Geovana 07/04/2023
Do ateísmo ao cristianismo - eis o menino Clive
Lewis mostra a mente do menino Clive, um garoto introvertido, gordinho, irmão mais novo que perdeu a mãe e depende do pai, que usa a literatura como fuga da realidade e mostra um entusiasmo interessante de criação de mundos. Lewis tem uma sabedoria grande para escrever sobre sentimentos e a mente humana, e é difícil não se identificar com os conflitos do garotinho. Principalmente sobre sua criação religiosa e os questionamentos que ele começou a ter quando cresceu.
É hiper legal ver como a mente de um escritor como ele se forma. A criatividade, a fome de conhecimento, o exemplo de alguém que gosta de ler, a descoberta da ficção e o início do relacionamento com a escrita - ah, isso é capaz de salvar alguém. Como uma estudante de Letras, foi ótimo ver como Lewis se interessou pela literatura na infância e como foi criando referências enquanto crescia.
Outra coisa que me chamou bastante atenção foi a forma como Lewis narrou sua participação na primeira guerra mundial. O humor e a honestidade dele na escrita é maravilhosa. A relação dele com a guerra foi muito mais de um literato do que a de um soldado. Na verdade, é bastante curioso assistir isso persegui-lo por toda vida, até tornar-se de fato um escritor e professor de Oxford. As vezes eu tenho a impressão que a literatura é uma espécie de estrela guia para pessoas assim.
Muito bom descobrir também que ele se converteu sendo ateu e lendo Chersterton durante a guerra, e começou a ser fisgado pelo teísmo através de amigos em Oxford. Lewis é do tipo que é conquistado pela ideia e pelo exemplo, e foi andando com esses amigos que ele começou a pensar “será que eu estou tão certo assim?”. Tem um trecho muito bom que resume tudo: “Chesterton era mais sensato que todos os outros modernos juntos; salvo, é claro, seu cristianismo. Johnson era um dos poucos autores em quem eu sentia poder confiar totalmente; muito curiosamente, ele tinha a mesma esquisitice. Spenser e Milton, por uma estranha coincidência. tinham o mesmo defeito. Mesmo entre os autores antigos, o mesmo paradoxo era encontrado.[…] Por outro lado, os escritores que não sofriam de religião e com quem teoricamente minha simpatia deveria ter sido completa - Shaw. Wells. Mill. Gibbon e Voltaire -, todos pareciam um tanto fracos; gente que na meninice chamávamos de ‘fracotes’” p. 190.
A busca incessante de sentido foi que levou Lewis ao cristianismo: “Eu esperava que o âmago da realidade fosse de tal espécie que a melhor maneira possível de simboliza-lo seria um lugar; em vez disso, descobri ser uma Pessoa.” p. 205.
Simplesmente Alegria é um livro muito rico. Para todos aqueles que tem fome intelectual e desejam algo mais como Lewis, ou para fãs de suas obras ou curiosos de ver um ateu tão rígido narrar a própria rendição a uma fé que julgara tanto. Lewis escreve de forma honesta sobre tudo o que o ser humano é feito. É lindo lindo.
[a resenha pode ter ficado meio desconexa, mas é pq gosto de ir anotando pontos enquanto leio e minhas reflexões são graduais como a de quem vá ler o livro. É somente algo que estou testando]