Gabriel Schorr 22/12/2022
Um bom livro?
Gostaria de dividir minha análise em duas partes: a tese e a escrita.
Sobre a tese: Cury traz para discussão o livro de Lucas, presente na Bíblia, destrinchando desde aspectos de seu escritor (o médico Lucas), dos entrevistados (como Maria), e do objeto dessa "biografia", Jesus. Esse debate é feito no campo da psicologia, sobretudo, analisando aspectos emocionais da vida desses personagens. Apesar de trazer diversos ensinamentos e indagações, a maneira como os personagens do livro são construídos nessa obra é um pouco estigmatizada e esteriotipada (como os teólogos ingênuos e os ateus superficiais e egocêntricos), ocorrendo um certo exageiro, seja nas reações, nas ideias ou mesmo nas falas. Ademais, toda a análise "científica" feita pelo personagem fictício é baseada em preceitos frágeis construídos no início do livro, como a veracidade atribuída aos fatos relatados pelo médico unicamente por ele ser médico ou mesmo por escrever bem, dando um verniz de credibilidade a tudo que seria relatado posteriormente no livro.
Entretando, apesar de todos os pontos positivos e negativos no que tange a tese do livro, a escrita deixa, e muito, a desejar. O autor falhou em tentar mesclar as ideias que ele queria debater e divulgar a partir de sua filosofia nos pensamentos e falas das personagens. A maneira como hipóteses complexas são ditas sequencialmente em uma única fala "natural" pelos personagens e expectadores dos debates descritos no livro não transmite, porém, nenhuma naturalidade. Pelo contrário: a imagem que me veio à cabeça ao iniciar a leitura desse livro foi de um teatro de escola, no qual um grupo de crianças e adolescentes tentam simular fatos da vida real, mas com a finalidade de discutir um tema complexo - como a poluição - e transmitem seus objetivos de forma crua e artificial (o que é esperado em situações como essa e por jovens ou em uma fanfic). Porém, apesar de eu nunca ter lido Augusto Cury e não ter expectativas altas quanto a leitura, me decepcionou um pouco essa constatação, tendo em vista que o autor, na capa do livro, é definido como "o mais lido da década" e com "30 milhões de livros vendidos". Assim, eu, ao ter analisado a capa antes de minha leitura da obra propriamente dita, imaginei que me depararia com uma obra melhor escrita. Por fim, fazendo um paralelo que me parece adequado, a filósofa Ayn Rand, no seu livro "A Revolta de Atlas" - já analisado por mim nesse perfil e com vídeo no YouTube -, consegue mesclar suas ideias nas falas e nos personagens com maestria, em contraposto ao caso do livro "O Homem Mais Inteligente Da História", do Augusto Cury, dando muito mais leveza e permitindo um compartilhamento e conhecimmentos de forma mais sutil e agradável.