Tamara 07/10/2016
Esperava mais
Eu gosto muito de thrilers psicológicos, embora seja um gênero que não tenha tantos livros, e sempre que vejo um enredo que parece promissor, imediatamente adiciono a minha lista de livros desejados, e isso aconteceu também com o livro Nem tudo será esquecido. Porém, enquanto mantinha várias expectativas, também fiquei com receio por no ano passado ter lido outro thriler que prometia algo parecido com esse enredo, chamado Sonhos Partidos, e acabou se mostrando diferente do que eu imaginava. E a medida que comecei a leitura do livro Nem tudo será esquecido, percebi que realmente ele não alcançaria minhas expectativas, mas apesar de tudo foi sim uma leitura deveras interessante, e conforme eu evoluía nos capítulos não conseguia parar a leitura, pois a curiosidade de chegar ao final era maior.
Os pontos que mais me atraíram nesse enredo foi a construção da história, cheia de pecinhas que em alguns momentos eu imaginava que não se encaixariam e depois percebia que todas faziam parte de algo maior. Além disso, o modo como a autora criou a trama, cheia de segredos familiares, que sempre se mostravam bastante interessantes e naturais, sem que houvesse nada forçado. Além disso, como o gênero é thriler psicológico, temos uma série de nuances psicológicas tratando das atitudes humanas e de sentimentos crus, como o egoísmo, a necessidade de aceitação, as marcas que os traumas nos deixam, a ganância, dentre uma gama de outros sentimentos.
Porém, o que mais me incomodou no livro foi o foco da história. Durante boa parte da obra eu sentia que o foco ali não era a garota e seu estupro, apesar de vermos falar muito a respeito, mas sentia que era muito focado na história do narrador, cuja identidade não revelarei, uma vez que ele é muito importante para o desfecho, mas ele nos enreda em um círculo de tramas e manipulações e foi isso que acabou quebrando minhas expectativas, e ao final me deixou descrente se os sentimentos da garota e de sua família ali descritos eram os verdadeiros, ou se o narrador-observador passava ao leitor apenas aquilo que desejava.
Como já mencionei, a narração é toda feita em primeira pessoa. Esse narrador começa a nos apresentar os fatos da história da garota, como alguém observando de fora, e é mais ou menos no capítulo dez que ele se apresenta para o leitor e se envolve também na história. Nesse caso, creio que uma narração em terceira pessoa, com imparcialidade, teria me agradado mais. Além disso temos 36 capítulos de um tamanho razoável e não encontrei erros durante a leitura.
A personagem que mais me chamou atenção foi Jenny, a garota que sofreu o estupro, pois era apenas uma garota indefesa que lutava para fazer os seus dias parecerem normais, quando ela sabia que não estavam, e fiquei desejando intensamente conhecê-la melhor. A mãe de Jenny, Charlotte, é uma mulher que não me agradou desde o começo, mesmo depois que sua história de vida é apresentada para o leitor. Já tom, o pai, foi um homem que me despertou certo sentimento de tristeza, por toda a sua vida e por sua falta de autoridade. O narrador foi um personagem que a medida que foi evoluindo na trama me fez desgostar dele e ao final senti que ele poderia ter sido alguém muito melhor. Os personagens secundários também foram bem construídos e todos tem personalidades marcantes e motivações muito bem explicadas.
Recomendo o livro para quem gosta de tramas psicológicas, sem tanta ação, mas que acabam prendendo o leitor e nos leva a criar uma dezena de hipóteses, só para vermos elas se desmanchando nos próximos capítulos. É realmente um livro onde nada é o que parece e que mostra que por mais que tentemos esquecer as coisas ruins em nossa vida, ao final nem tudo será esquecido.
site: Resenha postada originalmente em: http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2016/10/resenha-nem-tudo-sera-esquecido.html