Raphael 02/03/2021No apêndice deste livro, Richard Dawkins apresenta dados alarmantes em diversos países sobre o percentual – baixíssimo – de pessoas que acreditam no evolucionismo. Indaga-se: se existem tantas evidências da evolução, como que as pessoas não acreditam nela? A resposta é que, a imensa maioria dessas pessoas, não sabe como a evolução opera – ou não querem saber, para não contrariar suas crenças. Diante disso, o autor ressalta a importância de livros que ensinem o que a evolução significa, como ela opera, e quais as evidências que demonstram o quanto a seleção natural é uma realidade na natureza.
Neste contexto, surge este livro, divulgando, mais uma vez, as evidências da evolução. O autor já escreveu outros livros com este tema – que já comentei aqui – e, portanto, em razão também do pouco espaço permitido, vou me restringir a comentar apenas a questão do design inteligente. Os criacionistas defensores do “design inteligente” acreditam que a complexidade – e, segundo eles, perfeição do corpo humano – não poderia ter surgido por acaso. Pense na complexidade do olho humano, por exemplo. Afirmam, nesse sentido, que existe alguém “guiando” a evolução, algum tipo de arquiteto que projetou o ser humano e todas as outras espécies.
Sucede que, os defensores dessa teoria – pseudocientífica – cometem alguns erros de premissa: a evolução não opera ao acaso. Uma modificação genética que proporciona a sobrevivência da espécie, em detrimento de seus concorrentes, tende a propagar-se de forma sucessiva, e não aleatória, ou seja, a modificação genética que melhor se adapta ao meio tende a procriar-se, e isso ocorre de forma lenta e gradativa. O olho humano, voltando ao exemplo, surgiu através de diversos aprimoramentos genéticos lentos e sucessivos através das gerações, sendo essa a explicação para o surgimento de organismos complexos. O que é inútil ou que não se adapta ao meio, a seleção natural tende a descartar. Pense neste processo ocorrendo sucessivamente por milhares de anos. O resultado só poderia ser um organismo complexo.
No mais, o autor apresenta alguns exemplos na natureza em que os corpos relevam-se dispendiosos:“Dado que uma salamandra cavernícola vive em perpétua escuridão e não precisa de olhos, por que um criador divino ainda assim lhe daria um simulacro de órgãos de visão, claramente relacionados a olhos mas não funciona?”(…) Existem grandes falhas de design compensadas por pequenos ajustes e é exatamente o que não deveríamos esperar se houvesse um design atuando”. Para mencionar um exemplo mais próximo de nós: o ser humano respira e se alimenta pelo mesmo buraco, o que, de vez em quando, provoca o engasgo. Como isso pode ser um projeto inteligente? Não é. Isso revela que a seleção natural ainda opera em nós.
Por derradeiro: “(…) o guepardo, se vamos falar em design, é esplendidamente projetado para matar gazelas. Mas o mesmo designer também se desdobrou o quanto pôde para projetar uma gazela altamente equipada para escapar desses mesmo guepardos. Afinal de contas, do lado de quem esse designer está?(...) A natureza não é bondosa nem perversa (…) A seleção natural é indiferente à intensidade do sofrimento, exceto quando ele afeta a sobrevivência e a reprodução”. Pense que um leão, por exemplo, precisa matar de forma violenta outros animais simplesmente para alimentar-se. A cadeia alimentar funciona assim. O designer não é inteligente – ele não existe – e, se existisse, não seria dotado de compaixão.