Luis Olliveira 07/07/2011
O Maior Espetáculo da Terra MESMO!!
A Evolução não é um fato. São milhões e milhões fatos. Essa frase ganha mais sentido assim que se termina de ler esse livro. Expondo com clareza os detalhes desse processo simples em seu conceito, mas extremamente complexo em sua execução, essa obra de Richard Dawkins torna impossível chegar ao fim e não admirar ainda mais cada ser vivo deste planeta agora que conhecemos boa parte do caminho percorrido para que elas chegassem onde estão (incluindo nós mesmos), já que essa escalada é muito mais fascinante e verdadeira do seria que se tivéssemos sido simplesmente colocados aqui.
Esse, diga-se de passagem, não é um livro anti-religião ou anti-deus, o leitor pode chegar ao fim dele achando que algum ser supremo deu início ao processo ou até que de algum modo o manipulou durante todo esse tempo, o que eles de fato adoram fazer. Mas ele é sim um ataque a idéia do Design Inteligente, essa tentativa patética de dar roupagem científica ao criacionismo bíblico. A obra também é uma arma contra aqueles que na tentativa de negar a evolução para acomodar suas crenças, distorcem sem piedade os fatos sobre a teoria.
Um dos maiores méritos do livro é acabar com certos mal-entendidos a respeito da teoria. Por exemplo, ao explicar a seleção sexual Dawkins usa o exemplo dos pavões e não pude deixar de lembrar que muitas vezes, seja na própria sala de aula ou em reportagens na TV, eu ouvia coisas como Os pavões têm penugem bonita para atrair as fêmeas, meio que comparando as cores do pavão com o hábito de alguma pessoa de ir à pra academia ou coisa do gênero quando na verdade é justamente o contrário. Uma frase mais correta seria Os pavões têm penugem bonita pelo fato das fêmeas os selecionarem (deliberadamente ou não), permitindo que esses genes sejam passados adiante e se perpetuem. Uma diferença até sutil, mas importantíssima. E essa sensação de esclarecimento é uma constante em todo o livro, quase sempre de maneira simples e de fácil entendimento.
Sim, quase sempre, pois afinal estamos falando de complexos conceitos científicos e por mais que Dawkins seja hábil em simplificá-los para o leitor, não é possível fazer isso sempre. Os capítulos quatro (Relógios) e oito (Você fez isso em nove meses) foram particularmente difíceis pra mim. No primeiro, aprendemos sobre os diferentes tipos de datação através dos quais cientistas descobrem a idade de árvores, fósseis e outros minerais, enquanto o segundo nos ensina um pouco sobre embriologia. São capítulos que exigem uma boa base em química, física e, claro, em biologia, caso contrário a leitura pode se tornar incompreensível.
Acabando com o mito de que a Evolução é um processo que não pode ser observado pelos humanos, somos apresentados a diversos experimentos que mostram a evolução ocorrendo em tempo real, como aquele envolvendo lebistes. E ainda abre espaço para divertidas alfinetadas em criacionistas e assim (numa das passagens mais divertidas do livro) conta sobre como Andrew Schlafly, um advogado e criacionista que exige que Richard Lenski, responsável por um desses experimentos, lhe enviasse os dados originais talvez insinuando que duvidasse do resultado, recebendo deste a resposta de que mandaria os dados, para qualquer pessoa que atendesse às qualificações para manusear esse tipo de material e listou essas qualificações em seguida. Nem preciso dizer que o tal advogado não possuía qualquer uma delas.
Claro que nem tudo é perfeito e às vezes Dawkins parece cair no mesmo problema que mais tarde vem a criticar, que é o de personificar alguns seres em certas passagens, dando a idéia de que certas ações são intencionais, o que se torna especialmente incômodo quando ele explica como funciona a polinização de flores por insetos. Mas isso, creio, tenha sido uma tentativa de tornar a leitura mais agradável e interessante, então estou disposto a relevar esse pequeno deslize.
Evidenciando como os mais diversos campos da ciência se complementam para nos ajudar a entender o mundo, por exemplo, ao mostrar que a Tectônica de Placas casa perfeitamente com a Evolução para explicar toda a diversidade da fauna e flora do planeta, O Maior Espetáculo na Terra faz aquilo que qualquer livro sobre ciências deveria fazer, nos apresenta a um mundo dentro do mundo que vemos a olho-nu, e esse consegue ser mais fascinante que qualquer conto de fadas, religioso ou não, poderia ser e com a insuperável vantagem de ser verdadeiro.