Talita 15/10/2016O primeiro dia do resto da nossa vidaTess e Angus têm dezoito anos e se esbarram na Itália durante uma viagem de férias. Isso parece o começo de uma história de amor, não é? Não é o que a autora Kate Eberlen acha. Tess e Angus apenas topam um com o outro e continuam com suas vidas. Esse é o grande suspense de "O primeiro dia do resto da nossa vida". Se você já leu "Simplesmente acontece", de Cecelia Ahern, vai entender melhor a ideia desse mistério: acompanhamos dois personagens que têm tudo para formar um casal mas que, por conta do destino, não conseguem se encontrar.
A história começa em 1998 e termina em 2013. São quinze anos com muitos altos e baixos. Tess volta da viagem da Itália pronta para começar sua vida acadêmica, mas sua mãe está muito doente. Como se não bastasse isso, os planos para a universidade são deixados de lado quando ela percebe que é a única pessoa que poderá cuidar da irmãzinha de quatro anos.
Angus também está ansioso pela vida acadêmica, mas por motivos bem diferentes. Recentemente ele perdeu o irmão mais velho, o irmão que era o orgulho da família e que rivalizava com ele em todas as situações. Uma dinâmica meio irmão perfeito contra irmão que só decepciona. Por isso o relacionamento de Angus com os pais não é dos melhores, e tudo o que ele mais precisa é ficar longe das duas pessoas que se sentem tão desapontadas com ele.
Os anos vão passando, e Tess e Angus vão levando uma vida triste e difícil. O sentimento que fica por boa parte da leitura é de tristeza. Mais do que uma história de amor, o livro fala do amor próprio, de conseguir andar com as próprias pernas e superar aqueles momentos em que nada parece dar certo. Tess vê seus planos afundarem quando precisa lidar com problemas que não eram dela, e se vê sozinha. Angus toma decisões erradas porque não consegue lidar com suas próprias questões.
Sabe quando você lê uma história de amor, os protagonistas até se encontram mas eles precisam resolver suas pendências para que possam ficar juntos, e todo um passado mal resolvido é um empecilho que eles precisam (e geralmente conseguem) resolver logo? "O primeiro dia do resto da nossa vida" é a história desse passado mal resolvido e não do casal já estabelecido. Se você é desses leitores ansiosos por aproveitar os momentos bonitos de um relacionamento, você também vai se angustiar. Tess e Angus vivem histórias distintas, longe um do outro, e ao longo do livro eu cheguei a me perguntar se eles chegariam a se encontrar novamente.
Por isso, acho que eu não torci muito para eles ficarem juntos, o que eu desejei mais do que tudo foi que eles resolvessem seus muitos problemas. Ambos tinham que lidar com um pessoal bem complicado. Os personagens que os rodeiam só me fizeram gostar mais do casal principal. Eram figuras mesquinhas e egoístas, na maior parte do tempo. Se eu torci um pouco por Angus e Tess foi porque os dois eram os únicos que mereciam um final feliz.
E o final feliz é o mistério do livro. Eles ficam juntos ou nunca se encontram? Em vários momentos da história eles quase se esbarram: no casamento da irmã da namorada do Angus, Tess está acompanhando o namorado, que é o DJ da festa; numa fila de compra de natal Angus vê Tess sem saber quem ela é. O que fica claro logo que a leitura começa é que o encontro dos dois só pode acontecer em um momento: no final. O que mais me instigou foi tanto saber se isso vai acontecer, quanto imaginar e elaborar, ao longo da leitura, maneiras de realizar esse encontro.
Se você busca um livro triste, mas que não vai te fazer chorar, acho que "O primeiro dia do resto da nossa vida" é a escolha perfeita. Emoção na medida certa, com várias pequenas sacadas que impedem que a leitura seja mais do mesmo.
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https://ninguemdeixababydelado.wordpress.com/2016/10/15/o-primeiro-dia-do-resto-da-nossa-vida/