Sendero Luminoso

Sendero Luminoso Alfredo Villar...




Resenhas - Sendero Luminoso


9 encontrados | exibindo 1 a 9


AleixoItalo 09/10/2020

Lembrando Narcos, Maus e as HQ's de Joe Sacco, Sendero Luminoso, quadrinho peruano, é uma obra extremamente violenta, critica e politizada, que figura fácil entre um dos melhores quadrinhos jornalísticos já lançados.

A trama mostra a ascensão do Sendero Luminoso, guerrilha peruana que assombrou o país na década de 80 e mergulhou a região num banho de sangue. Tragédia potencializada pela reação desenfreada do exército que respondia massacres com massacres, e quem pagava no fim era sempre a população rural.

A narrativa fluente e não linear, segue os moldes do jornalismo literário, focando nos momentos chave (massacres) que marcaram essa época. É impossível não fazer uma comparação com Narcos, onde as cenas de ação ( abate das vítimas) é intercalada pela movimentação nos bastidores, de políticos, soldados de alta patente e guerrilheiros.

Não tem como não ficar chocado com a violência. Comunidades inteiras massacradas, extermínios, estupros e covas coletivas, são só alguns elementos que compuseram o inferno, mais revoltante ainda é a impunidade que persiste até hoje dos militares condenados na tragédia. Usamos muito o nazismo como referência de maldade no século XX, mas esse é mais um exemplo que mostra que a maldade é uma condição natural que anda de mãos dadas com o poder ilimitado.

Uma verdadeira pérola, seja pelo tema abordado pouco conhecido por nós, pela boa narrativa, pelas excelentes ilustrações ou pela crítica política em si, diria que é quase uma obra essencial. Só esteja ciente do conteúdo devastador, fique preparado e num bom estado de espírito, é uma viagem ao inferno que horrorizaria Dante.
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Vilamarc 27/02/2021

"Aqui a piedade foi proibida".
Choca. É muito massacre para um país só ou um mesmo livro...
Essa é uma HQ-Reportagem-Documento no melhor estilo inaugurado por Joe Sacco, e baseada nos Relatórios da Comissão da Verdade peruana.
Confesso que apesar de tudo, a minha visão do Sendero Luminoso era positiva, um movimento revolucionário de camponeses. Mas o que se vê nessas páginas, é uma força crescente, de movimentos pela educação básica se transformarem em guerrilha e daí para um movimento terrorista brutal.
Choca que no fogo cruzado entre Senderistas e tropas do exército, policias e milícias oficiais, são massacrados sem nenhuma possibilidade de defesa ou aliados, a população indígena, campesinae falantes de língua quéchua (estrangeiros em eu próprio pais ou "ninguéns"), vítimas de um genocídio silenciso.
O resultado é que vilarejos inteiros desapareceram, o sistema de comunas indígenas foi destruído pelas "retiradas" ou migrações forçadas, 3/4 dessa população disimada, 70 mil mortos em duas décadas.
Governos e imprensa totalmente omissos. As distâncias e o isolamento contribuíram para o que se denominou "forclusão" (prescrição ou apagamento da memória) desse genocídio latino.
A HQ é um misto de textos, desenhos e imagens reais em P&B manchados exclusivamente por muito vermelho/sangue.
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Brunífero 02/03/2022

Guerra suja é um eufemismo
Quando falamos de conflitos em um contexto acadêmico, não tratamos os lados como bem ou mal. Para tudo, há pretexto; jamais justificativa. E nada nunca é tão simples quanto parece.
Podem parecer lições óbvias, mas muitas vezes, no calor do momento (e ás vezes por falta de uma boa intepretação de texto), é comum ver esses posicionamentos sendo jogados às favas em favor de maniqueísmo puro e simples. Por isso a arte é tão importante: é preciso entender e absorver os ensinamentos de forma mais profunda, visceral ou mesmo emocional. Essa é a lição que carrego desde que li essa graphic novel espetacular.
Sendero Luminoso, antes de tudo, era uma guerrilha rural de inspirações maoístas. Surgida tardiamente em meio às reações armadas contra as ditaduras militares que tanto marcaram a América Latina dos anos 50 ao começo dos 80, era liderada por Abimael Gúzman, ex-professor universitário de filosofia que se tornaria líder militar conhecido em 1980, quando a guerrilha surge no coração do Peru. O surgimento da guerrilha em um período de maior democratização assustou a esquerda institucional e o governo, que engajou em um combate duro e extremamente desonesto. A ocupação do interior do país serviu de bode expiatório para verdadeiros abusos de poder, como estupros, extorsões, saques, massacres de civis, tomadas de terras para entrega a latifundiários, dentre outras situações jogadas para debaixo do tapete pelo governo e pela memória nacional do Peru numa situação que faz a Comissão Nacional da Verdade parecer um carrasco sem dó nem piedade.
Porém, a despeito dos brutais métodos de repressão do Estado, o Sendero Luminoso não arrefecia de jeito nenhum. Todo o cenário político da década de 80 e o começo de 90 foi protagonizada pelos atos do Sendero, que em sua etapa final chegou até a bombardear cidades grandes como Lima (!!), e para desespero dos centristas, o repúdio ao Sendero não era unanimidade dentro da nação peruana, pelo contrário; seu apoio, especialmente nas áreas rurais, não era nada desprezível, ainda que o Sendero e seus soldados desconhecessem manuais de ética; durante toda a leitura, a guerrilha se assemelha menos com os Sovietes ou mesmo com Sierra Maestra e mais com os modernos grupos terroristas que começaram a surgir praticamente ao mesmo tempo. Não apenas pelos métodos violentos de conquista, mas pelo fanatismo de seus seguidores. Não há uma filosofia mais profunda que explique a realidade do país ou mesmo da região, nem sequer um comando organizado que regule o comportamento dos combatentes - minto, há sim: o personalismo de Abimael, que na guerrilha passou a atender pelo nome de Camarada Gonzalo. E para Gonzalo, contra o estado peruano e sua brutalidade social valia tudo. Até empregar os mesmos métodos de seus inimigos. Mesmo assim, a guerrilha era grande e arrebanhava setores importantes do campesinato. Como?
A resposta não é tão simples quanto mera propaganda ou um elitista "porque o povo é burro". Quando o roteiro de Alfredo Villar começa com o primeiro ato conhecido do Sendero - a saber, a queima de urnas eleitoras numa vila do interior -, pressupõe-se que o leitor moderno ache tudo muito hostil. Os desenhos grossos em preto e branco de Luis Russell e Jesús Cossio corroboram as ameaças, os rostos grossos e pouco simpáticos e o pesado e sectário linguajar revolucionário. Porém, conforme o enredo avança e testemunhamos a complexidade da situação, eu fui tomado por um sentimento desolador que ultrapassa o que uma linguagem mais pobre chamaria de cinismo. Não saberia nomear o que senti testemunhando o puro horror: uma sensação de torpor e de tirar o chão. Por pior que o Sendero Luminoso pudesse ser, os horrores do estado peruano conseguem te fazer sentir coisas piores. É, acima de tudo, um atestado da violência tipicamente latino-americana, que se torna ainda mais chocante quando se considera que os crimes do governo foram cometidos numa autointitulada "democracia", com todos os seus arranjos formais e processos informais. É uma pequena mostra da verdadeira alma desta região profundamente desigual, violenta e violentada. E sem nenhum dos floreios que o mundo dito desenvolvido se acostumou para mascarar seus podres. E quando se tem um atestado tão grande de falência do status quo, só restam duas opções: a apatia ou a radicalização. A encruzilhada que o Peru se encontrou no começo dos anos 80.
Mesmo depois de seu fim, com a captura de Abimael nos anos 90, a sombra do Sendero Luminoso continua a pairar sobre o Peru. Para se ter uma ideia, quando o azarão professor rural Pedro Castillo foi para o segundo turno com Keiko Fujimori nas eleições de 2021, esta, junto de seus correligionários, espalharam o boato de que os votos que Castillo recebera do interior foram coagidos por células do Sendero Luminoso, que teria retornado com a injeção de ânimo que a esquerda radical recebera nas eleições! Ignore o fato que o Sendero Luminoso era totalmente descrente com a política formal. O fato é que a guerrilha hoje é o grande saco de pancadas da direita local - os fujimoristas ainda argumentam que a sua extinção, sob o governo do ditador Alberto Fujimori, foi O marco de seu governo. E de certa forma, é verdade. Só é preciso apagar o que foi necessário para que isso fosse possível.
Se tem uma coisa que historiadores se acostumaram a ver no debate público, com certeza é o falacioso maniqueísmo do discurso político, sempre maquiando e empobrecendo as camadas da realidade. Porém, não há teoria da ferradura aqui: o poder estabelecido sempre terá as distorções mais podres do que a esquerda mais abjeta pode conceber. O horror que as classes dominantes peruanas tinham aos combatentes maoístas se deve menos a uma oposição ideológica ou sequer a autopreservação, e sim ao choque em ver um grupo de outsiders (pretender) tratá-los da mesma forma que estes sempre trataram os camponeses e os indígenas durante toda a sua existência. Por isso, o horror da guerra e a assepsia do esquecimento. A nossa sorte é que, ao contrário do que o dito popular diz, a história não é escrita pelos vencedores, e sim pelos sobreviventes.

*A edição nacional é a da Veneta, que conserva o prefácio original da obra e acrescenta uma introdução do editor Rogério de Campos, que contextualiza a história recente da região. Além disso, o final de cada capítulo é acompanhado de um paratexto dos autores que aprofundam a discussão das ideologias e métodos do Sendero Luminoso
Brunífero 31/03/2024minha estante
ATUALIZAÇÃO:
Desde o início de 2024, minha visão a respeito da guerrilha revolucionária do Partido Comunista do Peru - Sendero Luminoso não mais é contemplada pela resenha acima. Mesmo assim, optei por não refazê-la por acreditar se tratar de um importante documento de minha formação literária e política
(E também porque o Skoob inexplicavelmente não tem uma ferramenta que permite editar resenhas *-*)




Oscar8 19/02/2020

Livro 014/2020
Livro 014/2020.
12/02/2020
Villar, Alfredo; Rossell, Luis; Cossio, Jesús. Sendero Luminoso: história de uma guerra suja. Veneta.
Livro sensacional e impressionante. Quadrinhos em formato jornalistico contando a tragédia peruana. Uma guerra cívil onde a população pobre fica encurralada entre o Sendero Luminoso e o violentíssimo exército e a força policial.
Ambos os lados mataram crianças, idosos, mulheres. Covardia elevada a enésima potência.
Um horror indizível.
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Clube Tripas 21/03/2020

[Resenha]
Conteúdo: Adulto.
Livro: Sendero Luminoso: história de uma guerra suja
Autores: Alfredo Villar, Luis Rossell, Jesús Cossio @jesus_cossio_g
Editora: @editoraveneta, @rogerio_de_campos
Páginas: 208
Avaliação: Adorei (5/5)
Mês: Fevereiro/20
Bibliotecário: Oscar Garcia / Cotia-SP @oscargbr1

Livro sensacional e impressionante.
Quadrinhos em formato jornalistico contando a tragédia peruana.
Um trabalho de pesquisa árduo e primoroso.
Uma guerra cívil onde a população pobre fica encurralada entre o Sendero Luminoso e o violentíssimo exército e a força policial.
Ambos os lados mataram crianças, idosos, mulheres.
Covardia elevada a enésima potência.
Um horror indizível.

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[Resenha #Contraponto]
Classificação: Adulto
Livro: Sendero Luminoso
Autores: Alfredo Villar, Luís Rossel, Jesús Cossio
Editora: Veneta
Páginas: 208
Avaliação: Gostei muito (4/5)
Mês: Março/20
Bibliotecária: Lúcia Mesquita / Indaiatuba-SP
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Nosso companheiro do Clube Tripas, Oscar Garcia @oscargbr1, leu e resenhou este livro em fevereiro e o resultado foi que incentivou muita gente a ler os quadrinhos em um inusitado formato jornalístico, fruto de muita pesquisa dos autores.
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Difícil acrescentar algo a uma resenha do Oscar, um inveterado leitor e profundo conhecedor das novidades literárias , mas mesmo assim resolvi tentar... O Sendero luminoso grupo guerrilheiro peruano surgiu com o objetivo declarado, de melhorar as condições de vida da população andina, predominantemente de camponeses pobres. O que se viu entretanto, foi um banho de sangue e o aniquilamento de aldeias inteiras seja pela violência da própria guerrilha ou pela ação das forças militares enviadas para reprimir o movimento.
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Assassinatos brutais de homens, mulheres e crianças, roubos, estupros... tudo isso sob a benevolência ou quando não, sob a aprovação explícita do governo e das autoridades... A violência dos guerrilheiros é chocante, mas na minha visão a da polícia é ainda pior, já que ela foi criada para proteger e cuidar da população, tarefa para a qual é paga pelo povo. Neste momento tenho lido outros livros sobre a América Latina e choca a violência, corrupção e impunidade presentes na nossa história.
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Parafraseando Caetano Veloso em Podres Poderes: “Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?”

site: https://www.instagram.com/p/B9l84PIjXkz/
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bartoleti 05/06/2021

Uma guerra suja, de todos os lados...
Historias de insurreições populares existem aos montes. Mas quantas delas são realmente contadas? Quando o vencedor (se é que nesse caso existe um) consegue fazer uma narrativa, o outro lado sempre será criminalizado.

https://www.instagram.com/p/CPwDBPsj7ih/?utm_medium=copy_link
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Mari 21/02/2023

Triste, mas importante relato
Com traços marcantes, a HQ conta a história da guerra civil que assolou o Peru por toda a década de 1980, entre as forças do Estado e o Sendero Luminoso, um grupo de guerrilha. Ela mostra também como se deu o surgimento desse grupo, que buscava a ascensão do socialismo no país, através de uma revolução armada e que só foi possível graças à negligência do poder público nas comunidades rurais e indígenas, que em um primeiro momento acabaram por apoiar o movimento. Assim, uma população que já sofria com descaso e preconceito passou a ficar no meio desse fogo cruzado, que causou a morte, a tortura e o estupro de milhares de peruanos, que nunca foram e talvez nunca serão considerados de fato peruanos nem pelo Estado e nem pela sociedade.
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petraios 22/04/2019

Guerras sujas e histórias esquecidas
Confesso que não tenho muito o hábito de ler HQ. Comecei essa por indicação da Laerte em um podcast e fiquei completamente surpreendido pela forma como a história é constituída.

Sendero Luminoso percorre alguns eventos da história do Peru contemporâneo em um misto de literatura e jornalismo que tem como principal qualidade a multiplicação das camadas de leitura e perspectiva. Essa multiplicação talvez não tosse possível se o gênero e suporte fosse outro que nao uma HQ.

A história se passa no intervalo entee 1985 e 1990, irradiando desde a região de Ayacucho, região da serra. Como se anuncia logo no começo, o volume de Alfredo Villar, Luis Rossell e Jesús Cossio nao é uma história, mas uma conjunção de várias histórias.

A obra é acompanhada uma série de material de suporte que ajudam a entender o que foi a guerra do Sandero Luminoso, e a própria natureza da produção quadrinística com a qual a HQ pretende dialogar, longe do universo idílico de herois e da fantasia. Na obra se intercalam cenas e pequenos comentários que ajudam a compor um universo profundo sobre a dimensão suja e arbitrária da guerra, sobre as complexidades e meandros da instigante história contemorânea latinoamericana e até mesmo sobre quais histórias uma pessoa elege para contar e como elas podem se transformar em armas.

A edição primorosa é da Veneta, com tradução do Rogério de Campos e da Bárbara Zocal.
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