Taverneiro 11/04/2017Fantasia Baseada em um Mundo de RPG...
Ohmtar é um mundo de fantasia medieval que o Alexandre vem desenvolvendo há muito tempo e tem suas versões para diversos sistemas de RPG. O projeto do cenário de RPG foi encerrado, mas Ohmtar renasceu neste livro.
Ohmtar está ameaçada pela noite mais longa. O sol sumiu do céu e forças malignas começaram a colocar seus planos em prática. Deuses e mortais serão igualmente importantes para que o mundo não caia na escuridão do esquecimento.
A aventura se divide principalmente em dois grupos distintos, sendo um deles o grupo do mago Gënnlarioneth, composto por Kaleo, um esperto ladino, Logan, um feroz guerreiro metamorfo, Ryltar, um bruxo elfo negro traidor de sua raça e finalmente por Mercúrio, um clérigo do deus Sol. Eles foram convocados pelo lendário bardo Ossian Murray para levar alguns artefatos malignos para o único lugar onde eles poderiam ser destruídos.
Em paralelo, temos o grupo do líder da organização dos duelistas lorde Glaehdre, formado por Berathio, um feiticeiro meio-dragão, e pelos dois irmãos anões Baldur e Órim, um clérigo do deus sol e um guerreiro. Quando as coisas começam a dar errado no mundo, esse segundo grupo parte em sua própria aventura para combater a noite mais longa.
E, como eu disse antes, os deuses tem um papel tão grande nessa aventura quanto os mortais.
Temos a antiga e esquecida deusa dos aventureiros, Faladriel, que vaga entre os mundos buscando uma forma de retornar e seu retorno será de vital importância no desenvolver da história.
Há também o deus dos elfos, Iwak, em busca de poder absoluto sobre a criação. Ele aproveita a noite mais longa e começa guerras e intrigas no mundo para poder aumentar o seu poder como divindade. E outra divindade que trama nas sombras da noite mais longa é Kranitar, senhoras dos segredos e do submundo.
Kaleo, Logan, Ryltar, Mercúrio e Gënnlarioneth
Já entrando na escrita do autor, vocês repararam em quanta gente tem arcos narrativos aí em cima? Isso por que eu não falei do deus da justiça que virou da vingança, das companheiras de aventura da Faladriel e do guerreiro com poderes arcanos que não consegue controlar, entre alguns outros. Esse foi o principal problema do livro, em minha opinião…
Eu comecei tentando ler esse livro como eu leria qualquer outro de fantasia épica. Quando começou a ter o arco do Kaleo, com seus pais sendo mortos por broncos (os meio-orcs do cenário) e ele sendo ajudado pelo Ossian, eu pensei: “bem, temos aí um protagonista e um arco de história. Legal, vamos continuar!”, mas dez páginas depois tudo isso se evapora, dando lugar a uma narrativa múltipla tentando acompanhar a noite mais longa de diversos ângulos. Quando eu percebi isso, parei de tentar acompanhar esse livro como um comum e funcionou melhor dessa forma.
O livro vai alternando entre diversos pontos de vista durante os capítulos (grupo do Gënnlarioneth, grupo do Gaehdre, deus dos elfos, deusa dos aventureiros, etc.) e nenhuma dessas narrativas parece ter relação uma com a outra nos capítulos iniciais, mas isso vai se montando conforme a passagem do livro, como um quebra cabeça, para no final o leitor ver que todas elas estavam interligadas. Muitos autores usam esse recurso para manter o mistério e fazer o leitor ficar se perguntando como as narrativas vão interagir. Eu, particularmente, acho esse recurso um erro para autores não consagrados, pois esse mistério pode mais causar confusão do que deixar a leitura agradável.
Quando eu parei de tentar ler como uma narrativa e comecei a apreciar mais o conteúdo das histórias do que a forma como ela era contada, o livro ficou bem mais agradável. O conteúdo épico das histórias é muito bom e inspirador para quem quer ver uma alta fantasia no estilo RPGistico de qualidade. As histórias (todas elas) são muito legais em suas essências e eu mesmo tive várias ideias para usar no meu grupo de RPG. 😄
Essa história teria facilmente material para uma série de uns oito livros se fosse conduzida com a velocidade de uma fantasia épica tradicional, mas por outro lado, a quantidade de informação aqui imprensada tornou esse um livro cheio de ideias e conceitos incríveis. Eu achei que compensa a leitura, mas depende muito do que você busca em uma fantasia.
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https://tavernablog.com/2017/03/10/acima-dos-deuses-alexandre-sarmento-resenha/