Laís Helena 24/09/2016
Resenha do blog Sonhos, Imaginação & Fantasia
A Casa de Vidro é uma noveleta, a primeira publicação da editora Dame Blanche. Ela foi disponibilizada em e-book gratuitamente em várias plataformas, e eu obviamente não iria deixar de conferir.
A história é dividida em duas linhas temporais. Começamos em 1910, quando Eleanor recebe a visita de Stella, uma garota com um dom misterioso: ela é capaz de fazer as plantas florescerem. A história então volta a 1868, e somos apresentados à Casa de Vidro (a estufa) em seu auge, quando exibia flores de cores vibrantes e exóticas e era cuidada por Sebastian, o jardineiro excêntrico que tem o mesmo dom de Stella — um dom que nem mesmo ele sabe explicar.
A narrativa é em terceira pessoa e, em sua maior parte, sob o ponto de vista de Eleanor, embora aqui e ali seja mostrado um pensamento de Stella ou de Sebastian, e também tenhamos um capítulo sob o ponto de vista de Mark, filho de Eleanor. Ela é envolvente e em alguns trechos até um pouco poética. Mas não é nada exagerado: em vez disso, a narrativa construiu um clima de mistério e fantasia que combinou muito com os personagens (Eleanor e Sebastian) e me agradou bastante. A única coisa que me incomodou na narrativa é que ela usa um pouco demais o resumo, e eu acabei sentindo falta de entrar em certas cenas. A revisão, exceto por um ou dois errinhos que escaparam, ficou muito boa.
Gostei dos personagens. Eles foram bem caracterizados e bem desenvolvidos dada extensão da noveleta. Mesmo Mark, que tem apenas um capítulo sob seu ponto de vista, teve desenvolvimento e terminou como um personagem diferente do que era no começo da história, e cada um deles tem suas peculiaridades, características que podem parecer meros detalhes a princípio, mas que servem para torná-los críveis e únicos. Aliás, mais do que em uma trama ou nos elementos fantásticos, o enfoque é nos personagens e em como aos poucos a relação entre Eleanor e Sebastian surge e se fortalece, e eu gostei muito de como isso foi feito. É um romance, sim, mas você não encontrará aqui os momentos melosos e os clichês que tanto irritam os leitores. É um relacionamento que nasceu da curiosidade, dando lugar a uma amizade um tanto relutante (ao menos por parte de Eleanor) e então a um romance, em que ambos se tratam com bastante respeito.
Além disso, a noveleta não se propõe a explicar o dom de Sebastian e de Stella, nem os demais elementos fantásticos que aparecem na história, e isso não se faz necessário. Dá a sensação de ser aquele tipo de coisa que provavelmente tem uma explicação por trás, mas que não é do conhecimento dos personagens, o que acabou me aproximando da história e dando a ela um toque de verossimilhança — afinal, não sabemos explicar tudo o que acontece ao nosso redor, certo?
O final veio devagar, sem trazer grandes surpresas ou reviravoltas, mas foi adequado ao tom da história, e até me deu uma sensação de ciclo. É uma história com começo, meio e fim, apesar de aparentemente ser parte de uma série, e embora não tenha me deixado com aquela necessidade quase irresistível de colocar as mãos no próximo volume (não é o tipo de final que se propõe a isso), eu certamente lerei a continuação desta e outras histórias de Anna Fagundes Martino. Em resumo, foi uma estreia muito boa para uma editora que promete fazer tanto por nós, escritores brasileiros de ficção especulativa.
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