wesley.moreiradeandrade 11/01/2017
Álvaro de Campos é o meu heterônimo de Fernando Pessoa favorito. Gosto de seu pessimismo, do sentimento de não pertencimento ao mundo, das questões metafísicas que levanta em seus versos e o grau de revolta e emotividade que dão tom aos seus poemas. Dos três heterônimos famosos, Álvaro de Campos é o mais voltado à modernidade, traduz o progresso (assim como o Futurismo do início do século XX), o ritmo das grandes metrópoles, a frieza dos relacionamentos e a incapacidade de lidar com as pessoas. Ao contrário de Marinetti (líder da vanguarda futurista) que via nas máquinas um norte para a humanidade, Álvaro de Campos exalta um tanto quanto ressabiado toda esta industrialização e avanços tecnológicos, pois sabe no que isto pode resultar. Álvaro é uma bela contradição, sua repulsa à vida social também esconde um desejo de parecer o outro, de seguir as convenções sociais, muito para não sofrer tanto com as reflexões e preocupações que o assombram. Depois o eu-lírico explode em poemas marcantes como “Lisbon Revisited”, que canta o estar contra tudo o que a sociedade impõe ou espera que sejamos, ou “Se te queres matar...”, um convite persuasivo ao suicídio, ou nas odes marítima e triunfal e em homenagem a Walt Whitman. Existe muito poema marcante, difícil enumerar alguns entre tantos carregados de emoção. A antologia de poesias de Álvaro de Campos demonstra o motivo de ele ser o mais passional de todos os heterônimos, aquele que mais se expunha e se desnudava diante do leitor, que, logo, também se reconhecia em seus versos.
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