Wash (@viciodaspaginas) 31/08/2020
Fome de querer mais
Que leitura eletrizante!
Você não consegue parar de ler e termina com ânsia de querer saber mais do que aconteceu depois.
Estamos numa pacata cidade sertaneja do nordeste brasileiro, onde grande parte da população já desfez em debandada, principalmente os mais jovens, restante poucos habitantes para ocupar as parcas moradias dispostas aqui e ali.
O Prefeito, então, só se dispôs em época de campanha e após o noticiado evento das tubulações de água que foram implantadas na cidade (um dos maiores de seus feitos para aquela região seca), simplesmente some do mapa, literalmente.
A leitura é simplesmente aterradora, te arrasta com força para a vida dos personagens, suas angústias, seus dilemas da região e expectativas de dias melhores.
A escrita do autor é um recheio de dialetos, crendices, gírias e um toque sádico e humorísticos em muitos pontos. Em meio a fuga de tirar o fôlego a que os personagens da trama nos leva, somos convidados a conhecer não só a vida deles como também a dos que foram afetados por essa praga. Em destaque temos a visão até racional, se é que podemos dizer assim, do bicho, agora morto/Zumbi que antes era o padre da paróquia da cidade.
Márcio nos brinda com terror de forma espontânea, utilizando uma escrita que nos remete a uma imersão, como se tivesse realmente em diálogo constante com o leitor e o transportasse direto para cada cena, cada medo.
Já quero a segunda temporada! Pode parecer estranho dizer esta palavra, mas me senti em filme/série, diante meus olhos a cada capítulo. E este por serem curtos e diretos, com cortes precisos entre as histórias e momentos vividos pelos personagens, torna a leitura ainda mais interessante e instigante.
Vocês precisam conhecer esses zumbis nordestinos, porque aqui não são complemente desapropriados de objetivo, eles não andam a esmo sem foco. Os bichos, antes habitantes desse lugarejo, cercados pela paisagem árida e a rotina dura, são infectados por uma imprudência política. E o que antes era motivo de alegria, pois a sede seria suprida e melhores condições pela superação da seca, fosse tornar o fardo que os conduziram a uma fome além da comida, além da água, uma fome humana!
Recomendo muito!