Luz

Luz Andrei Simões




Resenhas - Luz


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Fernanda 14/07/2019

Andrei Simões, autor de “Zon, o rei do nada” e “Putrefação” lançou no dia 04 de outubro o seu mais novo livro “Luz, o deus do horror”.
Gosto de identificar o autor pela obra e o atual lançamento não foi diferente. Andrei tem uma forma peculiar de narrar. Seus livros são mais que simples obras de terror; ele questiona e instiga, tudo isso enquanto te faz acender todas as luzes de casa.

"E se Deus não for como pensamos que Ele é? E se Este criador, que muitas vezes parece muito criação nossa, com nossos defeitos, reger o mundo através do mal, em vez do amor? E se o planeta Terra for um reino da maldade, onde a bondade é a contra-maré?". Essas são palavras do próprio autor sobre “Luz, o deus do horror” quando o livro ainda estava em produção. Em minha leitura, vi a maldade, o medo e a dor em sua forma mais crua, mas também vi significados interessantes para traduzi-las.

“Luz, o deus do horror” é um livro com capítulos em formas de contos. Cada capítulo conta uma história (que quase nunca acaba bem) que nos apresenta perspectivas variadas do medo. Elas não são aleatórias e ao final o leitor é testemunha de uma síntese perturbadora.
Entre palhaços, hienas e baratas, o medo surge para nos mostrar algo surpreendente.

Andrei Simões entrelaçou o horror e o terror de uma forma interessantemente harmoniosa.
Os contos costumam iniciar com uma realidade comum, alguns em dias ensolarados até, para logo sermos introduzidos a novas realidades assustadoras. Realidades essas que, talvez, alguns de nós conheça.

O livro faz parte de um universo que Andrei Simões chama de “Crônicas da não-existência", onde seus três livros lançados tem algo que se conectam, mesmo que não tenha uma ordem obrigatória para compreender a leitura. Cada livro é autossuficientes, no entanto, se conheces as três histórias terás uns arrepios a mais, Aquele que lê.

“Luz, deus do horror” foi lançado pela Editora Twee e contém ilustrações incríveis (e assustadoras) do paulista Eduardo Sejji. O único adendo à 1ª edição do livro é que o texto está muito junto a lombada e dificultou um pouco a leitura, no entanto, é um problema ínfimo se comparado ao cuidado com o todo. O livro tem as laterais escuras e um trabalho gráfico muito bonito.
Um prato cheio para os fãs de terror e horror!


site: http://www.garotapaidegua.com.br/2016/11/eu-li-luz-o-deus-do-horror-andrei-simoes.html
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Clara 23/12/2016

Vida longa à nova carne
(Resenha escrita em 12/10/16)

Terminei Luz, o deus do horror algumas horas antes de escrever este texto, e precisei de um tempo para fechar os olhos, respirar fundo e absorver cada nuance, ironia, reflexão e delírio impressos no livro. Trata-se do terceiro volume das Crônicas da Não Existência, antecedido de Putrefação e Zon, o rei do nada, duas obras que esgotaram completamente minha sanidade depois que as terminei, apenas para cuspi-la de volta em meu rosto, recalibrando a consciência de que tudo um dia acaba, de que tudo um dia vira nada. Em Luz, o deus do horror, Andrei não decepciona, despindo-se completamente de quaisquer amarras e convenções que o impedissem de cuspir em nossos rostos e provocar-nos, uma vez mais, e com ainda mais intensidade, acerca da verdade por trás das máscaras da vida comum.

Se é verdade que o divino é a criação mais engenhosa e intrincada do ser humano - aperfeiçoada e lapidada ao longo dos séculos -, também é verdade que os demônios e entidades sobrenaturais maléficas presentes nos antigos mitos desde os tempos imemoriais também o são. Com estes anjos bizarros travamos guerras entre criador e criatura, por dias, anos, séculos, milênios, como um ouroboros mordendo eternamente a própria cauda em um ciclo infindável - o eterno retorno descrito por Nietzsche. Em algum momento, é inevitável que se pergunte: até quando?

Cada um dos contos do livro resgata os instintos e paixões primordiais da alma humana - o medo, a dor, a fome, a vontade, a autopreservação - travestindo-os de monstros grotescos, sanguinolentos e viscerais para, ao fim da trama, rasgar as cortinas e revelá-los como um reflexo putrefato de nós mesmos, nossos próprios demônios e criações, quebrando novamente a quarta parede através da figura de "Aquele que Lê", nós, leitores omissos e observadores passivos diante do show de horrores se desenovelando à nossa frente. O deus do horror possui espelhos no lugar de olhos e, se os olhos são as janelas da alma, as órbitas do horror se alimentam da omissão de cada um de nós.

Em Putrefação, tivemos acesso à decadência do indivíduo na ausência do mito do criador para salvá-lo da morte. Em Zon, questionamos o criador frente à criatura. Luz, por fim, quebra todas as barreiras entre estes dois, ao ponto de que é impossível realmente sabermos quem é criador ou quem é criatura, em um eterno ciclo dialético pelo qual a humanidade se arrasta em patinhas de barata. Luz, o deus do horror é um livro belo em sua assimetria grotesca, em seu choque de realidade niilista e minimalista do qual seus leitores (eu inclusa) jamais conseguirão se esquecer. Parabéns a todos os envolvidos neste trabalho estupendo.
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