Crítica da Razão Pura

Crítica da Razão Pura Immanuel Kant




Resenhas - Crítica da Razão Pura


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herbert.goncalves 17/06/2020

livro bom, mas extremamente cansativo.
para quem quer compreender a filosofia em todo seu significado, esse livro é um prato cheio, apesar de achar que o kant não era um bom escritor, e a leitura de boa parte das suas obras ser bastante penosa e entediante.

site: https://filmow.com/usuario/herbert_
laloarauxo 24/06/2020minha estante
Você tem razão, Kant é uma leitura extremamente penosa. Eu li A Religião nos Limites da Simples Razão.
Tenho as Críticas da Razão Pura e Prática e a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, mas vou deixar pra ler depois...


herbert.goncalves 24/06/2020minha estante
sim, lalo. até tento gostar, mas não consigo. tem que tirar um tempo pra tentar aproveitar as obras do filósofo, ou então o livro será abandonado sem dó.


Douglas 23/09/2020minha estante
Oi pessoal. Comprei essa edição da Martin Claret num sebo. Já vi muitas críticas quanto às traduções dessa editora. Será que isso não pode ter dificultado ainda mais o entendimento das pessoas?


Victor.Souza 25/12/2020minha estante
Vou leer esse pela primeira vez, alguem sabe me dizer se ele é bom??


laloarauxo 26/12/2020minha estante
Herbert, Eu levei os meus livros de Kant para trocar no Sebo.
De Filosofia eu tenho aqui em casa Kierkegaard, Thomas Hobbes, Thomas More, Maquiavel e os Pensadores da Escola de Frankfurt.




Tiago600 17/01/2023

HONESTAMENTE

Convulsivamente metódico, escrito de forma fria e seca, leitura cansativa, extremamente irritante. Forte candidato a livro mais chato do mundo. Uma Obra-prima.
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Cesinha 20/06/2016

Numa época de revisão geral, em que valores são contestados, reavaliados, substituídos e muitas vezes, recriados, a crítica tem papel preponderante. Essa, de fato, é uma das principais características do Iluminismo, que, submeteram tudo ao crivo da razão. Entretanto, ninguém foi tão longe quanto Kant, que colocou a própria razão sob julgamento (antes de Kant o pensamento iniciava no Absoluto (“Deus”) e chegava ao homem, Kant inverte esse caminho e faz o homem pensar sobre si mesmo e sobre Deus partindo da sua finitude humana e chegando á infinitude absoluta de Deus...). Mais do que isso, com ele a crítica assume um sentido preciso e se torna uma atitude sistemática.
Radical, Kant não poupa a metafísica (que pretendeu construir uma concepção completa de Deus, a alma e o mundo). Nesta, a situação é de impasse. Proliferaram doutrinas, cada uma sustentando a sua “verdade”, mas que se perdem no dogmatismo, isto é, em raciocínios sobre ideias produzidas apenas pela razão, sem indagar se a própria razão tem capacidade para isso. Por isso, Kant recomenda aos que pretendem ser metafísicos: “É incontornavelmente necessário pôr de lado por um tempo seu trabalho, considerar tudo o que aconteceu até agora como não acontecido e antes de todas as coisas formular a pergunta: a metafísica é possível?”.
Os empiristas já haviam criticado a pretensão da metafísica, mas o resultado, como em Hume, foi o ceticismo. Problema de Hume ou Problema da Indução: Mesmo se um fato se repetiu muitíssimas vezes no passado, isso não significa que se repetirá amanhã, por exemplo, não é porque o Sol nasceu todos os dias até hoje que ele vai nascer amanhã de novo. Ou seja, para os céticos, a verdade nunca vai ser encontrada por indução (do particular encontrar o geral).
Kant supera o dogmatismo e o empirismo, que no fundo se reduzem a uma só, com sua famosa “revolução copernicana”. Assim como Copérnico, que para superar os impasses – a crise – da astronomia concebeu o modelo heliocêntrico, invertendo o geocentrismo, Kant inverte a questão tradicional da metafísica: em vez de procurar conhecer as coisas, é preciso examinar antes o próprio conhecimento e suas possibilidades.
Com essa inversão, ele propõe um campo de investigação, que denomina transcendental. Para Kant, “transcendental” refere-se ao que já está, desde sempre, contido no sujeito – no caso, o sujeito do conhecimento. Trata-se, então, de analisar esse sujeito na sua pureza, encontrar o núcleo desse sujeito, sua essência, isto é, sem os acréscimos que esse sujeito ganhou durante a vida.
O que é posterior (a posteriore) ao sujeito é experiência sensível (ou empírica), e, por isso, a investigação transcendental deve examinar o sujeito puro, a priori, isto é, anterior a toda e qualquer experiência. Tal exame é indispensável para verificar se o sujeito puro, por si só, é capaz do conhecimento a priori, independentemente da experiência, pois é exatamente isso que a metafísica pretende realizar.
O conhecimento formula-se por proposições ou juízos. Uma proposição do tipo “A é A” ou “A não é não-A”, que obedece tão somente ao princípio lógico de não-contradição, é um juízo a priori, pois não depende de nenhuma experiência. Mas esses juízos – que Kant chama de juízos analíticos – apenas analisam o que já estava dito. Nada acrescentam ao conhecimento.
Os juízos sintéticos, ao contrário, ampliam o conhecimento, pois realizam sínteses, isto é, a composição ou unificação de vários elementos. Assim, o juízo do tipo “esta flor é vermelha”, em que se acrescenta ao sujeito “esta flor” um predicado “vermelha” em que ele não continha. Nesse exemplo, o juízo sintético depende da experiência sensível e é, portanto, a posteriore. Mas esse conhecimento ampliado refere-se apenas a um sujeito singular (“esta flor”); não apresenta caráter universal nem necessário.
Assim, a famosa pergunta inicial da Crítica da Razão Pura “seriam possível juízos sintéticos a priori?” pode ser traduzida como “Haveria juízos universais e necessários, como os analíticos, e que também ampliassem o conhecimento, como os sintéticos?” Tais juízos seriam juízos sintéticos a priori, formulados independentemente da experiência empírica. São, no entanto, possíveis?
A matemática, por exemplo. Acreditou-se que sua universalidade e sua necessidade se devessem ao fato de serem todos analíticos. Mas, se assim fosse, não haveria nenhum acréscimo de conhecimento, o que é refutado pelo evidente progresso da matemática.
Uma proposição como “7 + 5 = 12”, é, sem dúvida, universal e necessária. Mas seria analítica? Ou seja, “12” já estaria contido na expressão “7 + 5”? Essa expressão designa a união de “7” e “5”, mas, por mais que seja decomposta analiticamente, sempre será “união de 7 e 5”, jamais “12”. Em outras palavras, “12” é acréscimo e independe de qualquer experiência sensível; a proposição “7 + 5 = 12” só pode ser um juízo sensível a priori.
Kant fornece outro exemplo: “A linha reta é a mais curta entre dois pontos”. “Linha reta” refere-se a uma qualidade e nada diz sobre a grandeza (quantidade). Há, portanto, um acréscimo (“mais curta”) à expressão “linha reta”, e isso é obtido de modo universal e necessário, sem que seja preciso medir empiricamente as distâncias de retas compreendidas entre infinitos grupos de dois pontos. Os juízos sintéticos a priori são, então, possíveis.
Para Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas sem por isso originar-se nela. Isso porque a experiência pressupõe o sujeito como condição de sua possibilidade, sem o que a palavra “existência” nem teria sentido. O sujeito, então, deve apresentar capacidades ou faculdades que possibilitem a experiência e o próprio conhecimento, ou seja, o sujeito precisa conseguir conectar suas experiências com seu conhecimento prévio.
A primeira dessas faculdades é a sensibilidade, definida como “a capacidade (receptividade) de obter representações mediante o modo como somos afetados por objetos (...)”. Na sensibilidade, essas representações se dão de modo imediato pela intuição. Esta é empírica quando se referir às sensações, isto é, aos efeitos causados na sensibilidade ao ser afetada pelos objetos. Mas e antes disso?
“Mediante o sentido externo (uma propriedade da mente)”, diz Kant, “representamo-nos objetos fora de nós e todos juntos no espaço (...)”. Por isso, não é possível intuir um objeto a não ser representando-o no espaço, exterior ao sujeito (“fora de nós”). Mas o espaço não é fruto da abstração de dados empíricos, como “esta casa”: imaginando, por abstração, que “esta casa” não exista, resta o lugar, ou seja, “o espaço” que ocupava. Mas, para Kant, mesmo esse lugar pressupõe o espaço “fora de nós”. Sem isso, como representar os próprios lugares em que se situam os objetos da intuição empírica? O espaço, portanto, é a condição a priori de possibilidade da intuição empírica.
Raciocínio semelhante pode ser feito a respeito do tempo. “A simultaneidade ou a sucessão nem sequer se apresentariam à percepção se a representação do tempo não estivesse subjacente a priori. Somente a pressupondo pode-se representar que algo seja num mesmo tempo (simultânea) ou em tempos diferentes (sucessivo).” O tempo é, então, uma representação imediata que, como o espaço, torna possíveis as instituições empíricas, como tal, só pode ser uma intuição pura.

Da intuição ao conceito
Kant escreveu três “Críticas” que são alicerces da sua filosofia crítica. As “Crítica da Razão Pura”, “da Razão Prática” e “Crítica do Juízo”. Na primeira das Críticas, Kant afirma que o conhecimento só pode provir da intuição, que representa o objeto de modo imediato, e dos conceitos, com os quais as representações são pensadas. No conhecimento empírico, as intuições empíricas representam objetos, e os conceitos a que correspondem são unificados em juízos sintéticos a posteriori. Mas de onde provêm os conceitos na matemática dita “pura”, que abre mão da intuição empírica?
A resposta só pode ser uma: mediante a construção de conceitos. “Construir um conceito”, diz Kant, “significa apresentar a priori a intuição que lhe corresponde”. Tal intuição pura é possível, como prova a intuição pura do espaço e tempo. É também possível intuir partes do espaço, sem que para isso seja necessário “preenche-lo” com sensações. A partir dessa intuição, que é a priori, pode-se construir, por exemplo, o conceito de triângulo e, de intuição em intuição, proceder à síntese dos vários conceitos construídos, acrescentando novos conhecimentos sobre o triângulo.
Se, desse modo, os conceitos da geometria são construídos a partir da intuição do espaço, a “aritmética constrói seus conceitos de número através da adição sucessiva de unidades de tempo (...)”. Ambas as ciências, portanto, são constituídas de juízos sintéticos a priori, o que possibilita tanto o acréscimo de conhecimento quanto a universalidade e a necessidade de suas proposições.

Do conceito à experiência
O espaço e o tempo, como condições a priori de possibilidades da intuição empírica, constituem a receptividade que define a sensibilidade. São como receptáculos, ou seja, puras formas que previamente não continham nada. O conteúdo (ou a matéria), isto é, aquilo que corresponde à sensação, só pode provir a posteriori e é ordenado segundo certas relações de espaço e tempo. Por isso, o objeto só pode ser intuído no tempo e no espaço e constitui-se naquilo que Kant denomina fenômeno, isto é, “objeto indeterminado de uma intuição empírica”.
“Objeto indeterminado” porque aparece na sensibilidade como múltiplo: diversas representações são dadas juntas no espaço e no tempo, de modo sucessivo. Determinar o objeto é ligar (sintetizar), numa certa unidade, as diversas representações desse múltiplo. Na proposição “o calor dilata os corpos”, por exemplo, são ligadas num juízo.
Mas se o objeto dado na intuição empírica é indeterminado, então a síntese, que o determina, não pode estar nele. Nem na sensibilidade, pois é nesta que o objeto indeterminado aparece como tal, no espaço e no tempo. A síntese, portanto, pressupõe uma faculdade do sujeito do conhecimento cuja ação seja exatamente a de sintetizar.
Essa faculdade é o entendimento, que Kant define como “faculdade de pensar”. O pensamento é o conhecimento mediante conceitos, que são sintetizados por juízos. Estes não se formulam ao acaso, mas de acordo, com certas ligações e princípios da lógica, que, como tais, são dados a priori; são condições de possibilidade dos próprios juízos.
Kant, na “Analítica Transcendental” da Crítica da Razão Pura, enumera todas as formas possíveis de juízo segundo a sua função. Os juízos podem se referir à quantidade e são universais, particulares ou singulares; em relação à qualidade, são afirmativos, negativos ou infinitos e assim por diante. Tal enumeração é possível a priori, pois os juízos não apresentam nenhum conteúdo empírico e referem-se apenas à forma do entendimento.
Dadas as formas possíveis de juízo, pode-se também estabelecer a priori os possíveis conceitos que os juízos formulam. Esses conceitos – por exemplo, substância, causa, necessidade, realidade, etc. – são puros, e Kant os denomina categorias. Sem estas seria impossível “compreender algo do múltiplo na intuição, isto é, pensar um objeto dela”.
A proposição “o Sol aquece a pedra”, por exemplo, unifica as intuições empíricas “Sol” e “aquecimento da pedra”. A partir dessas intuições, apenas, só seria possível formular o que Kant denomina “juízo da percepção”: “o Sol brilha e a pedra aquece”. É preciso então que outro elemento, a priori, subordine as intuições para que sejam pensadas. No caso, esse elemento a priori é a categoria da causa. “O Sol aquece a pedra” implica uma relação de causalidade, e isso só pode ser pensado mediante o conceito de causa.
Isso esclarece a possibilidade da física como ciência. Ela é constituída a partir de categorias do entendimento e formula leis da natureza – por exemplo, “tudo o que acontece é sempre predeterminado por uma causa segundo leis constantes” –, que são juízos sintéticos a priori e, por isso, sempre universais e necessários. O múltiplo da intuição empírica é então pensado sob tais categorias e leis que o subordinam e sintetizam por uma ação do entendimento, a subsunção.
Em outras palavras, não é a experiência que torna possível os conceitos a que correspondem os objetos da física. Ao contrário, são os conceitos (puros do entendimento) que tornam possível toda a experiência. Propriamente falando, “experiência” não se refere à sensação causada quando a sensibilidade é afetada por um objeto, mas àquilo que se torna possível pelo entendimento, que é, por isso, seu autor. Do mesmo modo, “objeto da experiência” corresponde ao fenômeno – “o objeto indeterminado de uma intuição empírica” – que pode ser determinado e subsumido sob regras a priori e categorias do entendimento.
A possibilidade do conhecimento objetivo ou da objetividade do conhecimento é, portanto, dada pelo entendimento, que determina o campo da experiência possível e de seus objetos, cuja totalidade se chama natureza. A física é a ciência da natureza porque determina a priori seus próprios objetos, sobre os quais formula juízos universais e necessários.
Por tudo isso, o sujeito do conhecimento é legislador: ele torna possível a representação (no espaço e no tempo) do fenômeno; impõe, a este, determinações que o constituem como objeto da experiência, subsumindo-o a leis da natureza; e legitima o conhecimento desse objeto como universal e necessário. “A razão tem que ir à natureza”, diz Kant, “(...) não porém na qualidade de um aluno que se deixa ditar tudo o que o professor quer, mas na de um juiz nomeado que obriga as testemunhas a responder às perguntas que lhes propõe”. Também nesse sentido a razão é tribunal.

Ideias puras: simples ilusões
Mas se o objeto da experiência é apenas o que o sujeito constitui como tal, o que é, antes disso, o objeto em si mesmo? A resposta é impossível. Pois só se pode conhecer o que aparece ao sujeito como fenômeno, isto é, o múltiplo no espaço e tempo e que é subsumido sob categorias. A coisa em si – que Kant denomina númeno (do grego nounemon), em oposição a fenômeno – não pode ser conhecida, pois está escondida de toda a experiência possível.
Não seriam, no entanto, possíveis os juízos sintéticos a priori sobre a coisa em si? Essa é a pretensão da metafísica. E é o que ela faz, concebendo ideias que não se referem a nenhuma experiência. A capacidade de conceber ideias é a faculdade da razão propriamente dita, cuja ação é sintetizar as categorias do entendimento.
Para que as representações do entendimento sejam reunidas em uma unidade – pois sem isso não haveria síntese –, é preciso pressupor a condição de possibilidade de tal unidade, isto é, o sujeito do conhecimento. Mas qual seria a condição de possibilidade desse sujeito? Só poderia ser outro sujeito, mas já sem condições, um incondicionado, que subsiste em si e por si: uma substância, que a metafísica denomina alma. Ou então a causa – sob esse conceito, o entendimento liga um objeto a outro, possibilitando o conhecimento de um acontecimento; a partir disso, a razão concebe a série completa de causas e acontecimentos, isto é, o mundo. Finalmente, a razão também pode conceber uma condição incondicionada de todos os possíveis (alma ou mundo): Deus. Essas são as ideias puras da razão propriamente dita, e Kant as examina com minúncia na “Dialética Transcendental” de sua Crítica da Razão Pura.
Kant define a “dialética” como “uma lógica da ilusão”. De fato, a razão tem a “ilusão de tomar a possibilidade lógica do conceito (já que ele não se contradiz a si mesmo) pela possibilidade transcendental das coisas (...)”. É o que ocorre com a ideia metafísica de alma. O sujeito, que não se confunde com nenhum “eu” individual e empírico, é apenas a condição formal de conhecer algum objeto como substância, e, como tal, não pode ser substância. É forma (lógica) do conhecimento e não seu conteúdo; é sujeito transcendental.
Tal ilusão conduz também ao que Kant denomina “antinomias da razão pura”, em que os juízos se contradizem em teses e antíteses, sem que uma e outra apresentem falhas lógicas de raciocínio. Pode-se então afirmar racionalmente que o mundo tem um limite no espaço e no tempo, ou, ao contrário, que é ilimitado; que cada substância que o compõe reduz-se a partes simples, ou que tudo é composto; que nele há uma causa última sem causa – causa livre ou liberdade –, ou que o mundo é inteiramente regido por causas necessárias; que existe um ser absolutamente necessário como causa do mundo, ou que tal ser não existe. Do mesmo modo, todas as provas da existência de Deus enfrentam dificuldades semelhantes.
As ideias da razão são ilusões, pois pretendem transformar o transcendental em transcendente (aquilo que ultrapassa toda experiência possível). O transcendental – as formas da intuição (espaço e tempo) e do entendimento (categorias) – é apenas a forma da objetividade e não o próprio objeto; é vazio de conteúdo e nada significa em si. A ilusão da razão consiste em conferir a priori um significado a esse vazio, transformando-o em um objeto transcendente, fora do alcance da experiência possível. A metafísica, então, não é nem sequer falsa ou fictícia: é propriamente ilusão, esse vazio do não-conhecimento, que é produzido pelo uso legítimo dos conceitos. É por tal ilegitimidade que a metafísica deve ser condenada no tribunal da razão.
Mas, segundo Kant, “nossa capacidade cognitiva [de conhecimento] sente uma necessidade bem mais alta do que simplesmente soletrar fenômenos segundo uma unidade sintética para poder lê-los como experiência (...)”. Em outras palavras, o que deve ser condenado não são os metafísicos, que foram levados a conceber suas doutrinas por essa necessidade inerente à própria razão, mas o mau uso, ilegítimo, da razão, o que os levou à pretensão de constituir a metafísica como ciência.
As necessidades da razão, no entanto, não são necessariamente as do conhecimento, isto é, as de ordem teórica. Elas se situam antes na esfera da ordem prática, e a metafísica, no fundo, propõe certas regras morais. Por que então permanecer na ilusão da possibilidade de uma ciência, em vez de tomar as ideias da razão não mais como conhecimento, mas como ideias reguladoras da prática dos homens? “Crítica” também significa escolha: no caso, um novo ponto de vista para abordar a metafísica.
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Leonardo 04/01/2021

Denso e essencial.
Um bom livro de filosofia não é aquele que enfeita palavras com poesia e fácil entendimento. Um bom livro de filosofia é aquele que é poético por natureza, poético de tão objetivo e incompreensível. Denso e, considerando que epistemologia é obrigatória para quase tudo que se queira defender na filosofia, essencial.
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Masa 31/07/2011

Critica da Razão Pura

DISCIPLINA DE ATIVIDADES ACADEMICO-CIENTIFICO-CULTURAIS Licenciatura em Filosofia
Apresentado por determinação do
Centro Universitário Claretiano



INTRODUÇÃO


A Metafísica é real, no tocante a sua disposição natural, não movida pela vaidade de cunho humano, mas estimulada pela necessidade própria, a fim de tentar dar respostas a questões que parecem não ter soluções pelo uso empírico da razão. A metafísica nasce da necessidade humana de achar respostas para seus questionamentos e problemas.
Mas não se pode acomodar a aceitar contradições de uma ciência, sem questioná-las e procurar resultados mais evidentes e eficazes. Mas de que modo a metafísica é possível como ciência?
Todos nossos conhecimentos provem das experiências, pois nenhum conhecimento precede a experiência, mas antes começa por ela. Elas aguçam nossos sentidos à investigação, à procura de signos e representações, para que se possa selecioná-las, separá-las e classificá-las adequadamente.
A estes conhecimentos, denominados “a priori”, são diferentes dos a “a posteriori”, cuja origem é empírica, isto é, veio da experiência. Mas há também conhecimentos que derivam indiretamente da experiência e não podem ser tachados de conhecimentos “a priori”. Portanto, devemos considerar “a priori”, todo aquele adquirido independentemente de qualquer experiência. Estes se opõem diretamente aqueles considerados empíricos, que são “a posteriori”, adquiridos por meio da experiência.
Os conhecimentos “a priori” ainda podem dividir-se em puros e impuros. Denomina-se conhecimento “a priori” puro ao que carece completamente de qualquer empirismo.


A CRÍTICA DA RAZÃO CONDUZ A CIÊNCIA
A crítica da razão conduz a ciência, mas sem ter uma extensão excessiva, porque não se ocupa dos objetos da razão, mas simplesmente da própria razão, de problemas que são exclusivos dela, informações infundadas que podem ser contraditas por outras, conduzindo assim ao ceticismo. Mas a partir do momento que se deixa conhecer e se relacionar com outros objetos, pode-se determinar com segurança os limites dos exercícios e o intento de alcance fora de suas experiências.
Portanto todo intento para se tentar construir uma metafísica dogmática, é ineficaz, porque o que existe nele de analítico, esta em nossa razão, mas não é o fim total, mas sim um começo ou meio para estender nossos conhecimentos a priori. E somente a análise é incapaz de fazer isto, pois seria um reducionismo de conceitos. Pois não especifica como tais conceitos foram adquiridos a priori, tornando-se ineficiente seu emprego em todos objetos do conhecimento geral.
Não é de se causar estranheza, pois ao longo do tempo, o dogmatismo e suas contradições, causaram na Metafísica, somente descréditos.
Kant analisa a situação e diz que é necessário ter muita firmeza diante das dificuldades, pois tal ciência é indispensável à razão humana. Pois, mediante um novo método, diferente e oposto até o que então era empregado, pode tornar-se útil para um desenvolvimento fecundo.
O verdadeiro problema da razão esta contido na pergunta. Como são possíveis juízos sintéticos a priori?
A razão pura traz como problema, o aceitamento dos juízos sintéticos a priori. Kant apresenta como solução a uma Metafísica até aquele dado momento, vaga e cheia de incertezas e contradições , a possibilidade de uma analise dos problemas, e as diferenciações dos dos juízos analítico e sintético .
Kant credita uma situação de morte à Metafísica, senão houver uma postura de mudança para resolvê-los. Após conhecer David Hume, afirma que acordou do sono dogmático, ou seja, a partir de então, optou pela não aceitação passiva da idéia de que a realidade existe e pode ser conhecida plenamente. Mas, mesmo concordando com Hume, afirma que ele não foi original, analisando somente o sintético da relação a causa e efeito, pois este acreditou que poderia deduzir, algo impossível a priori. A Metafísica não poderia assim, ter simplesmente uma opinião racional, nascida do hábito, experiência ou necessidade.
Enquanto a Metafísica permaneceu vacilante a mudanças, permaneceu cheia de incertezas e contradições. David Hume foi o filósofo que mais se aproximou do problema, mas se deteve apenas na proposição sintética, da conexão efeitos-causas, e não cria que tal proposição pudesse também ser “a priori”. Para ele, se assim fosse, tudo que conhecemos como Metafísica cairia em descrédito. Se tivesse amplificado sua visão ao universo, veria que pelo seu argumento não poderia haver nem uma matemática pura, pois esta contém proposições sintéticas a priori, e provavelmente seria guiado pelo bom senso antes de afirmar tais conceitos.
A metafísica através da crítica da razão conduz a ciência, mas o uso dogmático da razão sem crítica conduz a afirmações infundadas que podem levar ao ceticismo. Esta ciência lida somente com a razão, propriamente dita, e não com os objetos da razão. Lida com problemas que são inatos da própria razão, e não aqueles propostos pela natureza das coisas. Lidar com a razão é aprender a conhecer verdadeiramente suas faculdades e seus limites.
Kant discursa sobre os insucessos em se tentar realizar somente uma metafísica dogmática. Pois seus conceitos não chegaram perto das verdades, pois fizeram uso somente de conceitos analíticos, sem se preocuparem em balizarem os dois conceitos, analíticos e sintéticos, a fim de obterem uma metafísica mais confiável. Faz-se necessário abandonar antigas suposições dos procedimentos dogmáticos e deixá-los passar por um crivo mais confiável. Kant afirma sua confiabilidade em uma nova ciência, mais próspera e indispensável a razão humana.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intenção de Kant, não é atacar a razão pura, mas mostrar suas limitações e dar esperanças a abertura das possibilidades de colocá-la acima dos conhecimentos impuros, que nos chegam através de canais deformantes dos sentidos. Razão pura significa o conhecimento que não vem através dos sentidos e independe da experiência sensorial, ou seja, o entendimento puro não se distingue somente de todo elemento empírico, mas, ainda, de toda sensibilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Kant, Immanuel, Crítica da razão Pura, trad.Valério Rohden e Udo Balgur Moosburger-Nova Cultural-1996-SP.
Apostila Claretiano-consulta
Durant, Will, Os grandes Filósofos-Tcnoprint Editora.






Marcos606 18/04/2023

Trata-se de uma filosofia crítica da faculdade da razão pura (independente de experiência) que analisa as possibilidades da metafísica, ou seja, da investigação da natureza do ser.

Através dos nossos sentidos percebemos o mundo exterior? O que podemos afirmar sobre ele, então. Se sim, afirmamos que nossos sentidos nos dão informações corretas a respeito desse mundo externo, mas isso quer dizer que o conhecemos? E se sim, qual a causa desse conhecimento? Seria então necessário tomar a existência das coisas por fé somente?

Kant tenta responder essas questões. Ele afirma que a causalidade é uma categoria conceitual que não deriva da experiência. Nossa mente é equipada com certas categorias que dão forma aquilo que nossos sentidos apreendem (Como o modelo de plástico aos cubos de gelo), E a matemática lida com formas a priori, tempo e espaço, que condicionam os sentidos.

A metafísica por tanto vai além do que podemos afirmar pela experiência dos sentidos. Não há, assim, possibilidade de afirmar certeza absoluta sobre a realidade das coisas. Restando somente suas possibilidades na moral e na estética.

Portanto, temos conhecimento apenas da aparência das coisas, de fenômenos, porque nossa mente molda a forma como entendemos o mundo, podemos dizer o que parece para nós, não o que realmente é. Porém as categorias da mente são universais, para Kant. Os processos mentais, comuns a todos.

A natureza parece ter ordem por que nossa mente estrutura as ideias abstratas percebidas pelos sentidos.
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Romeu Felix 15/02/2023

Fiz o fichamento sobre esta obra, a quem interessar:
"Crítica da Razão Pura" é uma obra clássica da filosofia, escrita por Immanuel Kant em 1781. O livro é um estudo sobre a razão humana e seus limites, apresentando uma análise rigorosa da possibilidade e dos limites do conhecimento humano. O autor explora questões como a possibilidade da metafísica e da ciência, as características e limitações da razão humana, e a relação entre a razão e a experiência.

Kant propõe uma distinção entre dois tipos de conhecimento: a priori e a posteriori. O conhecimento a priori é aquele que é independente da experiência, enquanto o conhecimento a posteriori é adquirido através da experiência. Segundo o autor, a matemática e a geometria são exemplos de conhecimento a priori, enquanto a física é um exemplo de conhecimento a posteriori.

A obra apresenta também a teoria das categorias, que são conceitos fundamentais que permitem ao sujeito organizar a experiência e compreender a realidade. As categorias são formas a priori do entendimento, que possibilitam a síntese do conhecimento a partir da diversidade dos dados sensoriais.

Kant desenvolve ainda a teoria da estética transcendental, que estuda a percepção sensorial e a forma como o ser humano percebe o mundo. A estética transcendental se divide em duas partes: a sensibilidade e o entendimento. A sensibilidade é responsável pela recepção dos dados sensoriais, enquanto o entendimento é responsável pela organização desses dados em conceitos e juízos.

Por fim, a obra aborda a questão da liberdade e da moralidade, e propõe a ideia de que a razão prática é autônoma em relação à razão teórica. Para Kant, a liberdade é um valor absoluto, e a moralidade deve ser baseada na razão prática, que é a capacidade de agir de acordo com a lei moral universal.

Conclusão:

"Crítica da Razão Pura" é uma obra fundamental da filosofia, que influenciou o pensamento de vários filósofos e teve impacto em várias áreas do conhecimento. O livro é uma análise rigorosa da razão humana e seus limites, e propõe uma distinção entre conhecimento a priori e a posteriori, além de apresentar a teoria das categorias e da estética transcendental. A obra também trata da questão da liberdade e da moralidade, e propõe a ideia de que a razão prática é autônoma em relação à razão teórica.
Por: Romeu Felix Menin Junior.
Leticia2513 14/02/2024minha estante
Ajudou muito esse fichamento




Soler 22/06/2020

Densidade pura
A busca da pureza através da complexidade, densidade das palavras. Alcançou o propósito no que foi possível, porque tem coisas que não é apenas pela razão que se considera razão, que se alcança. Com todo respeito a Kant. Ele era perfeccionista em sua vida, mas eu particularmente não acredito que esse é o caminho para Verdade. É bom, vale a pena ler. Mas não penso que a densidade seja sinal da compreensão. Pode ser um modo, mas chega uma hora, que me dou conta que há mais coisas envolvendo o raciocínio, o processo, a mente, e a realidade do que um olhar específico, mesmo destrinchando os significados no melhor que consegue na complexidade das palavras e seus significados e tentativa de harmonia. É a minha visão, alguém comum do século XXI. Recomendo a leitura mesmo assim. Entregue-se e pesquise as palavras que não souber. Sim, sempre vale muito a pena um mergulho filosófico real e verdadeiro na busca de algo específico.
Douglas 23/09/2020minha estante
Ótima resenha, Paulo. Esse livro é um dos maiores desafios para a filosofia




Kinos0 11/07/2023

É né
Me da muita tristeza ser obrigado a ler constantemente Kant na faculdade. Sua biografia acaba com metade da filosofia e mesmo assim lemos, descrevemos e elogiamos a grandeza da colonização.
Kyandi 11/07/2023minha estante
Recomenda algum livro dele? Queria ler pra ter repertório sociocultural...


Kinos0 14/07/2023minha estante
Metafísica dos costumes, mas toma cuidado com a ética desse demônio




Gabriel 16/09/2022

Crítica da razão pura - Immanuel Kant
"Crítica da razão pura", do filósofo moderno de bases iluministas Immanuel Kant, trata da natureza do conhecimento e as formas através das quais pode ser apreendido pelos sujeitos na condição de cognoscentes.
Kant afirma, em sua obra, que o conhecimento deriva tanto da experiência quanto da razão, ou seja, põe fim às discussões e debates entre racionalistas e empiristas ao constatar que o conhecimento é apreendido pelos sentidos e interpretado pela razão. Em adição, também fiz não ser possível conhecer coisas de natureza metafísica, como Deus.
Ademais, o filósofo desenvolve sua teoria do conhecimento através da ideia de juízos, formas de conhecer as coisas. Assim, há, para ele, juízos a priori (não dependem da experiência); juízos a posteriori (dependem da experiência); juízos analíticos (seguros que não adicionam novas coisas acerca do sujeito); juízos sintéticos (inseguros e que adicionam novas coisas acerca do sujeito) e, por fim, os juízos sintéticos a priori (possuem uma parte segura e outra insegura).
Uma leitura essencial para compreender Kant parte do pensamento moderno da filosofia, bem como o idealismo alemão.
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Fernando.Lovato 27/08/2020

Livro técnico para pesquisadores da área de epistemologia
Essa obra não é para leitores "comuns" e, sim, para pesquisadores da área de epistemologia que possuem os pré-requisitos para compreendê-la. Se você é uma pessoa que tem interesse em saber como os humanos podem ter conhecimentos e gostaria de ter contato com Kant, considerado por muitos um dos grandes gênios da humanidade, recomendo a leitura de comentadores da obra ou assistir palestras de professores especialistas na área.

--->Pontos positivos:
. qualidade das proposições
. contribuição para o avanço da humanidade na área de teoria do conhecimento
. subdivisões/quebra de textos adequadas

---> Pontos negativos:
. a obra possui vários pré-requisitos (estar familiarizado com o debate do campo epistemológico, possui destreza em leituras filosóficas, conhecer minimamente algo sobre a teoria kantiana). Caso você não possua os requisitos, será uma leitura que o deixará totalmente perdido e dificilmente você entenderá coisa alguma
. estilo de escrita. Pode ser que seja problema de tradução, porém a leitura é truncada e você pode perder-se com os N conceitos apresentados pelo autor.
. dificuldades em diferenciar quando o termo é um conceito do autor ou quando o termo está sendo usado no sentido chulo da língua.
. existem exemplos, porém não insuficientes. Exemplo: Explica 4 conceitos, dá exemplos apenas para um deles
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Erick 23/03/2021

sobre a filosofia crítica
A Crítica da Razão Pura possui uma tarefa bastante pontual na história da filosofia, a saber, demonstrar de modo sistemático e arquitetônico a constituição do conhecimento nos seus aspectos subjetivo e objetivo. Essa tarefa assume um caráter árido se atentarmos para a diversidade de opiniões que se debatiam na consecução da tarefa no limiar do século XVIII: desde o racionalismo clássico, que permaneceu presente no cenário alemão nas figuras de Leibniz e, principalmente, Wolff, para quem a importância da dedução lógica no encadeamento dos argumentos preconizava uma primazia do entendimento como faculdade primordial. Em oposição ao racionalismo, o empirismo inglês preconizava o que Kant denomina ‘fisiologia do entendimento’, quer dizer, concedia uma certa primazia aos sentidos, impressões e à experiência na formação dos conhecimentos. Locke depois Hume aparecem como grandes representantes dessa teoria do conhecimento.
Nesse sentido, a filosofia transcendental de Kant surge como uma reflexão sobre os pressupostos do conhecimento das coisas do mundo, ou melhor, como podemos obter um conhecimento que se reporte de modo a priori aos objetos da experiência. Desse modo, a filosofia crítica de Kant aparece como uma terceira via na reflexão sobre a possibilidade dos conhecimentos e, portanto, da própria ciência, que no século XVIII, assumia uma postura crítica em relação às demais esferas de valor da sociedade europeia – religião, política, arte etc. O esclarecimento desse período tem como uma de suas propriedades esse caráter crítico, que significa pôr o conhecimento científico pari passu aos demais saberes.
Para que a ciência seja erigida sob pressupostos sólidos, é preciso ir a fundo na tarefa de análise desses mesmos, o que significa adotar uma postura crítica tanto em relação ao idealismo quanto ao empirismo. Não se pode, por exemplo, considerar qualquer aspecto empírico, como faziam os físicos matemáticos, no tratamento de conceitos como o espaço e o tempo, assunto abordado na ‘Estética transcendental’. Como também não se pode deixar de considerar os aspectos puro e a priori das categorias do entendimento, tema da ‘Analítica transcendental’.
Ora, como garantir esse caráter puro e a priori das categorias do entendimento? Responder tal questão é uma das tarefas da “Dedução metafísica dos conceitos”. Essa questão carrega, como pano de fundo, o próprio fundamento da filosofia transcendental: como um conceito relaciona-se, de modo puro e a priori, aos objetos da experiência? Quais as condições de possibilidade dessa referência que garantem a validade objetiva dos conhecimentos?
Um conceito, para possuir um conteúdo, necessita possuir a propriedade de reportar-se a priori aos objetos da experiência possível, quer dizer, à intuição, na medida em que esta faculdade é responsável pela recepção do diverso das representações. Um conceito sem essa propriedade seria “apenas a forma lógica de um conceito, mas não o próprio conceito pelo qual algo seria pensado” (p.129). A realidade objetiva dos conceitos puros, portanto, reside nessa propriedade de reportar-se a uma experiência possível, embora eles mesmo nada possuam de empíricos, mas garantem a possibilidade da experiência. Ora, qual o fundamento dessa propriedade? Afinal, como um objeto da representação torna-se um conceito?
Para pensarmos tal questão, diz Kant, “devemos considerar as fontes subjetivas que constituem os fundamentos a priori da possibilidade da experiência na sua natureza transcendental” (p.133). É a tripla síntese que garante, desse modo, tais fundamentos a priori: a apreensão do diverso; a reprodução na imaginação; e a recognição no conceito. “Essas três sínteses nos conduzem às três fontes subjetivas do conhecimento que tornam possível o entendimento e, mediante este, toda a experiência considerada como um produto empírico do entendimento” (p.134).
Diz Kant: “A primeira coisa que tem de ser dada a priori, com vistas ao conhecimento de todos os objetos, é o diverso da intuição pura” (p.109). A apreensão do diverso está ligada a receptividade da sensibilidade e possibilita a formação das representações (ou seja, recepção do múltiplo); A dedução dos conceitos puros do entendimento apresenta tal condição formal nos seguintes termos: “Venham de onde vierem, nossas representações, como fenômenos, pertencem como modificações do espírito ao sentido interno, no qual devem ser conjuntamente ordenados, ligados e postos em relação” (p.135-36). Ora, apenas conseguimos ordenar representações que estejam no interior do tempo, assim como a ligação dessas mesmas representações ocorre na sucessividade dos instantes, das impressões. Ordenação, ligação e relação já são funções da síntese em contato com as formas puras da sensibilidade. Como já demonstrara Kant na “Estética transcendental”, tempo e espaço são formas puras da intuição ‘a priori’ e condições de possibilidade da experiência. Portanto, o sujeito transcendental apreende tudo no tempo.
O que aparece no mundo nos aparece como diverso, múltiplo e variado, sendo necessária essa apreensão, que é realizada pela intuição. O múltiplo da intuição recebido nas formas da sensibilidade pode ser percebido como múltiplo somente se um ato de síntese é adicionado à receptividade. Sem essa síntese da apreensão, os objetos nos apareceriam disformes, sem coerência, o que significa que nem mesmo em objetos de representação se constituiriam, mas apenas em aparições incompreensíveis para nossa cognição.
Ainda em relação a esse primeiro passo, é necessário garantir o caráter ‘a priori’ da apreensão, “isto é, relativamente às representações que não são empíricas”. Para que a síntese seja efetivamente pura, apenas tais elementos devem operar na constituição das categorias, pois são estas que possibilitarão a experiência conjuntamente às formas puras da sensibilidade.
O segundo passo da tripla síntese é a síntese desse diverso por meio da imaginação, que ainda não fornece um conhecimento. O múltiplo recebido deve ser ligado, representado numa imagem, já que o conhecimento é o todo das representações ligadas entre si de modo sistemático. Diz Kant: “deve haver qualquer coisa que torne possível esta reprodução dos fenômenos, servindo de princípio a priori a uma unidade sintética e necessária dos fenômenos” (p.139). De nada adiantaria a apreensão do diverso se este não pudesse ser reproduzido na imaginação, o que significa que são duas operações intrinsecamente associadas, pois, por exemplo, para que avancemos na contagem de um a dez, é necessário que passemos de unidade a unidade, acrescentando uma à outra num processo contínuo de reprodução. Não podemos esquecer no 4 que já passamos por 1,2 e 3, e assim por diante.
Kant diz que “a síntese reprodutiva da imaginação pertence aos atos transcendentais do espírito, pois ela exprime o princípio transcendental da possibilidade de todos os conhecimentos em geral” (p. 140-41). Se por um lado, a apreensão do diverso torna possível a síntese das representações na intuição, a síntese transcendental da imaginação torna possível a própria experiência, na medida em que as conexões na reprodução ligam as representações anteriormente apreendidas como múltiplo. Esta regularidade é fundamental na reprodução na imaginação, tanto nas ciências como no cotidiano. Um dos exemplos que Kant dá em relação a este último é “se uma certa palavra fosse atribuída ora a esta, ora àquela coisa, ou se precisamente a mesma coisa fosse designada ora de uma maneira, ora de outra” (p.138). Não seria possível a organização da linguagem numa gramática se apenas houvesse palavras equívocas. É necessária uma certa regularidade semântica para que qualquer sintaxe seja construída sobre ela.
Na terceira seção da dedução A, a imaginação aparece caracterizada como produtora e é denominada função transcendental da imaginação. Diz Kant: “A imaginação é, portanto, também uma faculdade de síntese a priori e é por isso que lhe damos o nome de imaginação produtora e, na medida em que, relativamente a todo o diverso do fenômeno, não tem outro fim que não seja a unidade necessária na síntese desse fenômeno” (p.165). Essa duplicidade da imaginação transcendental, que aparece ora como reprodutiva ora como produtiva é constitutiva dessa faculdade na sua característica de mediadora da intuição com o entendimento.
O que significa que a associação dos fenômenos na imaginação não é uma mera consequência do hábito ou da crença, como queria Hume, mas é uma necessidade sintética da faculdade transcendental da imaginação, que opera em intrínseca relação com a sensibilidade e suas formas puras – espaço e tempo – e com o entendimento e seus conceitos puros – as categorias.
O terceiro passo na síntese do conhecimento é o reconhecimento no conceito. Diz Kant: “Os conceitos que dão unidade a essa síntese pura, e que consistem tão somente na representação dessa unidade sintética necessária, constituem a terceira coisa necessária para o conhecimento de um objeto apresentado e residem no entendimento” (p.110). Isso devido ao fato de na sensibilidade os objetos serem intuídos como representações, e no entendimento eles serem pensados por meio dos conceitos. O conceito, portantoé a própria “consciência da unidade de um ato de síntese”.
É necessário notarmos o duplo sentido que a noção de “conceito” pode assumir na filosofia kantiana. Por um lado, o conceito é a consciência da unidade da síntese de um múltiplo sensível. Por outro, é um conceito discursivo, uma representação universal ou refletida de um ato de síntese que era comum a muitas representações particulares, e assim as tornava possível para nós reconhecê-las enquanto identidade genérica. Essa unidade imanente ao conceito seria impossível sem a unidade formal da própria consciência que sintetiza o diverso das representações e os reproduz numa imagem. De fato, essa unidade da regra é a garantia de que os nossos conhecimentos se constituem de maneira a priori, pois a relação de todo o conhecimento ao seu objeto comporta algo de necessário. Assim, ainda na dedução A, Kant recorre para um exemplo geométrico para enfatizar a importância da função de unidade realizada pelo conceito enquanto regra: “Pensamos um triângulo como objeto quando temos consciência da composição de três linhas rectas de acordo com uma regra, segundo a qual, uma tal intuição pode ser sempre representada. Ora, esta unidade da regra determina todo o diverso e limita-o a condições que tornam possível a unidade sintética da apercepção, e o conceito dessa unidade é a representação do objecto=X, que eu penso mediante predicados de um triângulo”(p. 145).
Para que conheçamos qualquer objeto em geral, é preciso não apenas que ele seja apreendido na intuição e reproduzido na imaginação, mas é necessário garantir a unidade desse objeto numa consciência una. Sem essa unidade conferida pela consciência “haveria no estado actual uma nova representação, que não pertenceria ao ato pelo qual devia ser, pouco a pouco, produzida e o diverso dessa representação não formaria um todo” (p.142). De fato, o que ocorreria nessa hipótese é que eu é que seria pensado pelas representações – a subjetividade seria um mero resultado do jogo das representações -, e não o inverso, eu pensando as representações através de minha consciência una. A reunião do múltiplo num conceito por meio das sínteses anteriores é que requer, para ser sintetizada, uma unidade originária, a apercepção transcendental; esta é “o princípio supremo de todo conhecimento”, que concede unidade ao conhecimento por meio da ligação das representações.
Ao abordar essa relação necessária entre os conceitos e objetos tratada acima, ainda no tópico sobre a recognição do conceito da dedução A, Kant diz: “o conceito de corpo, na percepção de algo exterior a nós, torna necessária a representação da extensão(…) Toda necessidade tem sempre por fundamento uma condição transcendental” (p.146). Tal condição formal da consciência é a unidade que garante todas as demais unidades conceituais, é a apercepção transcendental. Ainda no mesmo sentido: “Deve haver uma condição, que preceda toda experiência e torne essa mesma possível, a qual deve tornar válida um tal pressuposto transcendental” (p.147). A unidade dessa consciência deve preceder toda a intuição do múltiplo e mesmo é ela que garante a unidade do conceito, pois “mesmo a unidade objetiva mais pura, a dos conceitos a priori (espaço e tempo) só é possível pela relação das intuições a essa apercepção” (p.148). Ela é, portanto, condição de possibilidade de toda experiência e princípio máximo do conhecimento.
Esta consciência é considerada originária pois é pura e imutável, além de preceder todo caráter empírico das representações, e é transcendental pois condiciona toda a experiência possível. Diz Kant: “A consciência originária e necessária da identidade de si mesmo é, portanto, ao mesmo tempo, uma consciência de uma unidade, igualmente necessária, da síntese de todos os fenômenos segundo conceitos, isto é, segundo regras, que não só os tornam necessariamente reprodutíveis, mas determinam assim, também, um objeto à sua intuição, isto é, o conceito de qualquer coisa onde se encadeia necessariamente” (p.149).
A unidade transcendental da autoconsciência opera como condição objetiva para a constituição da representação “eu penso”, assim como designa a possibilidade dos conhecimentos a priori que dela se seguem. Diz Kant, na dedução B: “só porque posso ligar numa consciência um diverso de representações dadas, posso obter por mim próprio a representação da identidade da consciência nestas representações” (pp. 132-33). Quer dizer, é por conta da ligação do diverso das representações que posso pensar a própria identidade que me constitui como representação. O conceito de ligação inclui em si mesmo: a) o diverso das representações; b) a sua síntese; e c) a unidade originária sintética da apercepção. Essa noção da ligação como análoga ao ato de síntese, parece-nos, ficou mais explícita na dedução B, já que esta dedução transforma esta ligação num ato da espontaneidade do entendimento, e não mais exclusivamente uma síntese da imaginação transcendental.
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Luciano.Ribeiro 18/08/2017

Critica da razao pura.
Kant é um ótimo filosofo, mas um péssimo escritor. É genial como ele une o empirismo ao racionalismo, e mostra como nenhum pode existir sem o outro, e que nenhum é submisso ao outro, mas sim complementares um ao outro. O livro é ótimo, pelo conteúdo; mas, pelo menos na edição que eu li, é muito mal escrito, é carente de virgulas e há uma enrolação desnecessária que maquia o raciocínio; ou seja, não é claro, mas vale a pena ler. Talvez eu esteja sendo demasiadamente critico, em função de minha implicância com filósofos alemães, seu estilo de escrita me desagrada.

site: twitter.com/luceano
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Sunkey 13/04/2018

TENTANDO TRADUZIR A CRÍTICA DA RAZÃO PURA EM LINGUAGEM FÁCIL
Estou lendo a Crítica da Razão Pura e ainda meio perdido, estou tentando entender rs
Claro que eu discordo de Kant porque para mim a coisa em si e o Fenômeno são a mesma coisa, porque creio que Deus nos deu uma consciência que pode ver a realidade como ela realmente é em si mesma. Mas vamos lá. A Consciência seria como um grande processador dos materiais da experiência. Todo material sobre o qual o processador trabalha vem da experiência, mas as categorias do ''processador'' já estão lá antes da experiência (a priori). Ali está a Realidade, como teoricamente ela seria ''incognoscível'', não sabemos como é o material original. Daí essa ''coisa incognoscível'' é um material que vai ser processado, assim como quando você coloca as frutas no liquidificador. Daí, assim como uma fruta é processada, o material é processado. Primeiro, assim como a massa de um bolo se encaixa na forma de bolo e ganha um formato, esses ''materiais'' são encaixados numa forminha de espaço e de tempo (estética), já ganharam um formato rs, mas ainda precisam ser encaixados em outras formas ou categorias, como substância, que daí são vistas como ''coisas'' e tem a categoria de causalidade também, porque na realidade só tem dois eventos, tipo tem o ''fogo'' e a ''água'' que ferve, mas a ligação ''o fogo ferve a água'' é a Consciência que liga os pontos (Analítica/ na verdade, se a gente for parar pra pensar, o que o Kant está chamando de categorias são quase que as categorias de Aristóteles só que no sujeito ao invés do objeto). Enfim, tem algumas ideias que parecem ser inatas (?), mas isso eu ainda não entendi direito como funciona em Kant, como ''Deus'', ''alma'' e ''mundo''. Mas no final do ''processamento'' no liquidificador da Consciência precisa sair o suco, eis o ''fenômeno''. É isso que o Sujeito transcendental conhece. Como era o mundo antes de ser ''processado'', para Kant não tem como saber.
Eu entendi a diferença de ''a priori'' (antes da experiência) e ''a posteriori'' (depois da experiência) só não me peçam para esquematizar isso sobre os juízos agora rs Mas continuando, é mais fácil entender a diferença de Juízo Analítico de Juízo Sintético. Juízo Analítico é só uma ''decomposição'' do conceito, você não precisa sair dele, por exemplo, no próprio conceito de triângulo, já está ''contida'' a ideia de que um triângulo tem três lados, um juízo analítico, claro. Legal que ''análise'' é recortar, e é bem isso que o Juízo analítico faz, ele faz um ''corte'' no conceito, ele decompõem o conceito. Já o juízo sintético, é uma síntese, e o que é a síntese senão o resultado da soma de duas coisas. Então o Juízo sintético precisa ''somar'', ''acrescentar'' algo. Se eu disser ''O Triângulo é vermelho'', já acrescentei algo que está além, que não pode ser decomposto do conceito, é uma característica que foi ''somada'' a ele, por isso sintético.
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