Rodrigo1001 06/02/2023
Airbag não incluído (Sem spoilers)
Título: A Trégua
Título original: La Tregua
Autor: Mario Benedetti
Editora: Alfaguará
Número de páginas: 184
Talvez você tenha chegado aqui com referências e talvez eu nem precisasse fazer alguma introdução sobre o livro, mas isso escaparia ao que o bom senso chama de resenha. Logo, pra ser muitíssimo econômico, tenho pra te dizer que A Trégua foi escrito pelo autor e poeta uruguaio Mario Benedetti em 1959 e publicado em 1960. Estruturado em forma de diário, Benedetti conta a história de Martín Santomé, um senhor de meia idade que está prestes a se aposentar.
(Engraçado como essa descrição me causa coceira e não cobre sequer 0,001% do verdadeiro conteúdo, do pulo do gato da obra, mas, paciência... é o preço do spoiler quase zero)
Agora que você já está ambientado, posso te dizer que tomei 1 dia inteiro antes de escrever essa resenha. Eu precisava respirar, basicamente. Foi um ato deliberado: não há airbag no mundo que nos prepare para o impacto dessa leitura.
Pequeno em tamanho e grande em conteúdo, A Trégua me fez passear por vários territórios. Me levou do riso contido à gargalhada sonora, da introspecção velada ao mais puro humor ácido, do sarcasmo à reserva e da esperança à incredulidade.
A jornada do narrador-protagonista começa com uma rotina monótona, taciturna e opaca, mas avança gradualmente para uma alteração desse status quo. Acompanhamos essa evolução e vamos, nós todos, evoluindo com o narrador. As entradas no seu diário poderiam muito bem ter sido escritas por mim mesmo, e isso me levou a uma identificação imediata com o que eu lia. Eis o primeiro gancho do autor: te relacionar com o protagonista.
A propósito, gosto muito de livros escritos em forma de diário. Não consigo conter o rubor na face quando creio estar invadindo a privacidade de alguém, mas, ao mesmo tempo e protegido pela ficção, me alegro com a pessoalidade, a individualidade de tal artimanha. Quando falamos ou escrevemos pra nós mesmos, tendemos a ser mais justos com os nossos sentimentos. Sem as amarras do julgamento alheio, um diário se transforma em um terapeuta, para o qual não se deve ter vergonha ou melindre de contar os mais íntimos segredos.
Voltando ao livro, Santomé começa a sair do casulo quando conhece o amor. É o amor que o transforma, é a sua trégua. No meio deste amor estão as convenções e as dificuldades de se juntar as escovas de dente, mas o protagonista avança. E enquanto ele progride, seus pensamentos ficam ainda mais límpidos, mais atraentes. Ele floresce, prospera e se abre. O livro, então, finca seu segundo gancho: nós queremos saber onde tudo isso vai dar.
E sabe onde vai dar? Bom, infelizmente não posso te dizer. Você terá que ler o livro. Não obstante, posso te segredar que é um livro excelente, bem estruturado, gostoso de ler e equilibrado. E em minha própria defesa, digo que não dei 5 estrelas porque algumas partes me pegaram fundo na alma e tive que bloquear meus próprios pensamentos. Tive que ligar meu airbag. Isso não é demérito, mas é inegável que o momento em que se vive reflete muito no que estamos lendo atualmente. E eu não estava totalmente preparado para o que li.
Ganha 4,5 estrelas de 5.
Passagem interessante:
“Como é ruim nos dizerem a verdade, sobretudo quando se trata de uma dessas verdades que evitamos dizer a nós mesmos.” (pg 105)