Leilane 11/01/2017
Um livro de identificação e sensibilização, “O Livros dos Cachos” é para muitas brasileiras se sentirem empoderadas
A jornalista Sabrinah Giampá passou a vida escutando que cabelos lisos eram melhores e mais elegantes, e por muito tempo seguiu o que a maioria a sua volta dizia, fazendo toucas, escovas, chapinhas, alisamentos químicos etc. A mesma realidade de muitas mulheres brasileiras. Entretanto, entender os males que a cultura do liso trouxe fez com que tomasse a decisão de libertar seu cabelo e sua vida disso, começou a pesquisar sobre o assunto, criou o blog “Cachos e Fatos”, fez vários cursos de cabeleireiro, tornando-se cabeleireira especialista em ondulados, cachos e crespos e abriu o espaço “Garagem dos Cachos” para atender suas leitoras que não encontravam profissionais que realmente sabiam cuidar de seus cabelos. Em seu livro “O Livro dos Cachos”, Sabrinah conta sua história, apresenta várias técnicas para cuidados capilares, tipos de curvaturas, traz diversos depoimentos de pessoas que já sofreram algum tipo de preconceito por seus cabelos, desmitifica e desconstrói a cultura do liso obrigatório e empodera onduladas, cacheadas e crespas.
Em um dos eventos do Grupo Companhia das Letras, tive a oportunidade de saber sobre o lançamento deste livro. Eu não conhecia a autora ou seu site, mas queria muito lê-lo, pois eu havia feito a transição de cabelos quimicamente lisos de volta aos meus cacheados no ano anterior por conta própria e adorei que o selo Paralela estava abrindo seu catálogo para este tema.
Esta leitura foi daquelas que é identificação e sensibilização do começo ao fim. Quando a autora conta sua história e mostra os depoimentos de outras mulheres que sofreram preconceito por seus cabelos, que escutam constantemente que têm “cabelo ruim” e outras coisas ainda piores, fiquei emocionada com o quão pouco essa questão é abordada e o quão representativa é na sociedade brasileira. Eu sou cacheada e apesar de não ter sofrido tanta pressão familiar e social quanto essas mulheres sofreram ao longo de suas vidas, ela foi o suficiente para em determinado momento eu fazer um alisamento químico que usei por quase dez anos.
Vivemos em uma cultura que em grande parte vê beleza, elegância e sofisticação em cabelos lisos, sendo qualquer outro tipo associado a desleixo e feiura, gerando preconceito. Isso levou a indústria cosmética a investir em alisamentos e basicamente nada em técnicas e tratamentos corretos para cabelos não lisos. Felizmente, principalmente por demanda popular, isso tem mudado, há cada vez mais produtos específicos para cabelos ondulados, cacheados e crespos, que consideram faixa etária e tipos de curvatura. Levando em conta minha própria história, acho que foi a falta de produtos e o constante pensamento de que “cabelos cacheados dão trabalho” incutido em minha cabeça que me levou a alisar o meu quimicamente.
O tipo de alisamento que eu usava esticava meu fio de modo que ele não voltava a ter curvatura. Só requeria que eu retocasse minha raiz de tempos em tempos já que o cabelo cresce e o meu crescia bem rápido. Com o tempo, comecei a ficar de saco cheio deste procedimento, meu cabelo crescia tão rápido que parecia que ele queria se libertar daquilo, então sem fazer muitas pesquisas sobre o assunto, deixei minha raiz crescer bastante e comecei meus cortes. Eu tinha o cabelo super comprido, fui para um corte nos ombros, em quatro meses fiz um corte que já mostrava meus cachos e um mês depois fiz o último corte que me livrou totalmente dos cabelos lisos quimicamente em abril de 2015.
Atualmente, meu cabelo está bem mais comprido e foi muito importante para mim esta leitura de “O Livro dos Cachos”, pois eu ainda não tinha aprendido totalmente a cuidar do meu cabelo. Agora sei que o tipo de curvatura do meu cabelo é 2C – Ondulado Cacheado –, quais componentes químicos de produtos devo excluir totalmente do meu uso diário e as melhores técnicas para deixar meus cabelos bonitos e saudáveis.
Em suma, a leitura é deliciosa e impactante, ajuda muito quem tem cabelos ondulados, cacheados e crespos não só para saber como cuidá-los, mas também por empoderar todas as pessoas que já sofreram algum tipo de preconceito pelo tipo de cabelo que tem. E lembrem-se: não existe cabelo errado, existe o seu e a sua liberdade de escolha para fazer o que bem entender com ele, sem pressão para que se ajuste a um molde que você não deseja. Todos os cabelos são lindos! Aliás, como a própria autora escreve: “Somos todas lindas! Alguém duvida?” Eu não duvido nenhum pouco!
site: http://lerimaginar.com.br/blog/2017/01/um-livro-de-identificacao-e-sensibilizacao-o-livros-dos-cachos-e-para-todas-as-brasileiras-se-sentirem-empoderadas/