Danika 12/01/2017Mistério fantasmagórico"[...] Minha presença causa um leve arrepio. Ainda consigo afetar discretamente o universo tangível"
Já imaginou uma cidade repleta de fantasmas? Na sua casa, sua escola, aparecendo na rua. Até quando você estava saindo do banho, um deles aparece. Mas são somente isso. Aparições. Não há mudança neles, são quase como hologramas, aparecem na mesma hora, e todo dia em que aparecem, fazem algo e somem. Imitam, talvez, uma coisa que sempre fizeram, ou gostavam de fazer, ou batiam na porta de alguém que marcou sua vida. Cada aparição está ligado a um momento. E é isso que alguns adolescentes começam a descobrir e confirmar. Mas talvez essa verdade possa revelar muito mais do que eles imaginavam...
Primeiro trecho do livro:
"Eu atravesso paredes. Sussurro na janela quando a vejo deixar nossa casa. Oscilo nos limites da minha própria memória."
Uma catástrofe não muito explicada que matou milhões de pessoas há alguns anos abriu uma fenda entre os mundos, permitindo que os que morreram - tanto nesse Acontecimento ou antes - voltem por um curto espaço de tempo e fiquem visíveis a olhos humanos. Uns já se acostumaram com a presença dos fantasmas. Outros tem pavor, apesar de ter que passar ao menos por um durante o dia. Até porque algum deles pode se hospedar na sua casa por algum motivo. Verônica vê o pai todo dia de manhã. Pontualmente às 7:13h, no café da manhã, ele está lá com um jornal na mão e bebendo café. Algum tempinho depois ele some. E é assim todo dia. Ela e sua mãe tem a constante lembrança do que perderam, de que ele não mais está vivo, apesar de visitá-las todo dia. Ninguém sabe o propósito, se é que tem algum. Talvez por já ver o pai sempre, Verônica se acostumou aos fantasmas, ao contrário da sua amiga Janine que morre de medo e não consegue nem olhar para eles.
"[...] - Mas aí eu percebi que tudo que vemos e sentimos... uma música no elevador, uma flor prensada entre as páginas de um álbum de fotos antigo, uma moeda na calçada... tem esse poder. O poder de nos fazer sentir que tudo é efêmero demais. Então eu decidi que ficaria feliz quando Molly aparecesse. Fico ansiosa pra vê-la agora. Ela vem todo dia."
O Acontecimento (como é chamado a tragédia) afetou a vida de todos, mas alguns reagem de forma diferente em seu convívio com os fantasmas. Kirk, colega de classe de Verônica, acaba iniciando uma pesquisa sobre os fantasmas e junto com Verônica, começam a perceber sutis diferenças e impactos que os fantasmas causam, ou ao menos, passaram a causar. Há uma mudança de padrão de comportamento com alguns deles, algo que pode ir além de simples aparições, e quanto mais eles investigam isso, mais riscos correm, mais o tempo se passa e um perigo iminente pode estar prestes a se abater na vida dela. A trama tem vários personagens marcantes, Verônica é uma garota forte e de atitude, que está sempre tentando erguer a sua melhor amiga, que não tem vivido bem com tudo isso. Kirk e James também estão presentes, embora odeie James. Dois professores - um meio louco e um assustador - tem diferentes relações com os fantasmas e divergentes opiniões sobre o que de fato levou ao Acontecimento e o motivo dessa 'invasão sobrenatural'. O fantasma no banheiro de Verônica, Brian, é uma peça importante e sua narrativa em primeira pessoa nos passa o tamanho da aflição dele por ser somente quem ele é agora, apenas um fantasma, embora um pouco diferente dos outros, já que em relação a ele, temos acesso à sua consciência. O que ela não sabe, é que seus dias estão sendo contados. O ano é especial, é bissexto, e ela está prestes a fazer aniversário, o dia 29 de fevereiro, dia em que o véu entre os dois mundos está mais sensível, o dia tão esperado.
"Para tudo é preciso esforço, para tudo é preciso energia. Eu sei que isso também vale para os vivos, mas os mortos precisam literalmente se esforçar para continuar existindo. Sem esse esforço, começamos a desaparecer."
A história é bem diferente do que já li por aí e gostei bastante da construção de toda a trama. Confesso que o começo foi meio lento pra me adaptar a narrativa em terceira pessoa, mas assim que a gente pega no embalo a leitura flui. Se é terror que você espera, não se iluda. É um suspense com aventura e um toque de romance. Em alguns capítulos há algumas análises e explicações sobre mundos, paralelos, portais e a matéria de que os fantasmas são constituídos - ou algo assim, mas nada longo demais pra que se torne cansativo. O final é super rápido e você acaba o livro querendo mais, até porque muitos fatos não são explicados, até mesmo sobre esse Acontecimento e o que deu início a ele (sim, gostaria de saber para estar preparada... vai saber o que pode acontecer pela frente, né? hehehe), a ligação de Verônica com Brian, entre outros pequenos detalhes.
"[...] Estou me desfazendo numa espiral. Mas, mesmo enquanto me disperso, sinto uma nova possibilidade. porque eu agi, ultrapassei o mundo intermediário e novamente meu toque espectral alterou o curso do dia.
E então, sou nada outra vez."
Achei a capa muito boa, a diagramação tá linda e a correção impecável. A contagem de dias como capítulos ficou maravilhosa! O título condiz com a história, mas achei interessante o título original que é "Quebre meu coração 1000 vezes" (tradução livre). Melhor coisa é você terminar de ler um livro que adorou e no final estar lá dizendo que sim, terá adaptação e está prevista para estrear esse ano. Eu já tô aqui ansiosa imaginando todas as cenas dignas de todo mistério no cinema! Espero que consigam passar o suspense de forma assustadora! *-* Indicado pra todo mundo que curte algo sobrenatural. Leiam muito!
site:
http://www.garotaselivros.com/2017/01/cidade-dos-fantasmas-daniel-waters.html