Homens e sucatas

Homens e sucatas Betzaida Mata




Resenhas - Homens e sucatas


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Gabriel Perez Torres 10/04/2024

Ecos e Silêncios da Vida Cotidiana
A coletânea "Homens e Sucatas", de Betzaida Mata, publicada pela Editora Penalux, apresenta-se como um mosaico de histórias que tecem a complexidade e a simplicidade da existência humana. As narrativas, variadas em temas, são unidas pela sensibilidade aguçada da autora ao retratar aspectos singulares da vida cotidiana, seus personagens e seus dilemas intrínsecos. Mata utiliza-se de uma linguagem acessível, porém rica em nuances, desvelando com precisão psicológica os conflitos e as alegrias que permeiam a vida de seus personagens.

O conto "Da densidade humana" abre a coletânea evidenciando o talento de Mata para captar os momentos de ruptura e revelação pessoal. A simplicidade da cena contrasta com a complexidade dos sentimentos envolvidos, mostrando como o cotidiano é repleto de camadas de significado. Esta abertura funciona como uma chave que nos prepara para mergulhar nas diversas histórias que se seguem, todas carregadas de emoção, reflexão e humanidade.

"A sereia grávida", por outro lado, mescla realismo e fantasia para abordar temas como preconceito e transformação. A narrativa flui de maneira que a linha entre o real e o imaginário se torna tênue, permitindo uma interpretação rica em simbolismos. Mata, aqui, demonstra sua habilidade em transitar por diferentes gêneros sem perder a essência de sua voz narrativa.

A coletânea, no entanto, não se furtaria de críticas. Algumas histórias podem parecer desconexas ou menos impactantes se comparadas às demais. Este aspecto, porém, não diminui o valor da obra como um todo. Pode-se argumentar que a variedade temática e estilística contribui para o dinamismo da leitura, refletindo a diversidade da experiência humana.

Em "Festa do Erê", a autora explora a dualidade entre fé e ceticismo, tradição e modernidade, através de uma narrativa que se desenrola com um humor sutil e uma leveza que encanta. O conto, riquíssimo em elementos culturais, oferece um olhar perspicaz sobre as escolhas individuais frente às pressões sociais e familiares.

"Homens e Sucatas", como um todo, é uma obra que convida à reflexão sobre a vida, com suas alegrias, tristezas, desafios e triunfos. Betzaida Mata demonstra ser uma contista de mão cheia, capaz de capturar a essência humana com empatia, sensibilidade e uma pitada de magia. Sua escrita, embora simples, é profunda e evocativa, fazendo desta coletânea uma leitura recomendada para todos aqueles interessados em explorar os intricados caminhos da alma humana.
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Peleteiro 17/03/2022

Betzaida merece maior reconhecimento
Percebo que há muuitas mulheres escrevendo poesia, algumas escrevendo romances e pouquíssimas escrevendo contos. Dentre essas pouquíssimas, a minha grande descoberta foi Betzaida Mata. A delicadeza com que passeia entre o rotineiro e o fantástico com uma narrativa doce e poética é coisa rara de se achar. Certamente o conto da sereia, um dos primeiros do livro, será sempre lembrado por mim. Assim como o da criança que nunca havia escutado nada sobre Deus. Livro recomendadíssimo.
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Penalux 20/12/2017

O mundo dos homens repete nos ouvidos a insuficiência humana frente as desilusões, o desmanchar dos planos. É sobre este sentimento de incapacidade que os contos de Betzaida Mata falam. Suas histórias trazem à superfície, a vida de homens e mulheres que são atropelados pela realidade, tendo como única ferramenta de luta sua própria carcaça.
Os personagens da obra fornecem juntamente com sua história, o reconhecimento da insignificância humana, carregada de problemas universais como desemprego, dívidas, brigas no casamento, violência. Em “A Sereia Grávida” a escritora relata o universo íntimo de uma sereia, bela, e que canta por bel prazer. Porém, este ser acostumado ao fluxo natural da vivência embaixo das águas do mar, desconhece o funcionamento do relacionamento humano, que a irá submeter as suas cruéis ações.
Além da exposição do caos mundano, a autora realiza devaneios modernos, acerca do significado de se estar vivo, e do descobrimento da essência do homem, o que significa de fato “Ser” e “Existir”. Em seu conto “Festa do Êre”, a autora aponta este tipo de reflexão contextualizada na história da vida de um homem atormentado pela profunda questão de “o que ele é?”.
Frustrações e angústias são exploradas pela autora, que paralelamente filosofa sobre a condição humana, ao mesmo tempo atribuindo o status de insignificância aos seres humanos, tidos como apenas poeiras cósmicas, mas que, opostamente fazem do seu pequeno universo tudo o que possuem como parâmetro para o significado de estar vivo.

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Dani - Bibliotecária Leitora 31/01/2017

Livro de encantamentos.
Homens e sucatas (Penalux, 2016, 158 p.) da autora Betzaida Mata, é uma reunião de dez contos. Comento com mais cuidado sobre três contos: “Festa do Erê“, onde nosso personagem principal é Javali (ou Aristides). Conversando com o dono do bar que frequenta, seu Oziel, filosofa sobre sua vida, relembra de seu velho avô falecido, e conta sobre a mulher que conheceu no terreiro, “bonita ela, viu?”. A autora escreve esse conto de uma maneira em que parece que estamos assistindo a um filme. São diálogos reais, rápidos, lembrando a escrita de Suassuna, em seu famoso Auto da Compadecida. É teatral, e ao mesmo tempo natural… Como é a vida.
“Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sente meu amor e sonha” (p. 48)
O segundo conto que comento é “A trupe“, que para mim é o mais lindo do livro. Encantador, parece que ao ler, estamos vivendo um sonho. Cristina conversa com Samanta, e conta como é trabalhar como atendente numa copiadora e viver em frente a uma praça que às sextas-feiras tem um bandinho de playboys falando alto e tomando cerveja. Mas (e sempre há um mas) há dois meses, conta Cristina, aconteceu algo inesperado nessa praça: uma trupe circense começou a apresentar um belíssimo teatro, tão bem coreografado – e tão bem contado pela autora -, que consegui enxergar em minha frente. Ao terminar de ler este conto, fiquei num estado de paz interior, e imaginando como seria se isso acontecesse na vida real. Fiquei bastante emocionada com a escrita e a delicadeza.
O terceiro conto é de uma simplicidade incrível, ainda que às vezes regada de uma filosofia paternal. Em “As palavras e as coisas pequenas“, o avô conta à Maria Laura um pouco sobre sua vida, como a criou – aquela neta prematura -, sobre sua esposa e sua relação com as palavras. Por sinal, o personagem principal, algumas vezes, fez com que eu me lembrasse do Moacyr Scliar, um mestre no jogo das palavras, que escrevia com propriedade sobre diversos assuntos, e dominava o cotidiano como ninguém.
Homens e sucatas é um livro encantador, que fez com que eu enxergasse a vida com mais poesia diante dos pequenos detalhes.

site: https://bibliotecarialeitora.wordpress.com/2016/12/27/homens-e-sucatas-betzaida-mata/
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Krishnamurti 22/11/2016

Homens e sucatas
Homens e sucatas
Por Krishnamurti Góes dos Anjos

“O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.” Este pensamento de Blaise Pascal (1623-1662), vem-nos à mente após a leitura de “Homens e sucatas” da escritora Betzaida Mata (Editora Penalux, Guaratinguetá-SP, 2015, 160p), livro onde estão reunidos dez contos.
O primeiro deles, “Da densidade humana”, tendo em vista o conjunto da obra, se afigura uma espécie de prólogo aos outros nove. É um texto curto que reproduz um diálogo (quase um monólogo) onde a ligeireza e espontaneidade de uma conversa áspera, mas inteligente, impressiona pelo pormenor da conclusão, que não deixa de ser, em chave humorística, uma definição de existencialidade. Os contos de Betzaida estão a pulsar, a germinar e a fermentar nos misteriosos meandros das entrelinhas. Ali se completam, se transformam, se diversificam em mil estilhaços da realidade para finalmente, sugestionar reflexões com firmeza de argumento. As urdiduras das ficções plasmadas no imaginário não sonegam, porém, um núcleo ficcional que, via de regra, se encontra escamoteado no início – ver especialmente o conto “Ervas e espíritos ou de como o amor pode ser ruim” – para no final, criar o efeito de mistério, solidão, esperança, ou que outro efeito pretenda sugerir, tendo sempre em mira a emoção fundamental que afeta as personagens. E, a propósito, acrescente-se que os desfechos são rápidos, impactantes, apanhando o leitor desprevenido ou deixando-lhe uma emoção através da qual repense a história que acabou de ler.
Quanto à temática, por vezes a autora propõe mistérios de uma situação invulgar e, ao mesmo tempo expõe o mistério da personalidade humana (Festa do Erê). Ou abre alas para o fantástico descolando a narrativa da realidade imediata. A super-realidade que finca raízes no real, tal como o conhecemos pelos nossos grosseiros sentidos (contos A trupe e O multiverso) ou ainda, reveste suas ficções de uma aura de dramaticidade e terror ao abordar o clima de radicalismo e intolerância que tomou conta do Brasil des-go-ver-na-do de nossos dias. (A lua nasceu em junho).
O universo é tema recorrente na ficção dessa autora. A dimensão cósmica aparece em vários textos como o incomensurável cenário onde nos movimentamos e para o qual não nos voltamos a refletir, acostumados que estamos a olhar para o chão em que pisamos. Presos aos nossos universos particulares, sempre varridos por aflições sem conta e miopia:
“O mundo das possibilidades infinitas é sedutor. No entanto, ainda não estamos preparados para ele. Nem eu, nem você e nem Isabel somos capazes de suportar uma totalidade aberta, estilhaçada e sem começo nem fim!” (Trecho do conto O multiverso p. 96).
O homem como um universo. Brilhante o paralelo que a autora faz com a dimensão das coisas muito pequenas, como aquelas que compõem nossos corpos (a molécula de DNA, por exemplo), com o gigantesco de planetas e galáxias. Como somos ao mesmo tempo pequenos e muito grandes...
“O ser humano pode ir ao espaço, conhecer outras galáxias e contar histórias maravilhosas de outros mundos. Mas como alcançar o universo microscópico que se desenrola diante da gente sem que possamos enxergar? Aquele que junta partículas invisíveis e forma um tecido, um embrião, um corpo!” (Trecho de As palavras e as coisas pequenas. P. 107).
Betzaida Mata se questiona e nos faz refletir se é mesmo possível conhecer a totalidade das coisas usando apenas a razão? – E talvez essa seja a sua mais profunda mensagem. Consegue nos induzir à percepção de que o mundo possui dimensões tão pequenas, que as coisas se dividem em tantas partes que a vista, a nossa razão não consegue compreender e apreender, pois elas estão para além de onde pensamos ser o limite. Compreender isto é aquele último “esforço da razão” de que falou Blaise Pascal.
Novembro/2016
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