Obra completa

Obra completa Raduan Nassar




Resenhas -


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Elizangela 09/10/2022

Sabedoria e espanto
Raduan Nassar é uma voz dissidente em meio a um mundo tomado por falsas promessas e esperanças. Um brasileiro descendente de libaneses e patriota como poucos (por favor, entendam o patriotismo como algo positivo!).
Sua obra é pequena, mas é, como dizem nos meios médicos, cirúrgica. Seu bisturi perpassa por uma cultura do patriarcado em Lavoura Arcaica e vai para a defesa da cultura brasileira em A corrente do esforço humano. Passa por um conto breve e altamente reflexivo em Aí pelas três da tarde e nos espanta com um tom seco e irônico em Menina a caminho.
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fabio.orlandini 05/07/2022

Desafiante
A qualidade literária de Raduan é invejável. Sua escrita peculiar desafia nossas mentes e nos falar ler o livro com todos os sentidos. Ler Nassar e uma experiência sensorial.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 27/11/2016

Raduan Nassar - Obra completa
Editora Companhia das Letras - 464 Páginas - Lançamento 25/10/2016.

Este foi um ano importante para a divulgação do trabalho de Raduan Nassar no exterior e o seu redescobrimento no Brasil. Após ter sido finalista do Man Booker International Prize com a tradução para o inglês de "Um Copo de Cólera", foi honrado com a premiação mais conceituada da língua portuguesa, o Prêmio Camões de literatura 2016. Toda essa agitação no meio literário não alterou em nada a rotina do autor, que completa hoje 81 anos, vive recluso e se recusa a dar entrevistas desde os anos 1980, após escrever os dois únicos "pequenos" romances que se tornaram clássicos cultuados da literatura brasileira: "Lavoura Arcaica" (1975) e "Um Copo de Cólera" (1978). Raduan Nassar é um escritor que, segundo o júri do Prêmio Camões, "privilegia a densidade acima da extensão", melhor definição com certeza não há.

A Companhia das Letras lançou esta edição definitiva e revisada pelo próprio Raduan em comemoração aos 30 anos da Editora, que traz, além de "Lavoura Arcaica", "Um Copo de Cólera" e "Menina a Caminho", três livros que já faziam parte do próprio catálogo, mais dois contos e um ensaio inéditos no Brasil, acrescidos de fortuna crítica, relação das traduções e adaptações cinematográficas (surpreende o sucesso alcançado nas telas, tratando-se de textos nada fáceis de transpor para a linguagem do cinema). É claro que não há como criticar um lançamento como este, mas o tratamento editorial poderia ter sido semelhante ao da edição comemorativa de "Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda com uma compilação maior de textos críticos, compatível com a importância da obra.

"Lavoura Arcaica", por exemplo, é um romance que forçosamente merece estar presente em qualquer antologia de literatura brasileira contemporânea, uma narrativa atemporal de múltiplas interpretações e referências bíblicas que não se esgota em uma única leitura (no meu caso, já reli algumas vezes desde os tempos de escola, mas sempre encontro um novo texto em cada experiência). Em um resumo bastante simplório, podemos dizer que é uma espécie de anti-parábola do "filho pródigo" na qual o protagonista, André, se rebela contra as tradições agrárias e patriarcais impostas por seu pai e foge do núcleo familiar para a cidade, onde espera encontrar uma vida diferente da que vivia na fazenda. Ele não consegue alívio para as lembranças da relação incestuosa com Ana e, quando é encontrado em uma pensão por seu irmão Pedro, passa a contar-lhe, de forma amarga, as razões de sua fuga. À medida que avançamos no texto, fica evidente o final trágico que aguarda toda a família após o retorno de André.

Obviamente é impossível escrever aqui uma resenha tradicional sobre as obras de Raduan Nassar, não somente por uma questão de espaço ou competência, mas também porque até hoje elas exercem um impacto tão grande na minha própria apreciação crítica que tenho dificuldade em enquadrá-las (tanto "Lavoura Arcaica" quanto "Um Copo de Cólera") em uma abordagem objetiva. São livros que criaram uma legião de adoradores, um caso único de unanimidade no cenário da literatura nacional, talvez amplificado pelo silêncio posterior do autor. Prefiro deixar aqui um conto. Um presente para os leitores no aniversário de Raduan, que exemplifica muito bem a habilidade única dele em lidar com a tensão narrativa até o final, uma ação desenvolvida através de um diálogo sem palavras, utilizando para isso um bloco de anotações (um símbolo do poder de comunicação da escrita), assim como a tentativa de expressão corporal dos personagens para contar uma história de solidão e o fracasso de uma relação afetiva.

Hoje de Madrugada
(Um conto de Raduan Nassar)

"O que registro agora aconteceu hoje de madrugada quando a porta do meu quarto de trabalho se abriu mansamente, sem que eu notasse. Ergui um instante os olhos da mesa e encontrei os olhos perdidos da minha mulher. Descalça, entrava aqui feito ladrão. Adivinhei logo seu corpo obsceno debaixo da camisola, assim como a tensão escondida na moleza daqueles seus braços, enérgicos em outros tempos. Assim que entrou, ficou espremida ali no canto, me olhando. Ela não dizia nada, eu não dizia nada. Senti num momento que minha mulher mal sustentava a cabeça sob o peso de coisas tão misturadas, ela pensando inclusive que me atrapalhava nessa hora absurda em que raramente trabalho, eu que não trabalhava. Cheguei a pensar que dessa vez ela fosse desabar, mas continuei sem dizer nada, mesmo sabendo que qualquer palavra desprezível poderia quem sabe tranquilizá-la. De olhos sempre baixos, passei a rabiscar no verso de uma folha usada, e continuamos os dois quietos: ela acuada ali no canto, os olhos em cima de mim; eu aqui na mesa, meus olhos em cima do papel que eu rabiscava. De permeio, um e outro estalido na madeira do assoalho.

Não me mexi na cadeira quando percebi que minha mulher abandonava o seu canto, não ergui os olhos quando vi sua mão apanhar o bloco de rascunho que tenho entre meus papéis. Foi uma caligrafia rápida e nervosa, foi uma frase curta que ela escreveu, me empurrando o bloco todo, sem destacar a folha, para o foco dos meus olhos: 'vim em busca de amor' estava escrito, e em cada letra era fácil de ouvir o grito de socorro. Não disse nada, não fiz um movimento, continuei com os olhos pregados na mesa. Mas logo pude ver sua mão pegar de novo o bloco e quase em seguida me devolvê-lo aos olhos: 'responda' ela tinha escrito mais embaixo numa letra desesperada, era um gemido. Fiquei um tempo sem me mexer, mesmo sabendo que ela sofria, que pedia em súplica, que mendigava afeto. Tentei arrumar (foi um esforço) sua imagem remota, iluminada, provocadoramente altiva, e que agora expunha a nuca a um golpe de misericórdia. E ali, do outro lado da mesa, minha mulher apertava as mãos, e esperava. Interrompi o rabisco e escrevi sem pressa: 'não tenho afeto para dar', não cuidando sequer de lhe empurrar o bloco de volta, mas nem foi preciso, sua mão com a avidez de um bico, se lançou sobre o grão amargo que eu, num desperdício, deixei escapar entre meus dedos. Mantive os olhos baixos, enquanto ela deitava o bloco na mesa com calma e zelo surpreendentes, era assim talvez que ela pensava refazer-se do seu ímpeto.

Não demorou, minha mulher deu a volta na mesa e logo senti sua sombra atrás da cadeira, e suas unhas no dorso do meu pescoço, me roçando as orelhas de passagem, raspando o meu couro, seus dedos trêmulos me entrando pelos cabelos desde a nuca. Sem me virar, subi o braço, fechei minha mão no alto, retirando sua mão dali como se retirasse um objeto corrompido, mas de repente frio, perdido entre meus cabelos. Desci lentamente nossas mãos até onde chegava o comprimento do seu braço, e foi nessa altura que eu, num gesto claro, abandonei sua mão no ar. A sombra atrás de mim se deslocou, o pano da camisola esboçou um voo largo, foi num só lance para a janela, havia até verdade naquela ponta de teatralidade. Mas as venezianas estavam fechadas, ela não tinha o que ver, nem mesmo através das frinchas, a madrugada lá fora ainda ressonava. Espreitei um instante: minha mulher estava de costas, a mão suspensa na boca, mordia os dedos.

Quando ela veio da janela, ficando de novo a minha frente, do outro lado da mesa, não me surpreendi com o laço desfeito do decote, nem com os seios flácidos tristemente expostos, e nem com o traço de demência lhe pervertendo a cara. Retomei o rabisco enquanto ela espalmava as mãos na superfície, e, debaixo da mesa, onde eu tinha os pés descalços na travessa, tampouco me surpreendi com a artimanha do seu pé, tocando com as pontas dos dedos a sola do meu, sondando clandestino minha pele no subsolo. Mais seguro, próspero, devasso, seu pé logo se perdeu sob o pano do meu pijama, se esfregando na densidade dos meus pelos, subindo afoito, me queimando a perna com sua febre. Fiz a tentativa com vagar, seu pé de início se atracou voluntarioso na barra, e brigava, resistia, mas sem pressa me desembaracei dele, recolhendo meus próprios pés que cruzei sobre a cadeira. Voltei a erguer os olhos, sua postura, ainda que eloquente, era de pedra: a cabeça jogada em arremesso para trás, os cabelos escorridos sem tocar as costas, os olhos cerrados, dois frisos úmidos e brilhantes contornando o arco das pálpebras, a boca escancarada, e eu não minto quando digo que não eram os lábios descorados, mas seus dentes é que tremiam.

Numa arrancada súbita, ela se deslocou quase solene em direção à porta, logo freando porém o passo. E parou. Fazemos muitas paradas na vida, mas supondo-se que aquela não fosse uma parada qualquer, não seria fácil descobrir o que teria interrompido o seu andar. Pode ser simplesmente que ela se remetesse então a uma tarefa trivial a ser cumprida quando o dia clareasse. Ou pode ser também que ela não entendesse a progressiva escuridão que se instalava para sempre em sua memória. Não importa que fosse por esse ou aquele motivo, só sei que, passado o instante de suposta reflexão, minha mulher, os ombros caídos, deixou o quarto feito sonâmbula."

Publicado originalmente em "Menina a caminho e outros textos" - Editora Companhia das Letras - Lançamento 1997, Prêmio Jabuti 1998 de Melhor Livro de Contos e Crônicas.
Jeff.Barbato 07/02/2017minha estante
Adorei suas considerações, estou ansioso para reler as histórias de Raduan, reviver na pele de André, brincar por de baixo das folhas secas.




Nathalia 20/04/2020

Bom demais!
"Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como tua ferramenta."

O unico defeito desse livro é saber que ele é tão pequeno pra qualidade de escrita do Raduan. Gostei muito! Apesar da qualidade quase perfeita de Lavoura Arcaica, o meu favorito é e sempre será Um copo de cólera!!!
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fabio.ribas.7 16/07/2021

Lavoura arcaica (obra completa)
A ficção é o caminho privilegiado da redescrição da realidade ? Paul Ricoeur

Quem é Ana? É sua irmã. É a santa ajoelhada na capela. Ela é céu. É o demônio. A cigana. A que revela a origem das castanholas. Ana sabia? Ana orava pedindo que André retornasse? Ana sabia do desejo incestuoso de seu irmão? Ela se alegra com sua volta. Ela se desamarra de suas vestes e aparece no fim vestida na roda da dança, vestida de outra Ana. Ela aceitou o amor epiléptico, a chaga, o cancro de André por ela?
Quem é André? Ele é terra. E é seu poder gravitacional que traz a queda de sua irmã, do pedestal à morte. É aquele que narra a história e nos dá a sua visão, a sua ótica, a sua interpretação. Ele compartilha de sua doença com o leitor. Ele é terra, é o buraco em que Ana será sepultada. O desejo arcaico, primitivo, sexual e desordenado é André. Por ela. Pela cabra. Pelo irmão mais novo, o Lula.
Quem é Pedro? A pedra de cal, cal branca que disfarça o que se esconde nos túmulos, debaixo da terra. E o que há ali? Podridão e ossos. A cal serve para dar uma aparência de limpeza ao que esconde a sujeira. Pedro vai atrás do irmão a mando do pai. Pedro descobre o que havia feito seu irmão partir, mas ele o traz de volta mesmo assim. Nós somos hoje responsáveis pelo futuro mais longínquo da humanidade, diz Paul Ricoeur. Pedro foi responsável pelo futuro com o qual se encerrou o livro.
Quem é a mãe? E por que ela é sempre tão responsabilizada pelo André pela chaga, pela doença, pela epilepsia que corrói a alma dele? Excesso de cuidado? Excesso de carinho, de amor e afeto? Nada disso faz sentido para mim. Seria André apaixonado pela mãe, que, em algum momento, fez com que ele confundisse seus sentimentos na sua criação? Ele transferiu o que não podia sentir pela mãe para sua irmã? Para mim, isso faz muito mais sentido. Queria André profanar a cama do pai como vimos Rubem fazer? Todavia, a presença poderosa e rígida do pai lhe impedia de sequer imaginar isso. Houve, então, uma transferência, que, contudo, alcançaria os mesmos objetivos.
Quem é o pai? Deus! A revolta do filho contra o pai é a rebelião do ser humano contra seu Criador. Ao contrário da ?parábola do filho pródigo?, André não retorna arrependido à casa paterna, disposto a se humilhar e aceitar a punição merecida. Ele retorna para destruir a família e se vingar do autoritarismo e rigidez moral do pai. A mando do pai, seu irmão mais velho, Pedro, o procura para trazê-lo de volta. Mas, o que quer André? Qual a moral e qual o autoritarismo que o sufocam na figura paterna? André quer consumar o ato incestuoso com sua irmã. Assim, cabe questionar as duas possibilidades da obra: 1) André se revolta contra o patriarcado burguês e religioso, é uma revolta espiritual contra Deus ? ele quer a irmã; 2) André se revolta contra a opressão social, ele representa o oprimido pelo regime militar, mas o que querem os militantes, os guerrilheiros, os socialistas representados por André? Querem violar a irmã, querem uma sociedade libertária e anarquista. Portanto, qualquer saída para onde aponte uma interpretação possível do que André quer do próprio pai é o caos.
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Batista 30/03/2024

Perfeito
A obra de Raduam Nassar é simplesmente perfeita. Uma pena que ele escreveu apenas dois romances, alguns contos e apenas um ensaio. O que falar de Lavoura Arcaica? E de Um copo de cólera? Apenas que tanto no primeiro quanto no segundo, a escrita é primorosa. Acompanha o falar do personagens e funcionam como uma entidade quase física, personificando assim uma escrita crua, dura, sem subterfúgios. Os contos são secos, diretos como um soco na boca do estômago. Recomendo.
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Hildeberto 20/02/2018

Raduan Nassar era para mim, antes da leitura deste livro, aquele autor que sempre aparecia nas conversas dos "iniciados" em literatura, sempre associado a elogios e exaltações pela qualidade de seus escritos; caracterizado como um dos expoentes máximos da literatura brasileira contemporânea - embora menos famoso e com menos sucesso comercial do que alguns dos seus pares; e a maior esperança brasileira de auferir um prêmio Nobel de literatura.

Sendo assim, minhas expectativas eram bastante elevadas. Como é de senso comum, expectativas altas frequentemente podem gerar decepções profundas. Pois este é o meu primeiro parâmetro para avaliar a "Obra Completa" de Radua Nassar. O autor não correspondeu as minhas expectativas, superou-as.

"Obra Completa" de Raduan Nassar reúne dois romances ("Lavoura Arcaica" e "Um copo de cólera"), sete contos ("Menina a Caminho", "Hoje de Madrugada", "O ventre seco", "Aí pelas três da tarde", "Mãozinhas de seda", "O velho" e "Monsenhores") e um ensaio (A corrente do esforço humano).

Sobre o ensaio, o autor aborda a identidade brasileira e sua relação com o estrangeiro. Diria eu que, embora seja o último texto do livro, seria interessante começar a leitura por ele, já que nele o autor expõe de forma concisa parte do seu pensamento acerca da realidade social mundial e brasileira - o que dará um panorama de fundo para a melhor compreensão da obra nos seus aspectos políticos.

Sobre os contos, todos são de qualidade exemplar. A escrita é bem elaborada, mais simples do que a dos romances, mas não menos elegante. A abordagem é profunda e os temas fortes. Dentre os sete, destaco "Menina a Caminho", no qual o autor utiliza a técnica de fluxo de consciência de forma exemplar e "Monsenhores", pela temática e pelos subentendidos do texto.

"Um Copo de Cólera" narra uma discussão de casal pela perspectiva do homem. O que me cativou nesse romance foi a forma como o autor descreveu os pensamentos da sua personagem masculina enquanto ela era consumida pela ira. Acredito que a raiva seja um sentimento humano que todos já sentiram ao menos uma vez. Com isso, o autor gera, em alguns momentos, identificação entre o leitor e a personagem, tornando a leitura mais divertida.

Por fim, "Lavoura Arcaica" é o primeiro romance que aparece na coletânea. Neste romance, a escrita de Nassar alcança o ápice de sua maestria, com um rico e rebuscado vocabulário. Obra magnifica e de profunda intensidade, embora não seja de fácil leitura. Mas, ouso dizer, o autor peca pelo excesso em determinadas partes. A obra como um todo e escrita de maneira esplêndida, mas pontualmente o autor peca pelo excesso de rebuscamento e a utilização excessiva de adjetivação. A escolha estilística pela ausência de pontos finais é interessante, e após algum tempo, o leitor adapta-se ao ritmo. Porém, há passagens "parnasianas" - prezam pela beleza, mas o conteúdo é mínimo ou inacessível. Em resumo, em algumas poucas partes o autor exagera, o que não compromete de forma alguma a obra como um todo. E, interessante notar, tais passagens ocorrem geralmente apenas quando eu lírico é André. Dependendo da personagem, há uma mudança perceptível na forma como é conduzida a narrativa.

"Obra Completa", de Raduan Nassar, é um desafio recompensador.

Tatiane 13/01/2020minha estante
Vou seguir suas dicas na ordem de leitura.




Leituras do Sam 01/04/2018

Profundidade e beleza
Raduan Nassar é quase unanimidade ao ser citado como um dos maiores escritores brasileiros e não é pra menos. Ao ler sua obra completa que a Cia. Das letras nos presenteou nessa edição linda (mas faltou textos de apoio, prefácios mais elaborados, dada a importância dessa obra) percemos o quão cirurgicamente o autor trabalha com as palavras, nenhuma parece sobrar ou faltar na construção das frases, carregando-as de profundidade e beleza.
Em Lavoura arcaica a história é mais densa, requer muita atenção do leitor e termina de maneira surpreendente.
Já na novela Um copo de cólera, temos um turbilhão de idéias emais uma tensão constante e crescente (sugiro a leitira de uma vez só).
Os contos e o ensaio só ampliam mais o mundo da cabeça do autor e nos mostra sua genialidade como escritor/observador do ser humano e suas relações.
Ótimo livro.

@leiturasdosamm
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Camila Faria 28/05/2018

Raduan Nassar escreveu apenas dois livros, ambos na década de 70, antes de abandonar a literatura para viver como fazendeiro no interior de São Paulo. São dois romances curtos – Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera – mas o que eles têm de breve, eles têm de intenso, impactante e genial. Sem dúvida uma das prosas mais poéticas que eu já li em toda minha vida. Lavoura Arcaica conta a história de André, filho de um patriarca rural, atormentado por sentimentos incestuosos em relação a uma de suas irmãs. O livro teve uma adaptação belíssima para o cinema em 2001, com Selton Mello e Raul Cortez (um desses casos raros em que o filme enriquece ainda mais a experiência literária). Em Um Copo de Cólera, o narrador é um agricultor recluso que, durante uma visita de sua amante, percebe uma colônia de formigas destruindo a cerca viva de sua fazenda. A descoberta provoca uma súbida mudança de humor e o casal inicia uma violenta troca de ofensas, que se intensifica à medida que a história avança. O livro conta ainda com alguns contos (dois deles nunca antes publicados) e um ensaio interessantíssimo sobre a cultura brasileira e a identidade nacional. Em 2016 Nassar, então com 81 anos, recebeu o principal prêmio da literatura em língua portuguesa, o Camões, para a sua surpresa: “Eu não entendi esse prêmio, minha obra é um livro e meio!“. A gente entendeu Raduan, a gente entendeu. ;)

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-21/
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amandatfaria 07/10/2022

Sobre Raduan Nassar
como que pode alguém manusear a língua portuguesa tao bem assim preciso de mil post its para mil folhas toda frase desse homem é tao bem elaborada jesus
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Tamires 15/07/2023

A obra de Raduan Nassar é dura, crítica, afiada como navalha. A beleza, o autor guarda para as palavras, um exímio escritor, com domínio ímpar da língua portuguesa.
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elainegomes 29/12/2023

Minha edição é a reunião de todas as obras de Raduan Nassar.

Mas vou falar apenas de Lavoura Arcaica.

E meu primeiro destaque é a narrativa poética, um texto tão lindo para um tema tão árido como é possível ter o belo no feio? Ver o forte no fraco? Só lendo Raduan para entender.

Não vou cintar absolutamente nada sobre enredo, pois a descoberta com leitura é tão dolorida quanto prazerosa.

Prepara-se para muitos fluxos de consciência, metáforas e rupturas.

Não é um texto fácil, exige atenção justamente por ser um romance poético, mas quando se compreende o ritmo do texto, o prazer em degustar cada palavra passa ser a grande experiência do livro.

A descrição sobre o destino, tempo e paciência são inesquecíveis.

Super recomendo a leitura

?O amor nem sempre aproxima, o amor também desune; e não seria nenhum disparate eu concluir que o amor na família pode não ter a grandeza que se imagina.? Estanho e o mundo que só se une se desunindo!
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saulocruz 17/03/2022

Dois livros e alguns contos
Uma das provas de que "menos é mais". A prosa de Raduan Nassar envolve desde a primeira linha, com um estilo raro de escrita, de capítulos escritos em um único parágrafo e sem pontos separando as frases. Se a estrutura da escrita, por si só, já instiga o leitor, seu conteúdo, suas tramas, seus diálogos e a densidade psicológica de seus enredos capturam a atenção e a imaginação. "Lavoura Arcaica", uma obra prima que discute tradição e transgressão dentro de um panorama rural, se contrapõe equilibradamente com "Um Copo de Cólera" e suas discussões mais restritas à relação de um casal dentro de um cenário mais urbano.

site: https://www.doctoralia.com.br/saulo-cruz-rocha
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Marília 16/02/2023

Gostei das histórias. Achei bem interessante a união entre as histórias elas tem um elo interessante.
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