Corda no Pescoço

Corda no Pescoço Ingo Müller




Resenhas - Corda no Pescoço


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Fernanda 14/07/2019

Hoje a nossa indicação de livro é nacional e regional. “Corda no pescoço” é a obra de estreia do paraense Ingo Muller, publicado pela Editora Empíreo. O livro foi o vencedor do prêmio FOX-Empíreo de Literatura da FliPa em 2016 e a obra traz várias homenagens ao imaginário das lendas do norte.

Lisa é uma noviça que foi abandonada ainda bebê em um convento no meio da floresta amazônica. e criada pelas irmãs de Misericórdia. 17 anos depois, no dia de sua ordenação, ela sofre um pequeno surto e as irmãs a tomam como possuída.

Portanto, para superar sua provação, Lisa terá que fazer uma peregrinação para encontrar o monge Guilles, o único exorcista da região, com uma corda no pescoço para lembra-la de seu castigo. Em seu caminho, surgem figuras muito interessantes, como Bira, um corajoso caboclo pescador descendente de índio e Chuvisco, um nordestino arretado cheio de pecados que a acompanhará em sua jornada por redenção.

A trajetória de Lisa, no entanto, não será nada tranquila. No período que a história se passa, pós colonização, são muitos os desafios. A noviça e seus companheiros se envolvem em diversas confusões que abrange a história de vida de outros personagens importantes para a construção do enredo. E que enredo, leitores! Os desatinos e as surpresas surgem a todo o instante para nos encantar e nos prender nesta fantasia totalmente nossa.
O autor brincou muito com as propostas que o imaginário do norte traz, traçando uma ambientação digna de nota sobre a floresta pois é de uma percepção palpável.

E as lendas? Nós, do norte do país, respiramos lendas. Alguns, inclusive, falam que é quase impossível ser ateu no Pará porque tem muita visagem. Pelo sim ou pelo não, as lendas amazônicas são quase patrimônio cultural e o autor conseguiu inserir algumas das principais em sua narrativa, mesclando a realidade com a fantasia. Assim sendo, “Corda no pescoço” traz um universo fantástico repleto de referências interessantes; principalmente para o povo do norte que ouve as histórias desde cedo.
Mas calma, jovens. O livro continua universal e envolvente, portanto, indico muito que coloquem na lista de leituras.

Um ponto interessante para ser destacado são os conflitos políticos e ambientais comentados na história. Confesso que um livro ganha muitos pontos comigo quando aborda termas que refletem a nossa realidade na vida.
"Corda no pescoço" é, acima de tudo, uma história sobre a colonização amazônica e mesmo que o enredo tenha outros núcleos, o livro traz uma discussão muito pertinente sobre como o homem branco foi nocivo para a floresta e para a cultura indígena da região e ainda como a busca pelo poder pode ser implacável.

É uma leitura muito atrativa e dinâmica com um texto simples e direto. Aponto uma observação apenas para o fato de que os termos regionais, que são muito utilizados, não tiveram um glossário. Acredito que seria adotável para os leitores de fora do Pará que não tem uma aproximação com o nosso vocabulário paralelo rsss. Eu, que sou paraense da gema, admito que me deliciei. No entanto, esperamos que as pessoas de outros estados tenham acesso, portanto, talvez seja interessante para uma próxima edição.

O trabalho da editora Empíreo é sempre louvável na preparação de seus livros. Como adoro os livros dessa editora, gente! Mas, pasmem, não gostei muito da capa. Claro que essa é uma questão muito subjetiva. Quando falei sobre a obra no PA Book Club e comentei sobre esse fato, uma das participantes disse que compraria o livro pela capa. Ou seja: gosto é gosto.

"Corda no pescoço" é uma leitura imprescindível para quem curte livros fantásticos com um toque bem regionalista. O livro pode ser encontrado na FOX, da Dr. Moraes e o autor, Ingo Muller, estará participando da FliPA (falei sobre o evento aqui) que acontecerá neste final de semana. Será uma hora perfeita para conhecer e prestigiar a obra.
Aproveitem!

site: http://www.garotapaidegua.com.br/2017/10/eu-li-corda-do-pescoco-ingo-muller.html
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Paulo 10/03/2019

Conseguir criar um cenário de exploração do desconhecido é sempre algo difícil e recompensador. Isso porque o autor constrói um personagem que nada conhece do mundo e de repente se vê na necessidade de saber mais sobre ele enquanto passa a conhecer mais sobre si mesmo. Esta é mais uma forma de abordar a jornada do herói e o autor consegue fazer isso muito bem em uma narrativa que bebe da exploração colonial europeia na Amazônia. Isso mantendo parte de sua originalidade à medida em que ele extrapola determinados elementos.

A escrita do Ingo é bem descritiva e imersiva. A gente consegue se familiarizar bem com o universo que ele criou. Outro aspecto que serve como apoio para dar um ar específico à história é a preocupação com a fala dos personagens. Cada um deles se insere dentro de sua classe social específica. Seja a freira educada em teologia e com pouco conhecimento de mundo, ou o ribeirinho acostumado à dura vida da pescaria ou o prisioneiro que parece ter sido um bandoleiro. Todos tem sua forma particular de fala o que compõe para a sua caracterização. A revisão da Empíreo está muito boa com pouquíssimos erros. A narrativa é em terceira pessoa focada em Lisa e em suas desventuras pela floresta. Vez por outra temos uma tomada no núcleo de personagens do convento, mas achei estes trechos um pouco mal aproveitados. Achei que dava para explorar mais estes locais. Mais abaixo eu falo um pouco mais sobre estas questões de narrativa.

Os personagens são bem construídos e realmente ajudam a narrativa a andar. Os acompanhantes de Lisa servem para ajudá-la a amadurecer e a perceber o quanto o mundo é grande se visto das janelas do convento. Lisa é uma personagem em dúvidas sobre si mesma. Sua jornada é uma autorreflexão sobre qual o seu lugar no mundo. Se ela começa como uma personagem submissa e seguidora das normas, ela vai percebendo que suas escolhas são responsáveis pela forma como sua vida e daqueles ao seu redor é conduzida. Que não basta esperar passivamente para que as coisas aconteçam. Era necessário agir, lutar por aquilo em que acredita.

Me incomodou o fato de que algumas mudanças ocorridas no caráter da Lisa parecem rápidas demais. Entendo que não dava para passar dezenas de páginas descrevendo como essas mudanças de perspectiva aconteceram pouco a pouco. Mas, eu sinto que faltaram capítulos ou trechos em alguns capítulos em que a personagem parava para refletir sobre suas crenças. Digo isso porque esses momentos acontecem em outros trechos da história. Entender a psiquê da personagem é importante para a narrativa como um todo e perceber que esta destoa em parte do que a personagem era antes ou esta parece abrupta ou forçada prejudica o próprio desenvolvimento da mesma. A abordagem do Ingo Muller acerca das engrenagens de funcionamento de seus personagens é semelhante ao que a Robin Hobb faz com Fitz em seu livro O Aprendiz de Assassino. A narrativa funciona em função das mudanças que ocorrem com o personagem.

Gostei demais da ambientação. Faço ideia da pesquisa que o Ingo deve ter feito para ambientar sua narrativa no norte do Brasil. E pior: ele pegou o norte no período colonial durante a exploração das drogas do sertão. Isso me faz pensar que ele pode ter situado a narrativa entre os séculos XVII e XVIII. As narrativas desse período nessa região são muito escassas. Temos apenas fragmentos de relatos de viajantes. Mas, assim, nem é preciso saber tanto destes detalhes porque ele consegue entregar todas as informações que você precisa na história. Outro ponto positivo é que a história é muito autocentrada e encerrada em si. Ou seja, se trata de um livro único e que encerra a jornada destes personagens. Acho positivo, mas também abre brechas para aproveitar algumas localidades ou personagens da narrativa como o famoso Fagundes, nosso membro das forças da Coroa que acaba se envolvendo em vários problemas durante a perseguição aos nossos personagens. Mas, ele é um personagem repleto de nuances e daria um ótimo protagonista em uma história futura.

Temos vários temas sendo debatidos aqui nesta narrativa: amor, traição, aceitação, pertencimento. Por exemplo, Bira tem parentes que faziam parte de uma comunidade indígena e durante a história ele está correndo de qualquer coisa que o coloque de volta neste mundo. Mas, ao mesmo tempo, é algo que é intrínseco a ele e é percebido pelos nossos personagens. O seu momento é quando ele descobre a si mesmo e qual o seu papel. Aquele momento final eu não gostei porque destoou demais do caminho que o personagem estava percorrendo. A justificativa usada por ele para ter feito tamanha mudança não é tão boa. E eu até senti isso em muitos momentos na narrativa. Plots que acabavam em becos sem saída (como o da irmã que detesta Lisa ou do prefeito corrupto e sua esposa sofrida que possui um segredo). Achei esses plots mal aproveitados e que poderia ter rendido desenvolvimentos épicos.

Por outro lado, o autor tem uma ótima pegada em cenas de ação. Todas são muito fluidas e possíveis. Nada é estranho demais e olha que eu já vi autor que tem extrema dificuldade em montar tais cenas. Mais para o final temos uma sequência incrível que realmente vai te deixar preso às páginas para saber o que vai acontecer a seguir.

Corda no Pescoço é uma boa narrativa usando uma ambientação que eu achei muito diferente. Meu espírito de historiador se sentiu feliz até porque o autor foi bem cuidadoso com as referências históricas e mesmo tendo alguns detalhes que parecem ser fantásticos, manteve seus pés no chão. Uma leitura que vai te prender por boas horas de leitura apesar de em alguns momentos te fazer flutuar. Mesmo assim, os bons momentos de reflexão e ação superam os pequenos deslizes, criando uma narrativa que eu tenho certeza que vai agradar aos leitores mais exigentes.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Acervo do Leitor 02/02/2018

Corda no Pescoço – Ingo Muller | Resenha | Acervo do Leitor
Todos os que acompanham o nosso trabalho aqui no Acervo do Leitor sabem o quanto somos apaixonados pela Fantasia e seus subgêneros. O quanto ficamos entusiasmados para anunciar um grande lançamento ou indicar aquele livro que ganhou nosso coração. Mas há algo que talvez vocês ainda desconhecem. O prazer de estufar o peito, ajustar a garganta e anunciar que aquele livro espetacular, que nos fez viajar por entre suas páginas de maneira tão constante e imersiva é uma obra de um autor nacional.

Corda no Pescoço do autor e jornalista Ingo Muller traz em sua bagagem nada menos que o prêmio Fox-Empíreo 2016 em um livro recheado de referências não somente ao gênero, mas às nossas culturas que muitas das vezes são jogadas de lado por nós mesmos em detrimento de outras mundo afora.

“- O mundo também lhe ensinou a recorrer a ameaças, filha?”

Corda no Pescoço nos apresenta Lisa, uma jovem noviça que vê sua vida desmoronar no dia em que é acusada por outras freiras de estar possuída pelo demônio. A partir daí a garota vai em busca do Monge Gilles para exorcizar sua “alma” e restaurar seus planos de se tornar uma freira. Entretanto, a medida que conhece o mundo exterior, Lisa percebe que as coisas não são exatamente como lhe foram apresentadas, e sua jornada por entre as misteriosas florestas da Amazônia vai muito além de retratar suas possíveis “falhas”, a jovem está a partir de agora traçando as linhas da autodescoberta ao lado de parcerias improváveis.

O livro é uma grande pérola lapidada da nossa cultura. O autor a todo instante faz uso de nossas particularidades através de seus personagens. Chuvisco, o mais marcante da obra nos delicia com seu linguajar “nortista” em cada diálogo. Trazendo consigo a caracterização completa de um verdadeiro lampião em busca de redenção. Destaque na mesma proporção para a nativa Yacyara e sua onça Tuíra que roubam a cena cada vez que aparecem. Ubirajara completa a equipe que irá ajudar a noviça em sua busca. Do outro lado temos antagonistas egoístas e cruéis, dignos de reconhecimento com seus planos ardis para prejudicar Lisa.

“Arre égua, nos lascamos! – definiu Chuvisco”

Um dos grandes acertos de Ingo foi conseguir inserir diversos elementos fantásticos dentro de um ambiente totalmente realista. Não vou entrar em detalhes sobre estes pontos para não prejudicar a experiência do leitor. Mas posso garantir que tudo é muito crível, incluindo as decisões e desenvolvimento do enredo. A maneira como as muitas revelações são feitas e apresentadas nos faz mergulhar de maneira incisiva dentro da história. Acabamos por nos importar com os personagens, como se fizéssemos parte desta jornada. As diversas críticas sociais, políticas e religiosas dão um incremento poderoso dentro da trama.

“- Eu não mudei, eu me encontrei.”

SENTENÇA

Ingo Muller vem para mostrar que a Fantasia nacional está recheada de livros fantásticos e que esperam por uma oportunidade. Com personagens inesquecíveis, incluindo sua protagonista que determina o rumo dos eventos, e uma trama rica e poderosa cheia de reviravoltas, Corda no Pescoço é digna dos mais sinceros aplausos.



site: http://acervodoleitor.com.br/resenha-corda-no-pescoco-ingo-muller/
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allanfrancis.salgado 04/10/2017

UMA FANTÁSTICA JORNADA EM SOLO TUPINIQUIM
Quando peguei o livro do INGO, fiquei impressionado com a maturidade com que ele escreve. Diálogos consistentes, personagens bem definidos. Para quem gosta de RPG, fica clara influência do autor na construção de cenas e no transcorrer da trama. Ingo nos proporciona uma imersão na cultura brasileira em especial nos modos e costumes do Brasil colonial e nas terras da nossa rica Amazônia.
Percebe-se claramente que o trabalho de pesquisa foi intenso e o autor coloca este trabalho de forma natural e suave em sua escrita, conforme e jornada da personagem principal se desenvolve.
A narrativa é concisa, sem floreios desnecessários e caminha rapidamente. O autor nos premia com uma dados da cultura que assimilamos sem dificuldade, seja em diálogos, seja na narrativa.
Corda no Pescoço é um livro que apresenta mais um novo talento da literatura fantástica brasileira que ganha cada vez mais espaço entre os leitores.
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Lucas 12/11/2016

Uma jornada deliciosamente amazônica
Leitura indispensável para qualquer amazônida que puder botar as mãos neste livro. Ingo descreve com maestria, eventos, costumes, comidas e a flora de onde seu romance se decorre. Para os que nasceram em outras partes do mundo, serve como uma bela introdução à riqueza desse lugar.

Mas a beleza de "Corda no Pescoço" vem do mundo de fantasia que Ingo criou, retocado por detalhes na medida certa, não passando o limite do enriquecedor para o desnecessário. A floresta tem vida com a vegetação, os animais e os rios pintados por Ingo. Assim como os personagens, muito bem desenhados e cada um com suas particularidades, características e até modos de falar diferentes.

Tudo isso torna "Corda no Pescoço" uma jornada inesquecível e também muito sangrenta, sobre amizade, redescobrimento, propósito e religião. Não há como negar as críticas sociais inseridas aqui e ali em alegoria ao mundo de hoje, que é algo que eu particularmente sempre considero surpresas agradáveis quando estou lendo.

No mais, como jogador de RPG, me senti assistindo uma aventura onde Ingo era o mestre e Lisa, ao lado de outros "jogadores", cada um com uma função bem designada no grupo, tentava concluir uma campanha emocionante e com algumas reviravoltas ao longo do caminho.

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