Retalhos e Prefácios 07/02/2017
Um crime, uma culpa, um fantasma
A autora Alice Raposo nasceu no Maranhão mas, após a quarta série foi passar férias no Piauí e nunca mais voltou. Fez cursos de teatro, escreveu peças, cursou até o quinto período período de Odontologia na UFPI, depois cursou Direito no Instituto Camillo Filho. Atualmente é servidora do judiciário trabalhista.
Essas são algumas informações que você pode encontrar na orelha do livro "Maria do Sol", uma grata surpresa a qual tive oportunidade de conhecer através de uma parceria estabelecida com a autora!
Para conhecer mais sobre Alice, clique AQUI e vá até os links na bio da autora!
"Maria do Sol" é um livro curtinho, desses de se ler em "uma sentada só". A narrativa envolvente da autora contribui muito para isso também. No entanto, não confunda a fluidez da leitura com superficialidade. Pelo contrário: trata-se de uma história que envolve dramas psicológicos, mistérios, romance e ainda vai além...
Nesta trama, logo no início, conhecemos Pedrinho, menino tímido e solitário, que vive na cidade com seus pais (Vicente e Sofia), que o tiveram sem qualquer planejamento, ainda jovens, antes de se estabilizarem na vida (contrariando os conselhos de Seu Felinto, pai de Vicente).
Alguns sermões, conselhos e meses depois, nasce então, nosso já citado, protagonista. Porém, Seu Felinto tem pouco tempo de convívio com o bebê, tendo uma morte acidental logo no início do livro e deixando Dona Carlota, sua esposa, sozinha. Esta, decide manter-se na Fazenda, longe da cidade, mantendo o sonho de seu marido.
E é na Fazenda que toda a trama começa acontecer. Pedrinho, até então tímido, conhece a primeira amiguinha que irá lhe fazer sair desse mundo recluso em que se encontra. Maria do Sol, entra em seu quarto e o convence que "o mundo lá fora é bem mais gostoso". Iniciava-se ali uma afinidade entre os dois, e um interesse da parte de Pedrinho, nunca antes tido por ninguém.
Junto desta afinidade, veio também o ciúme. E durante uma festa na Fazenda, algo inesperado acontece: enciumado com a aproximação de Maria do Sol com outros meninos, Pedrinho, sem pensar, joga a menina na piscina. E, ao ouvir, todos gritarem que ela estaria morta, o menino corre, se esconde e depois procura evitar o quanto pode as voltas até à Fazenda.
A vida de Pedrinho na cidade é basicamente pautada na relação com Milena, uma babá que, mesmo após o crescimento do menino, continua exercendo sua função na casa numa espécie de companhia, já que os pais estão sempre ocupados com atividades de trabalho, não aproveitando a companhia, o crescimento e a evolução do menino.
Pedrinho cresce assombrado pelo seu passado, sem conseguir falar com ninguém sobre o ocorrido, sem conseguir estabelecer relações, e sem ser notado pelos pais. Milena o observa, tenta o que pode, mas o bloqueio do, agora já rapaz, a impede de chegar a fundo em seus problemas interpessoais.
Dona Carlota, a avó, é quem observa, junto de Milena, as peculiaridades no desenvolvimento do menino desde menor. E insiste para que os pais o levem a um psicólogo. Estes, como já mencionei, sempre atarefados, negam-se e justificam-se por inúmeras maneiras. A avó, então, muda-se para a cidade e cuida para que o menino receba o atendimento profissional que necessita.
Uma pequena pausa aqui e vamos voltar lá no início deste post, quando eu disse que eu ter adoecido acabou por ser uma coincidência proveitosa...
Setembro é o mês dedicado à campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. A cor escolhida para representar esta campanha é o amarelo!
"Maria do Sol" não aborda o suicídio, mas aborda os fantasmas e monstros que cada um de nós carregamos dentro de nós e que são, de fato, autodestruidores. A campanha de Setembro, vem com um Slogan muito importante: "Falar é a melhor solução!"
Neste romance com muito mistério, acompanhamos a jornada de Pedrinho em busca de seu próprio "eu". Em busca de conseguir recuperar sua vontade de viver verdadeiramente sem carregar, eternamente uma culpa da infância. Acompanhamos algumas conversas com seu psicólogo e como isso é tratado.
Com ajuda do profissional, o olhar atento da babá/amiga Milena, a disponibilidade da avó em mudar sua vida para dedicar-se ao neto, vemos como tudo vai se encaminhando até o clímax do livro, que nos leva à uma conclusão coerente e saborosa!
Como eu alertei, o livro não trata de suicídio. Mas Pedrinho teve quem lhe enxergasse e levasse até a ajuda que era necessária. Muitas, e muitas pessoas não conseguem esse feito, o que culmina no pior.
Leiam este trecho do livro:
"Todos nós, às vezes, somos atormentados por fantasmas que criamos e só existem em nossa cabeça. os monstros que vivem dentro de nós são os piores." - pág. 109
A sensibilidade da autora em contar essa história e conseguir passar tantos ensinamentos, em tão poucas páginas, é um mérito enorme. A edição do livro, suas ilustrações, capa, contra-capa e diagramação, formam um conjunto que nos prova aquilo que já sabemos: Para ser bom, não é necessário que seja um calhamaço. O importante está em cada palavra, em cada emoção, em cada sentimento transmitido da autora para nós. E Alice Raposo conseguiu isso com muito profissionalismo e talento.
Agora, para saber o que acontece com os fantasmas que habitaram em pedrinho durante toda sua infância, adolescência e início da juventude, você precisa ler "Maria do Sol". Porque tudo o que disse aqui, não passa nem da metade do tanto que este livro tem a te oferecer e te tocar!
Que fique um alerta aos pais dessa geração louca, onde precisamos trabalhar cada vez mais, para ganhar cada vez mais dinheiro, para ter cada vez mais coisas, enquanto nossos filhos crescem, debaixo de nossos narizes, sem serem vistos!
Que fique de alerta a todos que rodeiam quem está passando por um momento de reclusão, de tristeza além da conta, de afastamento da sociedade... Olhem para essas pessoas, estendam as mãos. Ofereçam ajuda. Indiquem um profissional. Deem um ombro...
"Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem." (Stephen King) - Pág. 88
site: http://www.aquelaepifania.com.br/2016/09/sentimentos-literarios-maria-do-sol.html