Tamirez | @resenhandosonhos 24/04/2017Tudo que Deixamos para trásTudo que deixamos para trás foi uma surpresa. Quando fui apresentada ao livro e a premissa de uma distopia que focava no desaparecimento das abelhas, achei que seria uma trama chata pela qual eu não me envolveria, mas fui positivamente surpreendida pela forma como a história vai se enlaçando.
Em um primeiro momento tudo vai parecer desconexo. Três situações em três épocas diferentes. Três pessoas com quase nada em comum a não ser uma conexão com abelhas, mas esse não é o único ponto de convergência e é muito legal ver tudo sendo explicado enquanto caminhamos pela vida desses personagens. Além da distopia em si, esse é um livro sobre o relacionamento familiar. Pode não parecer, mas entendendo mais sobre os protagonistas é fácil ver como cada um deles tem uma relação forte com os filhos e de como isso se torna relevante e com destaque na narrativa.
Tao é uma lutadora. Ela tem 28 anos, é casada e tem um filho. Nessa sociedade você só pode engravidar até os 30 anos e precisa pagar uma taxa para ter um segundo filho, a qual eles estão economizando. Como vivem em um regime praticamente escravo tudo é muito difícil. No futuro ela vê o filho seguindo o mesmo caminho que todas as demais crianças, indo pra escola aprender a polinizar e saindo de lá um soldadinho que fará mecanicamente um trabalho injusto. Mas ela quer mais e no privado tenta ensinar o menino matemática, geografia e outras coisas que considera importante.
“Não quis aprender por aprender, quis aprender para compreender.”
Quando algo acontece com o menino, há um estopim na história e vemos as coisas começarem a girar em volta de um conflito mais real. É em Tao que vemos a garra e a vontade de mudar o futuro. É nessa mulher esquecida em um lugar no ocidente que reside a gana por buscar respostas e com a qual infelizmente algumas coisas ruins podem acontecer.
William é o personagem que eu menos gosto e passei o livro todo questionando sua presença. Ele quer status, mas tudo dá errado. deixa a família a mercê de sua doença, não fornecendo suporte, até que não haja mais o que fazer. Quando finalmente se põe de pé, seus olhos se voltam para o único filho homem e herdeiro de seu nome, enquanto ignora as filhas e aquela que parece realmente entender o que ele está fazendo.
George é o típico pai conservador que quer que o filho siga seu mesmo caminho. O jovem, porém, quer ser escritor. A relação dos dois é bem evasiva e distante e os esforços do patriarca parecem afastar ainda mais o garoto. Mesmo assim Tom entende o peso que aquilo tem para sua família e por vezes se dobra a vontade do pai, ajudando quando necessário nas poucas vezes em que está em casa. É com esse núcleo que vamos acompanhar a coisa realmente acontecer.
“Assim como o zangão, sacrifiquei a vida pela procriação.”
Segundo a trama o desaparecimento das abelhas começou em 1980 e alcançou seu estopim entre 2007 e 2011, não deixando nada depois disso a não ser um mundo que precisava achar formas de sobreviver sem o importante animal. Sem os insetos e sua polinização a fertilização foi a baixo e tudo entrou em colapso. O motivo seria o excessivo uso de pesticidas e claro, o impacto disso na natureza.
Ao fim do livro a autora cita uma série de artigos reais e científicos que embasam o livro e um possível estudo do que aconteceria caso as abelhas realmente desaparecessem. Isso, enquanto outros tantos livros de distopias trazem fatos bem menos críveis, foi o que também deu crédito pra mim à história. Não é algo impossível ou até distante. Todos sabemos que ano após ano animais são extintos graças a feitos da raça humana. Já temos uma infinidade de raças que ficou no passado e isso tende a aumentar conforme o desgaste que causamos no planeta e o descuido com ele.
Sendo uma distopia em volume único, achei a proposta bem diferente e interessante depois que mergulhei na história. Acho que fãs de livros como A Evolução de Calpurnia Tate ou com uma pegada mais ambientalista podem se identificar bastante com o cenário. Outro fator é termos personagens adultos e não adolescentes comandando a narrativa. Tudo que deixamos para trás não é um young adult e acho que a capa e o trabalho gráfico já deixam isso claro.
“Tinha pensado que teria que escolher, mas eu daria conta das duas: tanto da vida como da paixão.”
Pra mim que fui sem expectativa e esperando algo bem diferente, a leitura demorou um pouco a engrenar. Mas depois de estar dentro do livro e ter compreendido totalmente as três visões, foi super fácil avançar e a escrita da autora se tornou fluída e rápida.
Então, caso você esteja procurando uma distopia diferenciada, adulta e bem diferente, Tudo o que deixamos para trás pode ser uma boa opção para investir. A editora também fez um bom trabalho com a edição deixando ela bem característica.
site:
http://resenhandosonhos.com/tudo-o-que-deixamos-para-tras-maja-lunde/