Catrine Vieira 25/07/2017
O mundo em 2407 está muito diferente do que conhecemos hoje, menor e pobre – comparando-se com a riqueza de flora, fauna, população e território que ainda temos. Nos últimos 200 anos o planeta sofreu diversos desastres “naturais”, causados pela irresponsabilidade dos humanos e sua falta de zelo com a Terra. Porém, apesar das catástrofes dolorosas que o planeta sofreu, o pior ainda não aconteceu. Assim como tudo pode melhorar, tudo pode piorar. E, para que isso não aconteça, a população deve mostrar que aprendeu e que não iram repetir a insensatez dos seus antepassados. Contudo, alguns parecem terem se esquecido completamente das desgraças ocorridas. Principalmente os fan.bers, fantasmas cibernéticos que, burlando o sistema de controle e segurança, obtém ilicitamente recursos HBN (Hidro Bio Naturais).
“A necessidade da vantagem continuou a existir na alma das pessoas e os fan.bers são a máxima desta verdade. [...]Tudo se resume a uma questão e vantagem, ter vantagem sob o próximo.”
A vida de Ena Dias mudou completamente após a morte de seu pai – um homem admirado por (quase) todos e muito importante dentro e fora do CIA. Seu sonho é ser uma Alto Oficial, assim como seu pai, Amir Dias, um dia foi. Mas não apenas pelo pai ou em memória dele. Esse sonho era, realmente, seu maior desejo. O que ela sentia pela carreira não sentia por nenhuma outra. Ena queria fazer a diferença e, principalmente, proteger os recursos HBN e impedir os roubos que vinham ocorrendo frequentemente – o que era, no mínimo, muito preocupante, pois isso poderia afetar negativamente o meio ambiente e a existência humana, que, por pouco, não foi extinguida nas tragédias que ocorreram no passado.
“Os recursos naturais existentes são respeitados e cuidados com o máximo zelo. O que sobrara da humanidade mudou bastante diante do abismo da quase extinção.”
(In)Verdades é o primeiro livro da série Brasil 2408, da autora Lu Ain-Zaila, que traz uma história repleta de ficção científica e com um ambientação distópica – e melhor: em território brasileiro – com todo aquele ar futurista e tecnológico. Contudo, ao mesmo tempo, senti certo desconforto, confesso. Porém, acredito que foi algo proposital e necessário passar essa sensação ao leitor.
Na segunda parte do século XXI, o Brasil, assim como todo o mundo, começou a enfrentar o aumento do nível dos oceanos, previsões meteorológicas assustadoras, mas já era tarde demais para as pessoas se arrependerem ou conter as consequências de seus atos. Esses fatos ocorridos na ficção nos leva a refletir muito sobre o assunto. Afinal, apesar de serem personagens, facilmente nós nos colocamos nos lugares dessas pessoas. Pois, assim como elas, muitas pessoas na nossa sociedade não se importam nenhum pouco com os problemas que o meio-ambiente enfrenta graças a humanidade. Quem já escutou alguma reclamação em relação ao calor vindo de alguém que acha super útil fazer a queima do lixinho? Infelizmente, eu já.
No mínimo, por dia, tenho visto pelo menos três pontos de queimadas pela da janela do meu quarto. Imagina então se eu for abranger todo o espaço territorial do planeta... Chocante, não? Muitos continuam na ignorância, por isso, (In)Verdade é um tapa na cara – quase que literal – fundamental e necessário para que nós coloquemos algumas lições na cabeça.
“[...] o mundo em 2407 está muito diferente, menor, impactado pela ação humana de forma nada positiva.”
Na nota que a autora deixou para seus leitores, ainda no início do livro, ela diz que esta história foi a que ela sempre buscou e não encontrou e que os objetivo da Duologia Brasil 2408 é contar a vida e privilegiar a pluralidade. A partir daí minha animação já chegou. Mas me lembrei disso para dizer que ela conseguiu alcançar seus objetivos, se não mesmo supera-los. A autora trata sobre a pluralidade de forma singela, mas que consegue, mais uma vez, fazer o leitor refletir. Lu Ain-Zaila representou, através de seus fortes personagens, as reais diversidades: as de gêneros, cores, culturas, formas...
Como já deve ter ficado claro, (IN)Verdades é um livro rico em muitos aspectos. Desde as muitas reflexões a cerca da forma que o humano trata sua Terra à reflexões sobre a diversidade, que, embora seja algo sensacional, que deveria ser valorizada, muitas vezes é vista como algo ruim ou errado.
Por ser uma leitura essencial, indico a todos. A obra, além de prazerosa, ensina muito. Entretanto, indico o livro principalmente àqueles leitores que curtem histórias com ambientação distópica e futurista e que possua personagens fortes – incluindo uma protagonista girl-power.
site: http://estantemineira.blogspot.com/2017/07/resenha-in-verdades-lu-ain-zaila-brasil-2408.html