O violão azul

O violão azul John Banville




Resenhas - O violão azul


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ElisaCazorla 02/09/2018

Não, Banville, você não é Shakespeare.
Também não é tão importante quanto um clássico. Banville superou-se na arrogância e na chatice. Quando o autor acredita ser um clássico vivo e isso fica tão claro nas linhas de seu livro chega a ser risível. Também chega o momento de encerrar as leituras desse autor. Ja li tudo dele mas esse foi o pior. O mais chato, o mais arrogante, pedante.
@fabio_entre.livros 02/09/2018minha estante
Gente que sabe usar o vocativo: melhores pessoas! :D


ElisaCazorla 02/09/2018minha estante
Ahh Fábio, obrigada ? Sabe, fico irrita e muito triste com o que as pessoas têm feito com a nossa língua portuguesa tão linda. Uma pena.




Alexandre Kovacs / Mundo de K 31/01/2018

John Banville - O Violão Azul
Editora Globo, Selo Biblioteca Azul - 272 Páginas - Tradução de Cassio de Arantes Leite - Lançamento: 20/10/2016.

O irlandês John Banville já é um nome consagrado na literatura contemporânea em língua inglesa, tendo vencido o Man Booker Prize em 2005 com o romance "O Mar" e os prêmios Franz Kafka (2011), PEN Award irlandês (2013) e Princesa das Astúrias (2015) pelo conjunto da obra, sendo repetidamente apontado como favorito ao Nobel de Literatura.

"O Violão Azul", lançado originalmente em 2015, é um romance que comprova o rigor estilístico de Banville, assim como o cuidado de artesão com que escolhe cada palavra na condução do texto, neste caso uma narrativa confessional em primeira pessoa à partir do personagem Oliver Otway Orme, renomado pintor que se define logo de início como um "colecionador de bugigangas negligenciadas", ou seja, ele tem o hábito de roubar coisas de pouco valor. Ao mesmo tempo em que resume a prática como um vício constrangedor, Oliver não esconde um certo orgulho no domínio da "refinada arte da gatunagem", essa dicotomia ou flexibilidade de caráter do protagonista é que nos apresenta, logo de início, a grande oportunidade ficcional de um narrador nada confiável, no qual podemos — e devemos — questionar todas as suas afirmações, tornando a leitura instigante.

"Agora, quanto ao tema da gatunagem, por onde começar? Confesso ficar constrangido com esse vício — vamos chamar de vício — pueril e, francamente, não sei por que o admito, a você, meu confessor inexistente. A questão moral aqui é delicada. Assim como a arte utiliza seus materiais absorvendo-os plenamente na obra, conforme assevera Collingwood — uma pintura consome a tinta e a tela, ao passo que a mesa é para sempre a madeira de que é feita —, do mesmo modo o ato, a arte, de roubar transforma o objeto roubado. Com o tempo, a maioria das posses perdem sua pátina, tornam-se baças e anônimas; roubadas, saltam de volta à vida, assumem o lustro da singularidade outra vez. Nesse sentido, o gatuno não estará fazendo um favor às coisas por intermédio de sua renovação? Acaso não empresta novo realce ao mundo polindo sua prata desdourada? Quero crer que terei apresentado os comentários preliminares de meu caso com força e persuasão suficientes, não?" (Pág. 22)

O hábito incomum de Oliver não parece causar maiores transtornos no seu cotidiano até que ele se apaixona por Polly, esposa do melhor amigo, Marcus, e decide "roubá-la" também — como sempre, tratando-se deste narrador, os sentimentos apresentam características muito peculiares e devem ser avaliados com ceticismo. O tom bem-humorado do romance vai ficando cada vez mais carregado de sarcasmo à medida em que a relação entre Oliver e Polly é descoberta por seus respectivos pares, outros problemas do protagonista acabam vindo à tona, transformando aos poucos a comédia em drama, fatos como a sua incapacidade de continuar pintando e as marcas decorrentes da morte da filha quando pequena.

"Polly não é nenhuma grande beldade. Ao dizer isso, não estou faltando com o cavalheirismo, assim espero; é melhor começar sendo franco, uma vez que pretendo seguir nesse tom, até onde sou capaz de franqueza. Claro que eu a achava, acho, absolutamente adorável. Tem formas generosas, mais para grandinha nas cadeiras — imagine a metade inferior delicadamente arredondada de um violoncelo tamanho infantil —, com um harmonioso rosto em forma de coração e cabelos castanhos, um pouco rebeldes. Seus olhos são realmente notáveis. Cinza-pálidos, parecem quase translúcidos e, conforme a luz, assumem um brilho de madrepérola. Exibem leve estrabismo, o que cria um eco encantador com a ligeira sobreposição de seus dois perolados dentes incisivos. Porta-se de um modo geral com placidez, mas seu olhar pode ser surpreendentemente penetrante, e seu tom, por vezes, é capaz de provocar uma ferroada e tanto, uma ferroada e tanto. Quase sempre, porém, conserva uma expressão cautelosa para um mundo onde não se sente inteiramente à vontade. Está sempre ciente de sua falta de verniz social — é uma moçoila do campo, afinal, ainda que sua família seja da fidalguia rota —, em comparação a minha composta Gloria, por exemplo, e é insegura em questões de etiqueta e comportamento apropriado. Foi um tanto comovente observar, naquela noite do Clockers, como a ocasião é informalmente chamada, o modo como, ao início de cada prato, relanceava rapidamente em torno da mesa e verificava qual talher o resto de nós escolhia antes de ousar levar a mão à faca, ao garfo ou à colher. Talvez seja aí que o amor comece, não em acessos súbitos de paixão, mas no reconhecimento e simples aceitação de, de - alguma coisa, sei lá o quê." (Pág. 12)

O núcleo limitado de personagens, formado por dois casais amigos (Oliver e Gloria, Marcus e Polly) permite ao autor aprofundar e explorar as nuances psicológicas de cada um com riqueza de detalhes. O texto é carregado de erudição com muitas citações a outras obras de literatura, à começar pelo título, uma referência ao poema "The man with the blue guitar" de Wallace Stevens, assim como uma seleção cirúrgica e original de substantivos e adjetivos, o que torna o livro um desafio para qualquer tradutor, Cassio de Arantes Leite se saiu muito bem na tarefa.

"Eu nunca teria imaginado que a criança ficara conosco tempo suficiente para fazer sua presença, ou antes sua ausência, ser tão fortemente sentida. Ela era tão nova, se foi tão cedo. Sua morte provocou um amortecimento geral em nossas vidas, a de Gloria e eu; alguma coisa em nós morreu junto com ela. Não é bem uma surpresa, sei disso, e não é bem uma exclusividade nossa; crianças morrem o tempo todo, levando consigo parte do eu de seus pais. Nós - e nesse caso acho que posso falar tanto por Gloria como por mim -, nós tínhamos a impressão de estar diante da porta da casa sem a chave, batendo e batendo sem escutar nada ali dentro, nem sequer o eco, como se a casa toda houvesse sido enchida até o teto com areia, com barro, com cinzas." (Pág. 104)
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Leila de Carvalho e Gonçalves 26/10/2017

O Ladrão de Bugigangas Negligenciadas
Publicado originalmente em 2015, esse é o décimo sétimo livro de John Banville, sem contar com sua incursão no gênero policial, assinada com o pseudônimo de Benjamin Black.

Seu título remete a poesia "O Homem do Violão Azul", de Wallace Stevens, que, abordando vários temas, destaca a relação entre realidade e arte. A citação ao poema surge nas últimas páginas do romance, praticamente, encerrando o relato do protagonista, Oliver Otway Orme.

Orme é um pintor fracassado em meio às contradições da meia idade. Amoral, hipocondríaco e gorducho, tem dificuldade de aceitar seu casamento na corda bamba e o vazio deixado pela morte da única filha, ainda criança.

Ao abrir a narrativa, ele pede para ser chamado de Autólico, personagem da mitologia grega que é considerado o mais ladino dos homens e o maior ladrão de sua época, capaz de ludibriar o próprio Zeus. Contudo, ele logo cai na realidade e revela que não passa de um um ladrão de bugigangas negligenciadas como um bibelô ou um velho livro de poemas.

Todavia, sua última façanha pode render-lhe sérios problemas, pois acaba de roubar Polly, a mulher de Marcus Petit, um relojoeiro que é seu melhor amigo. Sem dúvida, uma atitude inconsequente e corriqueira tanto na ficção como na vida real, mas uma torção no terço final da narrativa, proporciona um novo tempero, desafiando a curiosidade do leitor.

Em síntese, "O Violão Azul" é um character-driven feito sob medida para atestar a genialidade de Banville, um dos maiores nomes da literatura em atividade. Encerro com Orme: "Grande parte do prazer de roubar deriva da possibilidade de ser pego. Ou não, não, é mais do que isso: é precisamente o desejo de ser pego."

Nota: Escolhi o ebook que, com índice ativo e boa diagramação, proporcionou uma leitura satisfatória.
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Literatura Policial 20/02/2017

Na mente (e no coração) de um criminoso
Em “O violão azul”, somos apresentados a mais um facínora: Oliver Orme, pintor reconhecido, homem culto, refinado e… ladrão. Oliver ocupa todo o espaço possível com sua narrativa confessional, mesclando dois universos muito distintos: o da pintura e o da gatunagem. Se para nós nada liga uma coisa à outra, para Oliver, há um prazer estético em ambos, e um conjunto de sensibilidades que sublima cada uma dessas práticas. Assim, em 270 páginas, ele nos mostra o que se passa na cabeça de um criminoso, mas também em seu coração. Afinal, talvez poucas pessoas conheçam tanto o medo quanto os ladrões. A todo o momento eles receiam ser pegos, e Oliver nos faz crer que reincidir no crime não é só uma questão de necessidade e sobrevivência. Existe uma inebriante excitação ao afanar algo e uma irresistível torcida para que percebam o roubo. De que valeria se arriscar tanto, não é mesmo?

site: https://literaturapolicial.com/2017/02/20/o-violao-azul-de-john-banville/
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