Altieris 01/07/2021
Homo Deus - Yuval Noah Harari
Se olharmos para os grandes cientistas e os escritores do passado, veremos que visões futuristas sempre fizeram parte do imaginário humano, encontraremos ideias consideradas absurdas, mas que hoje fazem parte do nosso ordinário cotidiano. Parafraseando o que disse uma vez o escritor clássico de ficção Júlio Verne: "O que um homem pode imaginar, outros poderão realizar". No contexto atual, nunca Verne esteve mais certo, visto que aeronaves, submarinos, rádio, televisão, internet, web, inteligência artificial, robôs, entre outras maravilhas tecnológicas, todas foram imaginadas antes de serem criadas. E Albert Einstein disse uma vez: "A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando à luz à evolução. Ela é, rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica."
Seguindo as visões futuristas de grandes pensadores e, principalmente, considerando nosso contexto tecnológico atual, o professor israelense Yuval Noah Harari, descreve uma obra extremamente rica sob os pontos de vista intelectual, científico e futurista fazendo ilações de como será o futuro da humanidade.
A obra se inicia com a consideração de que os três principais flagelos da humanidade - a peste, a fome e as guerras - estão praticamente superados e que o atual estágio científico inscreve ou potencializa nova agenda humana centrada na superação da morte biológica e na elevação do humano a uma condição supra-humana, similar àquela dos deuses da antiguidade grega.
A engenharia genética permitiria que, na sua busca de felicidade e poder, os humanos possam mudar primeiro uma de suas características, depois outra, até virtualmente não serem mais humanos. Superando aos poucos da condição humana, como arco geral da obra, Yuval assume perspectiva evolucionista darwiniana e realiza criativa retrospectiva mostrando de que modo o homo sapiens se impôs como forma superior de vida no planeta. Contemplando uma análise desde a fase coletora, a fase agrícola, a fase industrial e a fase moderna de informação intensiva, e procura identificar os elementos estruturais, que lhes forneceu alicerces.
No plano social, destaca os belos ideais do humanismo e em particular a democracia. Lhe contrapõe o potencial de enfraquecer a espécie humana e causar a sua degradação, pelo cultivo de uma igualdade humana fantasiosa. Ele coleta os diferentes fracassos do humanismo em extensas regiões do globo, questiona a capacidade do humano conduzir e dar significado ao mundo, e verifica que ao contrário disso, a inteligência artificial avança vertiginosamente e ameaça o humanismo, com uma inteligência organizativa e ordenadora, exponencialmente superior.
Durante a leitura ele justifica com seu deu a supremacia humana no reino animal, pela formação e uso de extensas redes de cooperação humana e não por habilidades individuais, preconiza o advento da nova religião dos dados, e a formação de extensas e poderosas redes de processamento de dados, cujos algoritmos serão capazes de conhecer cada homem melhor que ele mesmo e controlar até mesmo os seus desejos mais íntimos. Nesse quadro, estima que a grande maioria da população estará disposta a entregar-se docilmente ao controle das máquinas, em troca de prazer e bem-estar.
Com isso antevê dois senários possíveis. Ou as máquinas dominarão tudo e virtualmente descartarão os humanos, como se descarta processadores obsoletos, ou então, restará um contingente de super-humanos, geneticamente incrementados, desfrutando as máquinas sem cair sob seu domínio. Durante a leitura se percebe um caráter especulativo e não profético das afirmações nas quais se encerra em três desafios aos seus leitores:
- Será que os organismos são apenas algoritmos e a vida apenas processamento de dados?
- O que é mais valioso - a inteligência ou a consciência?
- O que vai acontecer à sociedade, aos políticos e à vida cotidiana quando algoritmos não conscientes, mas altamente inteligentes nos conhecerem melhor do que nós mesmos?
Para Harari, a humanidade está caminhando para um futuro em que as pessoas serão aprimoradas genética e tecnologicamente, tendo suas expectativas e qualidade de vidas melhoradas significativamente, fazendo um paralelo com o clássico Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.
O autor também destaca a criação das novas entidades inteligentes, os robôs. Segundo Harari, o desacoplamento entre inteligência e consciência deverá causar sérias transformações no capitalismo, trazendo uma série de vantagens e problemas que os governos sequer imaginam que terão de enfrentar. Isso sem falar das questões éticas e morais envolvidas.
Harari finaliza a obra tratando da "religião dos dados" e de como os algoritmos influenciam o destino da humanidade. Enfim, é uma obra inteligente, intrigante e instigante, o autor traz informações relevantes no contexto tecnológico atual e futuro. Vale a pena a leitura!