Lauraa Machado 14/02/2018
O final de uma série idolatrada que não merece sua fama
Corte de Asas e Ruína é um livro okay, só isso. Ele foi bem melhor do que eu esperava, mas só porque esperava que ele fosse realmente péssimo, que a leitura das suas setecentas páginas fosse se tornar uma tortura que me tiraria a vontade de ler qualquer outro livro depois. Ele não foi tão ruim assim, mas não chegou nem perto de ser bom de verdade, mais longe ainda de ser ótimo. Precisei desse último livro para perceber que nunca nem vou gostar mesmo da trilogia, que qualquer amor que eu tenha tido por umas duas cenas no segundo livro e pelo final do primeiro não são o suficiente para eu querer lembrar que essa série existe depois de hoje. Estou bem feliz de ter lido esse livro, só porque isso significa que já me livrei de ter que ler para saber o que acontece.
E eu poderia muito bem acabar minha resenha aqui, porque sei que poucas pessoas vão prestar muita atenção em uma crítica ruim quando tudo dessa autora é tão idolatrado, mas eu simplesmente não consigo não falar de tudo que me incomodou durante a leitura.
Diferente da maioria das pessoas que são até fãs dessa série, eu gostei do primeiro livro! Dei quatro estrelas para ele, tirando uma só porque quase o livro todo fica sem propósito e foi o final e a escrita que fizeram ele todo valer a pena. Mas o segundo para mim foi abismal. Nele, não tinha nada de fatalmente errado no enredo (algumas coisas não eram do meu gosto, mas isso era coisa minha). O que me fez dar duas estrelas e meia para ele foi o fato de que os personagens, principalmente a Feyre, tinham tido seus desenvolvimentos do livro anterior destruídos. A Feyre foi de uma personagem forte e madura a uma mimada e birrenta, me dando a impressão de que a autora queria começar um desenvolvimento novo do zero. Esse terceiro livro, por sorte, se livrou de ter que lidar com essa parte e, por isso, consegue ser melhor.
O começo desse terceiro é bom, mas se você está esperando um jogo de espionagem com suspense e momentos de tirar o fôlego, melhor desistir. Eu realmente me diverti com o que a Feyre estava fazendo, mas senti falta de situações mais perigosas e de que ela ficasse nesse meio mais tempo. Parece que esse começo foi algo à parte e logo depois o livro já tinha virado uma continuação exata do anterior, como se o final do segundo nunca tivesse acontecido ou importado (salvo alguns detalhes). Se essa era a intenção da autora, ou se ela não queria mais falar da Feyre na Corte da Primavera (sofro com esses nomes, admito), não precisava ter feito a história levar esse rumo. Fiquei um pouco desapontada quando ele durou menos de cem páginas (em um livro desse tamanho).
Mas ainda não tinha nada de errado propriamente nesse ponto. Até a escrita da autora, que me incomoda bastante não foi o que me fez desanimar do livro, mesmo tendo tantos defeitos.
Eu acho que ela corta capítulos demais, que cria parágrafos onde nem faz sentido e cometeu um belo de um erro quando escolheu escrever na primeira pessoa (dava para ver que ela se arrependia disso, já que teve que criar mil jeitos sem pé nem cabeça para contar cenas pelo ponto de vista de outros personagens além da Feyre). Não sei se essa série foi publicada rápido demais, se teve chance de a autora escrever e reescrever, mas acredito que não. Se ela tivesse já escrito até o final desse terceiro antes de lançar o primeiro, tenho certeza de que iria preferir reescrever na terceira pessoa, porque a necessidade desse tipo de narração estava gritante aqui.
A outra coisa que me incomoda na escrita é que ela aparentemente não foi editada! Tem muita informação repetitiva e situação prolongada além do necessário (pense na reunião de High Lords. Tanta provocação praticamente idêntica sendo falada várias vezes para quê?). Muitos autores hoje em dia parecem pensar que quantidade é qualidade, que quanto maior o livro, melhor, quando não é verdade. Livros consagrados são, na sua maioria, pequenos, com menos de 400 páginas. Escrever um livro de 700 com tanta coisa inútil no meio não faz de você um bom escritor. Ainda mais quando ela correu na parte que eu tinha mais interesse em ver se desenvolver desde que a possibilidade foi mencionada (para quem leu, uma palavra: Ouroboros).
Tem outra coisa que me incomoda. Como falei, a Feyre nesse livro não estava ruim, já que todo o estrago que a autora poderia ter cometido no desenvolvimento dela já tinha acontecido. Mas eu acho que ela estragou o Rhys. Eu já não gostava dele desde o livro passado, porque ele pareceu perder toda a força e a personalidade que tinha quando o romance começou. Mas, lendo esse livro, percebi outra coisa que me incomoda nele. Rhys é perfeito DEMAIS. Demais mesmo, a ponto de ficar enfadonho e mais irreal do que todas as criaturas do livro. Ele é absolutamente perfeito, sempre fala as coisas certas, sempre pensa as coisas certas, é o High Lord mais poderoso que já existiu, é generoso com todo mundo, infinitamente compreensível, controlado em todos os momentos, nunca dá um passo em falso, é altruísta, engraçado, lindo como ninguém, completamente dedicado à Feyre e mil outras qualidades. O Rhys não tem um único defeito! Nunca fez nada de errado que "não fosse culpa dele". Eu realmente não sei como alguém pode ter se convencido por esse personagem, que era mil vezes mais interessante no primeiro livro.
Por falar em perfeição, parte da graça de um livro são os limites impostos aos personagens, os quais precisam contornar. No mundo dessa série, os personagens são muito sem limites. Eles podem voar, podem se teletransportar, se mascarar como outra pessoa, ficar invisíveis, formar proteção de bolhas ou só de som, se curar, trazer alguém de volta da morte, são milhares de habilidades absurdas espalhadas entre poucas "pessoas". Isso tira muito a graça de superar os obstáculos mais básicos. É tudo muito possível nessa história, o que estraga o livro um pouco. (Aliás, o mundo também precisava ser muito melhor trabalhado. O tal continente, muito maior do que Prythian, aparentemente não serve muito para nada, além das criaturas "dos outros mundos" que nunca foram explicadas - e uma delas que foi propositalmente ignorada.)
E uma última crítica para os personagens: por que eles são tão infantis? Por que a Mor, a Amren e os Illyrians, guerreiros incríveis e legendários, ficam mostrando a língua um para o outro mil vezes durante o livro? Ou fazendo gestos obscenos. Eu sempre fico perdida quando vejo esse tipo de atitude em um livro que tentou muito ser maduro e inteligente.
Mas nem foi isso que realmente me fez ver que esse livro mal consegue ser chamado de bom. Foi o final. E que final péssimo.
Acho importante um escritor pensar bem antes de começar a escrever uma série ou um livro que tenha uma cena de guerra. Esse tipo de cena não é nada fácil, é muito mais complexo do que parece para quem vê em filmes. Esse não é o primeiro livro que eu leio em que uma cena de guerra fica ridícula porque o autor está desesperadamente tentando piorar a situação mil vezes e depois trazer o mesmo número de intervenções divinas para corrigi-las. Um clímax, um único problema inteligente a ser solucionado no meio da batalha seria o suficiente. Não precisava juntar na mesma cena absolutamente todos os personagens que já tinham sido mencionados nos três livros até então (mencionados, e não só aparecido) e que ainda estavam vivos. Até chegar nessa batalha final, eu teria dado quatro estrelas. Mas agora estou sendo generosa em dar três.
Além de uma última batalha exagerada e sem pé nem cabeça, que nem pareceu encaixar muito em tudo que vinha sido falado sobre vários personagens e seus papéis, o que resultou dela foi ainda pior. O final da Amren, que eu não vou falar aqui qual foi, foi o pior de tudo. Até a parte do Rhys eu aceitei (e nunca cheguei mesmo a pensar que fosse ser levado adiante), mas a da Amren não deu. Ela poderia ter sido maravilhosa, toda aquela baboseira mal explicada (e que eu aposto que a autora nunca mesmo conseguiria explicar) sobre o mundo de onde ela veio nem iria importar. Ela poderia ter o final ideal, que fizesse todas as outras cenas dela e sua existência valerem a pena. Mas a autora não teve coragem.
Aliás, o final todo foi assim, as últimas quarenta páginas gritam que faltou coragem nela para encarar todo o problema que ela tinha criado aos personagens, que faltou coragem para fazer uma história realista e um final que não fosse completamente feliz e idealizado. A autora fraquejou e resolveu transformar o livro em final de novela, aparentemente. E nem teve final o suficiente, que é a coisa que MAIS me irrita. Você quer escrever um livro de 700 páginas, mesmo que desse para resolver tudo em menos de 500? Okay. Vai em frente. Mas pelo menos acabe a história! Não crie segredos e intrigas no meio desse último livro para não resolver. Os leitores precisam querer ir ler os spin-offs por amor aos personagens e ao mundo deles, não para saber detalhes importantes para a série principal! Isso é trapaça, principalmente depois de tantas páginas que foram essencialmente inúteis.
Depois de tudo isso, preciso repetir que minha nota de três estrelas foi extremamente generosa, que só não dei menos porque eu pelo menos consegui terminar o livro em três dias e não cheguei a odiar completamente como esperava. Em um mundo perfeito, esse livro teria sido editado direito e teria sido publicado com uma criação de mundo mais sólida, com desenvolvimento dos personagens mais realista e coerente e com uma escrita que soubesse o que estava fazendo. Do jeito que foi publicada, a série é só okay. E não aconselho realmente ninguém a ler, não com tantos outros livros maravilhosos por aí.