerard e Oludara.
A Bandeira do Elefante e da Arara é um livro muito bom, divertido, empolgante e gostoso de se ler. Além disso, criou um mundo mágico utilizando a nossa mitologia de uma maneira sem igual. Christopher Kastensmidt é um baita autor de aventura e vocês deviam acompanhar o trabalho dele!
E outro ponto de destaque total é que está sendo desenvolvido um RPG da Bandeira do Elefante e da Arara! Fiquem ligados na seção de RPG do site do Autor. ^^
site:
https://tavernablog.com/2017/05/17/bandeira-do-elefante-e-da-arara-de-christopher-kastensmidt-resenha/