otxjunior 23/08/2020Deuses Americanos, Neil GaimanTerminei este livro exatamente como o personagem principal, incerto sobre o que aprendeu na jornada, esquecido dos muitos detalhes e "farto dos deuses e da maneira como agiam". O que é uma pena, principalmente considerando que o início é bastante promissor.
A premissa de Deuses Americanos reside na investigação do que é feito dos deuses (onde vivem, o que comem, como se reproduzem), trazidos a América por imigrantes de todas as partes do mundo, neste ambiente cético e absorvido por outros elementos de adoração e culto, como a mídia e tecnologia (hoje aqueles ainda concorreriam com os super-heróis cinematográficos, imagino). É imaginativo, bem-humorado, prendeu meu interesse de maneira que por um tempo não consegui abrir outra coisa para ler, como geralmente faço. As referências são ricas e a narrativa, primorosa. Esta chegando a remeter à tradição oral, muito pelo tema abordado. Até mesmo apreciei o fato do protagonista chamar-se Shadow, sombra, sendo assumidamente um fiapo de personagem.
O encanto, não sobreviveu, no entanto, para as outras partes do livro. E assim, como os deuses antigos, enfraquecidos e sem seguidores, deixei de louvar o deus Neil Gaiman e percebê-lo como um mediano ilusionista de truques com moedas, truques conhecidos e repetidos aqui à exaustão, literalmente. O que não deixa de ser irônico, já que os novos deuses são criticados por seu caráter repetitivo, representado, por exemplo, pelos programas televisivos.
A história parece ir a lugar nenhum, com uma promessa de uma tempestade que quando chega não passa de uma garoa, ainda que com névoa: a da confusão que perpassa todo o enredo. Diferente de Shadow, que é lançado para variados pontos dos Estados Unidos, sem nunca questionar a ordem de seu superior, ou de qualquer um realmente, ou para todos os efeitos, qualquer coisa, da bebida que ele vai tomar a roupa que vai usar. O que era "charmoso", se torna irritante, o cara é uma porta, inclusive tem as dimensões de uma!
A conclusão que chego é que devo ter gostado muito do romance cedo demais. A segunda metade toda foi basicamente de releituras no sentido de relembrar maluquices oníricas, facilmente esquecidas por não aparentarem ter importância à trama. E mesmo com a certeza de que aproveitaria mais de seu conteúdo se conhecesse mais sobre mitologia (nórdica, egípcia, indiana...) , precisei encarar a obra tal como me pareceu: um decepcionante show de mágica.