Bia 13/11/2016Preciso contar, antes de qualquer coisa que, desde a pré-adolescência gosto de ler e assistir ficções que abordam o tema “anjo caído”.
Sou católica, do tipo que questiona e que frequenta a Igreja todos os domingos, mas tenho a mente bem aberta para ler versões de temas bíblicos. Se você é religioso e segue a finco os desígnios de sua Igreja, não sei se sentirá confortável em ler o livro. Ressalto que não achei nada desrespeitoso. Fiquei bem com a leitura.
“A Redenção do Anjo Caído” como o nome sugere, nos traz Lúcifer como protagonista. O enredo começa do começo mesmo, antes da criação da humanidade; quando Lúcifer era apenas um bom anjo. Aliás, o único bom anjo, o primeiro criado por Deus.
Lúcifer tinha a total confiança de Deus, mas ficou um pouco enciumado quando Ele contou que criaria outros anjos. Mesmo tendo a missão de liderá-los, Lúcifer queria mais.
O anjo queria tomar o lugar do próprio Deus. As coisas ficaram piores com a criação da raça humana, Lúcifer achou tudo muito injusto; em sua concepção, Deus estava substituindo-o de Sua preferência.
Com seu próprio exército, Lúcifer decide guerrilhar a fim de ocupar o lugar de Deus. Claro que tudo isso não deu certo, dessa forma fora expulso do Paraíso, e jogado para um abismo.
Lá, ele passou a reinar as trevas.
Anos se passaram, até que certo dia, Lúcifer percebe que desde sempre Deus sabia dos seus planos. Ele chegou à conclusão, que desde o momento em que foi criado, Deus já tinha ciência de tudo, sabia exatamente que o anjo seria ganancioso e tentaria ocupar seu lugar.
Ele me criou assim, com um coração repleto de ambição e me colocou ao lado do que eu mais poderia desejar: o poder!
Talvez movido pelo arrependimento, ou pelo tédio (vocês chegarão às próprias conclusões lendo o livro) Lúcifer deixa o reino das trevas e vai até o Paraíso pedir redenção.
E Deus, sempre onisciente, o envia para a Terra. Se Lúcifer conseguisse fazer algo bom pela humanidade, seu pedido de redenção seria ponderado.
Assim sendo, o demônio vem à Terra sob a forma de um mendigo. Será que a necessidade o faria mudar? Ou será que a nossa humanidade, tão monstruosa na maioria das vezes, despertaria ainda o pior no anjo caído?
Esse livro me partiu em duas, pois tem um lado que me agradou e outro lado que me decepcionou.
Vendo pelo lado da decepção, comecei a leitura com poucas expectativas, pois as resenhas que li sobre o livro me mostraram um quê de frustração. Eu não fiquei frustrada com o rumo das coisas, como senti que a maioria dos leitores ficou. Sabia exatamente o que estava reservado para o personagem. A minha decepção foi com a desenvoltura dos fatos.
Pois bem, como disse logo no início da resenha, sou quase mestre em versões para Lúcifer. Já o vi em forma de vampiro, de criança, de velho, de homem lindo e apaixonado, de sofredor. As bases de todas essas versões que li e assisti eram as mesmas abordadas pelo autor, porém, sempre traziam alguma originalidade ou, mesmo que não fossem originais, tinham alguma “causa” que me deixava presa ao enredo.
"A Redenção do Anjo Caído" não traz essa originalidade que tanto aprecio. Conseguia facilmente prever o que iria acontecer, tendo como resultado uma leitura monótona na maioria do tempo. E não fiquei presa aos personagens tão pouco torcendo pela redenção de Lúcifer.
Apesar de não ter iniciado com expectativas, lá no fundo eu ansiava por algum elemento surpresa.
O que deixa a leitura agradável é o modo que o autor escreve. Vejam bem, eu posso contar uma estória a vocês e soar completamente chata, fazendo com que todos fiquem desinteressados. A Marissa poderá contar a mesma coisa e fazer com que todos fiquem vidrados.
E foi isso que aconteceu com o livro. A história é praticamente a mesma que já vi várias vezes, mas a narrativa foi tão gostosa a ponto de me proporcionar prazer durante a leitura. Mesmo com elementos já conhecidos por mim, o modo que o autor contou sua versão, me agradou. Ele utilizou de uma linguagem acessível a um amplo público de leitores; os diálogos recheados de gírias, acompanhando a realidade atual, deixaram ainda um quê de verdade no enredo. Sem contar que ele foi completamente audacioso fazendo com que o próprio leitor se identificasse com o problema de Lúcifer: como conseguir ser bom nesse mundo monstro em que vivemos?
Essa parte reflexiva sim foi muito original e palpável, agradando-me completamente. O autor trouxe, em meio a todo caos do enredo, uma abordagem universal sobre perdão e arrependimento, cabível para qualquer pessoa, independente da religião.
Arrependimento é diferente de deixar de fazer algo por perceber que não vai dar certo.
Por isso, eu dei 4 estrelas ao livro. Acredito que para o grupo de leitores que não estão tão habituados ao tema, será uma leitura perfeita digna de 5 estrelas.
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http://cladoslivros.blogspot.com.br/2016/11/resenha-redencao-do-anjo-caido-de-fabio.html