Carous 14/06/2019Bom... eu me sinto um lixo e inadequada, coisa que sempre sinto após a leitura de um livro bem avaliado pela maioria dos leitores, mas que simplesmente não rolou para mim. Isso acontece até quando o problema está no livro, como no caso de livros que romantizam atitudes machistas, preconceituosas e babacas dos personagens.
Eu sempre acho que a errada foi eu. Talvez tenha nascido com um defeito que outros leitores não têm e por isso não aprecio as obras como deveria.
Eu passo dias me martirizando tentando achar a razão de ter odiado um livro, duvidando da minha opinião, cogitando nem dar nota baixa ou resenhar nada.
Eu passarei dias me martirizando por não ter amado The Gentleman's Guide To Vice and Virtue, um livro que sonhei tanto em adquirir e mal acreditei quando f i n a l m e n t e tive a chance de pegá-lo pra ler. Eu estava preocupada de como resenharia essa pérola da literatura, pois sou péssima escrevendo sobre livros favoritos.
Mas lá pelas tantas das páginas lidas eu finalmente tive que aceitar que o livro simplesmente não rolou pra mim. O pior é que não sei exatamente o motivo, pois eu gostei do protagonista principal - me diferenciando das poucas resenhas negativas que li deste livro, então ponto pra mim! - , gostei de Felicity, como não amar o título do livro ou a capa?
Não é fácil cair de amores pelo Monty. Ele é burro, irresponsável, egoísta, autocentrado, tem espírito de white savior, acha que os seus problemas são os piores do mundo e sofre de white rich people problems.
O pai dele é um babaca, sem sombra de dúvidas, que eu queria descer o soco - além de entender o pavor de Monty ao saber que administraria as propriedades ao lado do sr. Montague. Mas eu meio que revirava os olhos quando ele reclamava de ter dinheiro e direito à educação superior pro o amigo (negro) e a irmã (mulher). Sim, Monty também não tem muito semancol.
No entanto, tão logo a história começa, ele reconhece seus privilégios e até vemos um amadurecimento nele. Que eu esperava que fosse uma linha crescente, mas acabou sendo ziguezague. Do início ao fim ele, Felicity e Percy encontram problemas e a culpa é sempre de Monty
Ao passo que gostei da composição de Monty, fico incerta se devo elogiar Mackenzi Lee por apresentar um personagem gay (ou bissexual? Honestamente, não ficou claro pra mim) com as características dele (frouxo, alienado, burro, irresponsável, beberrão, viciado em jogos, libertino).
Eu amei Felicity. Uma personagem forte, inteligente, amava as cortadas que ela dava no irmão (Monty é MUITO sem noção, coitado!). Não esperava que Felicity fosse ter essa apresentação toda e tamanha função neste livro já que outro em que ela é a personagem central já foi publicado pela autora - e eu estou ansiosa pra ler =).
O Percy... bom, quero muito falar bem dele, mas o personagem não fez a menor diferença na história. Ele é o interesse amoroso de Monty e seu papel não saiu muito disso. Mal abria a boca, mal dava opinião. Foi a cota para o assunto racismo ser tratado (cruamente. Doeu na minha alma, mas foi bem mostrado, pelo menos).
Eu demorei um tempo para entender que ele era negro por causa da escolha de palavra para descrevê-lo. O que raios é sândalo? Daí me lembrei que se trata de um livro escrito em 2017, mas narrado por um personagem que vive nos anos 1700. E naquela época se floreava cores e etnias das pessoas não brancas ao invés de irem direto ao ponto. Ainda temos resquício disso.
A prosa, o enredo, as confusões simplesmente não atraíram minha atenção. Eu me pegava pensando por raios Monty insistia em ir à Veneza e por que raios eu deveria me importar.
Eu achei tão distante o texto de Mackenzi... Tive problemas com o vocabulário e optei por ler a versão publicada pela Galera Record. Não sei se foi uma sábia decisão, pois a tradução me pareceu apenas tradução mesmo, sem preocupação com a beleza do texto.
Não sei muito bem o que dizer do romance. Teve seus altos e baixos. Ficou em segundo plano e demorou para chegar a algum lugar mais porque que Monty e Percy simplesmente não abriam o jogo do que outra coisa.
Gostei dos assuntos abordados no livro (racismo, o impedimento das mulheres em estudar em universidades ou herdar os bens dos pais, LGBTQfobia, preconceito com doentes, etc), mas eles me entristeceram. Havia me esquecido como era a mentalidade dessa época que aprendi na escola. Parece que a sociedade sempre se esforçou para fazer da vida de todos mais infeliz e complicada do que precisava e hoje não é diferente. É muita ignorância.
Minha resenha é mais um desabafo. Estou triste de não ter amado o livro, mas não o acho horrível a ponto de não dizer aos outros para darem uma chance. Tem muita coisa boa para se aproveitar incluindo a nota e esclarecimento da autora.
E espero que minha resenha tenha passado essa impressão apesar de tudo é um livro interessante.