MiCandeloro 06/01/2017
Belo, mas perturbador!
Laura e Matt contavam os dias para que o Sr. Pottisworth morresse, não só porque Laura não aguentava mais cuidar daquele velho ranzinza, mas também porque ele prometera deixar em seu nome a Casa Espanhola, lugar onde ele morava e que era da sua família há gerações.
A casa estava caindo aos pedaços, pois fazia mais de 50 anos que não via uma reforma, mas não tinha problema, Laura e Matt eram pacientes e já tinham arquitetado tudo e sabiam exatamente o que fariam com o local depois que o moribundo falecesse.
Porém, as coisas não saíram como planejado. Pottisworth não honrou a sua palavra, e depois que partiu dessa para melhor, a Casa Espanhola foi parar nas mãos de sua sobrinha neta, para a fúria dos McCarthy.
Fazia menos de um ano que Isabel estava viúva. Ainda de luto, ela não tinha forças para cuidar dos filhos, nem de nenhum serviço doméstico. A única coisa que fazia era tocar o seu violino, um Guarnieri, presente do seu amado.
Mas ela não podia mais ignorar a pilha de contas que se acumulava, nem de sobrecarregar a filha de 15 anos com tarefas que não eram de sua responsabilidade.
Certo dia, ao receber a visita do advogado, descobriu estar falida. Seria necessário vender a residência na qual eles moravam e cortar todos os supérfluos para se sustentarem. Ainda bem que havia sido agraciada com uma herança recebida do irmão de sua mãe. Ao menos ela e as crianças teriam um teto.
Mas mal sabia ela o fardo que a Casa Espanhola trazia consigo. Marcas capazes de transformar todo um vilarejo.
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Desde que me tornei fã de Jojo, impus como meta ler todos os seus livros, portanto, assim que pude colocar as mãos em O som do amor, me joguei de cabeça, como faço em todas as leituras de Moyes, mas dessa vez, senti um estranhamento absurdo em relação à essa história.
Nesta obra ela trabalha a temática da obsessão, e coloca como objeto de desejo e de disputa entre todos os protagonistas a Casa Espanhola.
Me incomodou demais observar o quanto o ser humano é capaz de se corromper e de se dobrar para alcançar um objetivo, mesmo que ele precise fazer mal aos demais.
Além disso, é impressionante como as pessoas são aptas a atribuírem a sua felicidade a eventos futuros ou ainda inalcançáveis, ao invés de valorizarem o que têm.
Por mais que eu tenha amado ser teletransportada para o interior da Inglaterra, agraciada com vistas de tirar o fôlego e com a pasmaceira que é viver no meio do mato, senti nojo, raiva e indignação por tudo de ruim que aconteceu no texto.
Narrado em terceira pessoa, com capítulos intercalados entre o ponto de vista de todos os personagens, conhecemos melhor a respeito daqueles que tiveram a sua vida afetada pela Casa Espanhola.
Matt é um dos personagens mais desprezíveis escritos pela Jojo. Após perder a casa, ele oferece à Isabel ajuda para reformá-la, com o simples intuito de fazer a viúva gastar todas as suas economias para depois ser obrigada a vender a propriedade como uma forma de se reerguer. O pior, todos no vilarejo desconfiam dos planos de Matt e não fazem nada. Eu odiei Matt com todas as minhas forças e queria que a autora tivesse matado ele e fiquei furiosa com o final que ele teve.
Matt é o retrato grotesco de todos os gananciosos, corruptos e despudoráveis que vivem na sociedade, e tenho certeza de que a minha repulsa se deve ao fato de Jojo tê-lo escrito tão bem. Por isso não posso deixar seus méritos de lado.
Mas se não fosse por Matt, tenho certeza de que teria adorado a trama, afinal, também presenciamos lindos desabrochares, amadurecimentos e amor ao próximo.
Isso ficou nítido no crescimento de Isabel, que deixou de ser uma mãe relapsa e negligente e assumiu seu papel de cuidadora e lutou pela felicidade de sua família; em Byron, que se doou a completos estranhos, ao dar atenção a Thierry e ao ensinar Isabel a sobreviver de suas terras; e nos Primos, que ofereceram seus ombros, ouvidos, mantimentos e um chá quente para quando os problemas surgiam.
Com um desfecho angustiante e de tirar o fôlego, O som do amor nos mostrou que casas são apenas amontoados de materiais de construção, e que aquilo que realmente importa são os amigos e a família que levamos no coração.
site: http://www.recantodami.com